Clio0 21/03/2021
Era uma vez uma editora universitária que se aproximou de um historiador e lhe perguntou se seria possível escrever sobre a história brasileira com foco para o Ensino Médio (na época, colegial). O historiador aceitou o desafio e lhe trouxe uma versão (extremamente condensada) em três volumes. A editora sorriu e pediu uma diminuição. O historiador fez das tripas coração e assim surgiu História do Brasil de Boris Fausto.
A edição da Edusp contém sumário, cronologia histórica, glossário biográfico, índice onomástico, referências bibliográficas, tabelas, fotos, e tudo o mais que faz desse volume uma apresentação do que o estudante terá contato em seu primeiro ano de faculdade.
Obviamente, como livro didático não é exatamente sua intenção tecer grandes discussões acerca das controversas interpretações da complexa história do país. Ainda assim, ele não se furta a apresentar pensamentos historiográficos vigentes e, as vezes, divergentes.
O estilo de escrita é fluído e tudo é organizado no sentido de facilitar os estudos. O autor faz uso de várias classificações e nomes correntes na educação, mas não é sua proposta virar um "resumão" e vários acontecimentos destrinchados nas apostilas escolares podem ser apenas levemente mencionados durante a exposição de sua noção de progressão histórica.
O livro pende pesadamente para a história política com viés econômico. Isso pode gerar críticas quanto a sua referência relativamente modesta a história social e outras escolas, além da preponderância do centro-sul no escrito. Mas vale lembrar novamente, são quinhentos anos de história sendo abarcados em meras setecentas páginas. Cortes, sínteses e abreviações são esperados.
De uma forma mais explícita para os interessados, o livro não abarca o período Pré-Colonial e faz apenas uma consideração sobre os governos pós-ditadura militar (1980-1990). Como foi publicado pela primeira vez em 1993, temos alguns novos fatos sobre os acontecimentos analisados, é claro, isso não diminui em nada a qualidade e relevância da obra.
De fato, eu pessoalmente gostaria de chamar a atenção para a crítica que Boris Fausto faz a insistência brazuca em generalizar conceitos para tachar desenvolvimentos atuais. Sim, essa tendência ao uso indiscriminado de termos, muitas vezes obsoletos ou anacrônicos, é de longa data.
Enfim, recomendo.