Cíntia T. 29/08/2020"A arte existe para que a verdade não nos destrua"É ao mesmo tempo cócegas e alfinetada na consciência.
"Artigos" dentro da história falam sobre como os estadunidenses foram ensinados a se odiarem, feitos dentro de uma pobreza, não só material como social, e propagam o ódio ao pobre, mesmo sendo mais um. E eles vêm de encontro a uma expressão social muito martelada em nossas vidas: o único "crime" cometido pela maioria foi e é meramente o fato de ser pobre.
Foi preciso reduzir a experiência da guerra a uma coisa ficticiosamente absurda, mas no fundo é assim mesmo. E não deveria ser. O autor nos fornece uma crítica muito rica em humor, criatividade e abstração. Essa combinação foi tão boa que tudo é palpável e nos atinge. Há crítica ao patriotismo, à estrutura patriarcal e capitalista, à objetificação da mulher, à banalização da morte talvez, entre outras coisinhas. De uma forma sutil, sem dramas, sem glamour, mas de uma forma muito "natural", mesmo com viagens constantes no tempo e um passeio intergaláctico. É assim mesmo.
A sociedade tem tantos absurdos naturalizados, que uma cultura alienígena no meio e uma flexibilidade espaço-temporal foi mais digesta pro Kurt expressar sua vivência na Segunda Guerra Mundial.
Aprendi muita coisa e ganhei perspectivas completamente distintas das que tive até então a respeito dessa grande e infeliz Guerra. Com toda certeza é um estilo excepcional, artístico e de irreverente senso crítico. Escrever é uma arte. E carrego comigo um ditado de Nietzsche sobre arte, em que ele diz que ela existe para que a verdade não nos destrua.
Então, Kurt dominava a arte de escrever e era artista. E ele era um sobrevivente, ao lê-lo a gente entende o peso disso.