Clarisse 16/01/2017ClarissaÉ um romance simples e bonito, escrito de forma bastante poética. Clarissa é uma menina do interior, que para estudar, vai para a cidade morar na pensão da tia D. Zina e do tio Couto. A tia é rígida, mas não por ser má, apenas não quer que a sobrinha fique em más companhias. Por isso, muitas vezes, Clarissa sente-se solitária. Para se distrair ela vai visitar o vizinho Tônico, que perdeu uma perna e vive preso a sua cadeira de rodas, sonhando em ser soldado. A menina, também se entretém brincado no jardim florido e observando o pessoal da pensão. Quem mais lhe chama a atenção é o Seu Amaro, homem solitário, que não conversa com ninguém. Só gosta de brincar em seu piano e ler seus livros. Clarissa não sabe, porém, que ele também gosta de observa-la. Atualmente, Amaro, poderia ser julgado como pedófilo, embora eu não saiba dizer se a intenção de Érico era enunciar um amor platônico entre os dois, ou apenas demonstrar a admiração poética de Amaro pela mocidade de Clarissa.
"Clarissa é parte integrante deste jardim florido e luminoso, Clarissa é como a relva veludosa, como as glicínias, como as margaridas, como as rosas. Clarissa é qualquer coisa de agreste e puro. Clarissa é música e é poesia, menina e moça - olhos abertos para o mistério da vida, alma que amanhece."
Com certo pesar, Amaro pensa no futuro de Clarissa:
"A hora rútila de Clarissa passará também. Amanhã ela se fará mulher de todo. Professora, irá para a sua cidade natal, onde decerto casará com o filho dum fazendeiro rico. Serão muito felizes, terão muitos pimpolhos gordos. Clarissa ganhará fartas carnes, ficará como a tia, será uma esplêndida dona de casa, que há de saber fazer gostosos doces, e queijos, e bolinhos ..."
Monótona é a vida de Clarissa: ir a Escola, brincar, estudar, ir a missa. Apesar disso, a menina se deslumbra com tudo o que vê, se questiona e filosofa consigo mesma sobre as belezas e mazelas do mundo. Por exemplo, ao contemplar a noite, ela reflete:
"Parece-lhe que o luar tem um perfume todo especial. Se ela pudesse pegar o luar, fechá-lo na palma da mão, guardá-lo numa caixinha ou no fundo duma gaveta para soltá-lo nas
noites escuras ... Como é bonito o luar!" e durante os estudos ela se pergunta: "Existe um cabo que se chama Finisterra. Mas se não existisse, os jacarandás não estariam floridos do mesmo jeito?" Em trechos como este a inocência de Clarissa me faz lembrar O Pequeno Príncipe. E são essas partes que dão beleza a leitura.
No desenvolver do livro, Clarissa amadurece, faz quatorze anos, vive experiências inéditas e passa a ver o mundo por uma nova perspectiva e quando ela volta para fazenda dos pais passar as férias, já não é mais a menininha que havia partido.
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