Cultura

Cultura Roque de Barros Laraia




Resenhas - Cultura: um conceito antropológico


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lucas.eugenio.3 06/12/2014

dD\
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Tauana Mariana 05/10/2014

ótimo!
Laraia (2014, p. 19) explica-nos a noção de cultura através da visão dos antropólogos, elucidando questões importantes para a compreensão desta. O primeiro esclarecimento sobre a cultura é compreender que esta não é determinada geneticamente, pois o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado. Em outras palavras, isso significa que o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. As diferenças geográficas estabelecidas pelos limites de ambientes físicos também não são fatores que condicionam diferenças culturais, obrigatoriamente. É perfeitamente possível existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. Laraia (2014, p. 52) lembra-nos que a comunicação é um processo cultural. Mais explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral.

Entre muitas outras coisas.
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Rafael.Giuliano 25/06/2014

Cultura - Um conceito antropológico, porém, também para não antropólogos.
Olá,

Engraçado, quando concluí a leitura deste livro as viagens de trabalho e a urgência na entrega de uma série de tarefas não me permitiu refletir sobre uma resenha que pudesse compartilhar, até que, hoje, fui questionado por um dos leitores de minha coluna "Um Sociólogo em Marte".

O leitor em questão comentou sua leitura do texto "Inimigos Invisíveis", e me pediu a indicação de algum livro em que pudesse aprofundar sua reflexão sobre a maneira como nós criamos inimigos que não existem, apenas pela forma como damos significados distintos nas interpretações dos sinais a nossa volta, emitidos por outras pessoas.

Percorri os olhos na estante atrás de mim, em busca de alguma referência, algo que não fosse tão complexo quanto Paul Watzlawick e sua "Pragmática da Comunicação Humana", então percebi, silencioso no canto da prateleira, o livro de Laraia.

"Cultura - Um conceito antropológico" é muito mais do que um livro introdutório, pois traz um texto que se assemelha a um convite, pois, de fato, convida o leitor, especialista ou não, a compreender as dimensões do conceito de cultura, abrindo sua mente para a importância de se relativizar as percepções, desafiando o indivíduo a se colocar no lugar do outro para então o compreender.

A primeira parte do livro, que vai até o capítulo 6, na página 59, apresenta uma série de conceitos, porém, contextualizados numa abordagem quase dialógica. Mas é na segunda parte que o texto ganha ainda mais vivacidade para os não iniciados, academicamente, no conceito aplicado de cultura e nas diversas formas de a perceber.

Indico este livro para quem é, ou deseja ser, especialista, antropólogo ou sociólogo, e também para quem interaja com pessoas, seja no ambiente de trabalho ou no convívio social, e que deseje compreender melhor estas relações.

Mesmo com as referências academicistas e as relações com grupos sociais que parecem não fazer parte de nossa realidade urbana e "pós-moderna", o leitor irá se deparar com exemplos e situações facilmente relacionáveis com nosso cotidiano, e novas perspectivas para compreender ações e reações.


Boa leitura,
Rafael Giuliano

site: http://apreciato.com.br/index.php/filosofia-apreciativa-sociologia-organizacao-comportamento/129-inimigos-invisiveis
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Leitor da Montanha 23/04/2014

Para iniciantes
O livro é uma introdução prática e didática sobre o conceito de cultura segundo a Antropologia. Descreve a historicidade do conceito e busca definir um sentido para o termo. Livro agradável que não é um manual, mas sim uma apresentação de um tema tão cativante.
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Tiago 22/04/2013

Muito estimulante! Refleti muito com esse livro, me fez desejar aprofundar o tema, o que com toda certeza farei.
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isa 22/04/2013

Cultura
Ninguém melhor do que Laraia pra falar sobre cultura!
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SilDT 29/03/2013

Cultura versus Natureza?
Como Lévi-Strauss, Laraia reafirma a existência de diversidade de modos de comportamento entre diferentes povos, citando os mais variados exemplos, dentre eles as preferências de alimentação, as proibições de uso de objetos, alguns costumes (formas de se realizar o parto de mulheres grávidas) e regras que são estabelecidas de acordo com gênero sexual ou idade (como o ato de votar que só é permitido a indivíduos acima de 16 anos). Até mesmo o riso é colocado em xeque, como atribuído de diferentes sentidos para cada sociedade. E acho que além disso, seu texto explora questões salientes que não estão expressas em Lévi-Strauss. Na parte II, “Como Opera a Cultura”, é revelado como a cultura interfere no plano biológico (fé ou crenças levando sujeitos a adoecerem e até morrerem, como é o caso do Banzo, o suícidio ou morte por coletividade). Também é dito que todos os indivíduos participam diferentemente de sua cultura, que nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura mas que para operar dentro do sistema, é necessário ter um conhecimento mínimo dela. Outra assertiva é a de que a cultura tem uma lógica própria, ou seja, que qualquer hábito cultural será coerente somente se analisado a partir do sistema a que pertence. Aqui aparecem os exemplos de porquê para algumas tribos indígenas os filhos só são considerados filhos do pai ou da mãe. Finalizando, faz-se menção à cultura ser dinâmica, analisando alguns processos de modificação constante nas culturas, como por exemplo, alteração dos padrões de beleza dentro de uma mesma cultura (troca de vestimentas em curto prazo de tempo).
Enfim, avalio as reflexões deste livro de Laraia como excelentes, que exceto pela crítica a seguir, teriam todo mérito e crédito. Fazendo-se uma leitura desapressada, daquelas em que não se aceita de imediato o que está sendo dito para poder não ser ‘contagiado’ pelo que está implícito, e para posteriormente poder fazer a reflexão a partir também de outros parâmetros, é possível encerrar a leitura com alguns questionamentos.

É perceptível que inicialmente Laraia narra a história de constituição do conceito de cultura, explicando-o por algumas idéias precursoras de Edward Tylor e de Kroeber. Discorre-se sobre como o conceito de cultura foi formado, como sua idéia se construiu em contraposição ao biológico, à natureza. A tese central da bibliografia é apontar que não há um determinismo biológico que influencia as ações humanas, que há sim um determinismo geográfico (as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural, determinam os comportamentos), é enfatizar o caráter de que a cultura é aprendida, para opor e fazer frente à idéia dos comportamentos adquiridos de modo inato ou por transmissão biológica.
Como psicóloga, concordo que o homem é, em grande parte, o resultado do meio cultural em que foi socializado. Com isto quer se corroborar a afirmativa de que é inegável que o homem age de acordo com sua cultura, de acordo com o que aprendeu em sua história de vida particular, inserido num grupo. E entendo que essa contraposição da cultura à natureza na época foi necessária para não deixar que um biologicismo imperasse. Contudo e todavida, se Kroeber queria evitar a confusão entre orgânico e cultural, será que ao distanciar o homem do animal, ao invés de relativizar aquilo que determina o comportamento, ele não acaba exacerbando o lado cultural do homem em detrimento do lado biológico? Porque para a cultura ser ressaltada como importante é preciso, como foi dito, achar que os instintos foram suprimidos?
Essas perguntas me ocorrem porque atualmente está em voga, de certa maneira, um discurso pró ao retorno da ligação do homem com a natureza. Ou melhor, há também a interpretação de que nem houve esse grande afastamento suposto, fruto de uma ilusão. Adicionarei aqui uma outra perspectiva de relação da constituição do homem com a natureza, a qual visualiza não que o homem ‘libertou-se’ da natureza (como se estivesse antes escravo desta) e sim que ainda está totalmente integrado com esta. Os que acreditam que o homem transformou toda a Terra em seu habitat baseiam-se no raciocínio de um homem de fora, que se apodera de algo que lhe é inimigo, a natureza, para dominá-la. Mas esta não é a única forma de pensamento.
Já houve uma ruptura do biologicismo e do antropologismo após os anos de 1950. Até essa época, o homem era majoritariamente definido como o oposto do animal, e a cultura também era concebida como oposta à natureza. A ciência biológica considerava a vida como uma qualidade original própria dos organismos, e mantinha-se fechada perante os fenômenos sociais, perante a realidade físico-quimica, perante a cultura e a comunicação humana. Homem e cultura, vida e natureza, matérias físico-quimicas eram estratos sobrepostos e não comunicantes. Entretanto “é evidente que o homem não é constituído por duas camadas sobrepostas, uma natural e uma psicossocial... É evidente que cada homem é uma totalidade biopsicossociológica”.
De acordo com o sociólogo Edgar Morin, os seres humanos possuem duas naturezas co-relacionadas. A primeira é a natureza biológica, pois antes de ser cultural, todo ser humano é um organismo vivo, físico, químico e biológico. Porque ele adveio da Terra, tendo retirado todos seus átomos do universo. Em segundo lugar, pois foi com a evolução histórica que isso se deu, o homem passou a ter uma segunda natureza, a natureza cultural, que está imbricada na primeira. Este autor explica que os sujeitos humanos são naturalmente culturais e culturalmente naturais. Como assim? Existe uma tendência natural para o desenvolvimento da cultura e existe uma aptidão cultural para desenvolver a natureza humana. O homem está disposto a ser cultural e a cultura está disposta a desenvolver o homem. “O homem é um ser cultural por natureza, por ser um ser natural por cultura”. Ou seja, a natureza humana, a suposta normalidade esperada do homem, é que ele seja um ser cultural, porque a cultura dispõe essa natureza a ele e ele a aceita inevitavelmente, corroborando a existência do vínculo cultura-natureza. Então a cultura só pode existir juntamente com e depois dos traços biológicos do homem.
Existe uma evolução natural e uma evolução cultural, relacionadas dialeticamente. A primeira desenvolve a cultura, e a segunda empurra o homem a desenvolver seu cérebro, a transformar-se cada vez mais em homem, mantendo assim o vínculo da cultura com a natureza.
Portanto, é possível articular o lado biológico e antropológico do ser. Ademais, o homem teve diversos nascimentos, ou seja, não criou-se de imediato, e ele não pode ser conhecido diretamente, de apenas algumas maneiras, ou separadamente, apenas pela maneira biológica, ou pela maneira histórica, pela maneira social cultural e antropológica, como habitualmente se faz. Morin propõe uma leitura do humano que religa todos estes fatores e demonstra que há uma identidade terrena do homem com o planeta físico que ele habita, e com o qual ele faz um pacto de existência – um não existe sem a existência viva do outro. É da biologia que o homem retira sua condição de vertebrado, supermamífero, superprimata. Muitos dos comportamentos ainda são explicados porque ele faz parte destas categorias primeiramente naturais ou biológicas.
E com essa afirmação, de que o ser humano passa a ser um ser ‘cultural por natureza e natural por cultura’, relembra-se que ele precisa e continua sendo ainda um animal (organismo biológico, animado por uma vida, com características impulsivo-biológicas, agressivas e pulsionais). Nossa identidade animal foi mascarada pela civilização ocidental, esta a qual muitas vezes esquece de considerá-la: pensa que as loucuras, as irracionalidades, os crimes e principalmente os mais descomedidos como genocídios, parrícidios e filicídios são inumanos, atos não pertencentes à natureza do homem. Mas esta mesma civilização está deixando de acreditar que é senhora e dona da Terra, manipuladora e conquistadora do cosmo, totalmente afastadas de suas condições física, animal e biológica, para assumir seu laço indissociável com a biosfera, sem a qual não pode viver.
Finalizando, em tudo que é humano, existem diversos componentes: subjetivos, culturais, biológicos, etc. Um beijo, para exemplo simples e emblemático, engloba um desejo individual de uma pessoa, uma necessidade biológica do corpo (desenvolvida com os animais mamíferos, ao sugar e sentir conforto no encostar de seus lábios ao corpo dos progenitores) e uma prática culturalmente mantida e ensinada.
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Héber 08/03/2013

Afinal de contas, o que é Cultura?
O autor divide seu livro em duas partes sendo primeira delas (Da Natureza da Cultura ou Da Natureza à Cultura) é mais teórica uma vez que ele aborda o desenvolvimento que o conceito de cultura sofreu ao longo dos anos. A segunda parte (Como Opera a Cultura) aborda é mais prática evidenciando como as diferentes culturas influenciam o comportamento social e diferenciam toda a humanidade entre si.
No primeiro e no segundo capítulo do livro Roque Laraia desmistifica antigas formas de explicar os diferentes padrões culturais da humanidade. Inicialmente ele aborda o “Determinismo Biológico” que afirma que a composição física e biológica do homem era o motivo pelo qual eles agiam do modo que agiam. Ele derruba essa ideia com um simples exemplo da divisão sexual do trabalho mostrando que essa relação é diferenciada de cultura pra cultura, embora todas tenham a presença de homens e mulheres. Em seguida ele trata do “Determinismo Geográfico” que o meio em que uma sociedade se encontra determina a maneira como ela vai agir. Mais uma vez ele derruba essa teoria mostrando exemplos de vários povos que compartilham um mesmo ambiente geográfico, mas tem hábitos distintos.
No capítulo 3 o autor trata de como o conceito de cultura começou a ser pensado. Laraia menciona vários nomes que se destacam por serem os primeiros a fazer isso, tais como Edward Tylor, que foi o primeiro a formular um conceito para o termo “cultura”; John Locke, que começou a pensar em nível de relativismo cultural; Jean-Jacques Rousseau que acreditava que a educação era o fator determinante para a existência da cultura entre os homens; e por fim Alfred Kroeber que eliminou de vez o determinismo biológico como o motivo principal para definir a cultura de uma sociedade.
No capítulo 4, possivelmente o mais longo do livro, Laraia trabalha o desenvolvimento do conceito de cultura ao longo dos anos. O grande fato que podemos destacar deste capítulo é a maneira como a academia passou a enxergar as raças humanas. Agora todas as raças eram consideradas realmente humanas. Podemos perceber isso na elaboração de Tylor sobre o conceito de cultura: “a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações pode ser atribuída em grande parte a uma uniformidade de ação de causas uniformes” (p.30). Isso vai de encontro ao pensamento colonialista de que o negro e o índio não poderiam ser considerados humanos. Tylor assume que existia sim, uma uniformidade de comportamentos sociais em todas as raças. Ao enfatizar esse ponto Roque Laraia afirma que “mais do que preocupado com a diversidade cultural Tylor preocupa-se com a igualdade existente na humanidade”.
Apesar de todas essas formulações serem baseadas na teoria evolucionista não podemos descartá-las por completo. Devemos dar o crédito que merecem, pois homens como Tylor foram acadêmicos que romperam com a mentalidade da época, trazendo igualdade a todas as raças humanas. É certo que eles acreditavam que a diversidade cultural acontecia porque algumas sociedades estavam mais adiantadas no estágio da evolução, mas reconheciam que sua própria sociedade europeia havia passado por esse estágio e com essa mentalidade igualavam todas as sociedades como sociedades humanas.
Franz Boas começa a mudar a essa mentalidade acadêmica reconhecendo que todas as sociedades não podem ter o mesmo padrão para serem avaliadas. Pelo contrário, “cada cultura segue seus próprios caminhos em função dos diferentes eventos históricos que enfrentou.” (p.36). Com isso ele funda a Escola Cultural Americana com o particularismo histórico.
No capítulo 5 é enfatizado o surgimento da cultura entre a humanidade. A base principal de argumentação do autor é o evolucionismo. Segundo ele a cultura surgiu quando o cérebro do homem primata se evoluiu e passou a ser cérebro pensante. David Pilbeam e Kenneth Oakley defendem que a partir do momento em que o homem se portou ereto sobre dois pés ele teve uma nova perspectiva de visão, sendo isso o fator determinante para ter cultura. Para Lévi-Strauss a cultura se deu quando o homem formulou a primeira regra (nesse caso o incesto, proibição comum a todas as sociedades). Ao formularem esta regra todos os homens deveriam respeitá-la tornando-os, portanto, possuidores de cultura. Leslie White diz que o deu cultura aos homens foi sua habilidade de criar símbolos aos quais eles poderiam atribuir significados. Ao finalizar sua exposição sobre esse tema o autor menciona a tese de Geertz que diz que “a maior parte do crescimento cortical humano foi posterior e não anterior ao início da cultura”, ou seja, à medida em que o homem passa desenvolver níveis complexos de cultura, mais seu cérebro se desenvolvia. Laraia conclui que o homem não é somente aquele que gera a cultura, mas ele é o produto de sua cultura.
O capítulo 6 utiliza o artigo “Theories of Culture” de Roger Keesing como base para descrever os conceitos mais recentes do termo cultura. O autor do artigo destaca dois tipos de abordagens do conceito de cultura: cultura como um sistema adaptativo e teorias idealistas de cultura. Estas teorias idealistas se dividem em três abordagens principais. São elas:
 Cultura como sistema cognitivo: é um sistema onde o indivíduo adquire o conhecimento necessário sobre como opera a sua cultura. Só com posse desse conhecimento ele será aceito pela sociedade.
 Cultura como sistema estrutural: defendido por Lévi-Strauss essa abordagem mostra que a sociedade e as regras que a regem são compostas por diversas estruturas diferentes, nem sempre fáceis de identificar.
 Cultura como sistema simbólico: representada por Clifford Geertz essa abordagem afirma que, ao chegar em uma cultura, o indivíduo está apto para viver mil vidas pois está aberto para aprender novos comportamentos sociais.
Roque Laraia inicia a segunda parte de seu livro com uma das ilustrações mais acertadas para descrever termo cultura, criada por Ruth Benedict: “a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.” (p.67). No início desta segunda parte ele nos mostra como a Cultura determina a cosmovisão do indivíduo que a compõe. Todos os valores e crenças de uma pessoa serão determinados pela cultura na qual ela está inserida. Assim sendo, não é difícil de imagina que, no contato interétnico, essa pessoa ache sua própria cultura melhor que a do outro. Para o autor, o etnocentrismo ocorre quando um indivíduo vê outra cultura com as lentes de sua própria cultura colocando-se acima do outro. E este é um fato notado em todas as sociedades humanas. Para evitar o etnocentrismo é preciso se aprofundar na cosmovisão do outro para entender o motivo de ele agir da maneira que age. “O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo.” (p.73)
Um assunto interessante que o autor aborda é a questão do envolvimento do indivíduo na sua sociedade. Não é possível que uma única pessoa conheça todos os aspectos possíveis da sua comunidade, ninguém é capaz de tal coisa. O indivíduo precisa sim de um conhecimento mínimo dos padrões de sua sociedade para se relacionar adequadamente dentro dela. Com posse desse conhecimento mínimo ele vai saber não só agir adequadamente, mas também aprenderá a prever as reações positivas ou coercivas da cultura. Esse é um fato que possivelmente não percebemos em nossa sociedade, mas cobramos das pessoas de outras sociedades. Nós enquanto pesquisadores, exigimos que o nosso informante tenha conhecimentos completos da sua cultura para fazermos uma boa pesquisa. Antes de olhar para a cultura do outro precisamos olhar para a nossa.
Roque Laraia intitula o capítulo 4 da segunda parte de “A Cultura tem uma lógica interna”. A princípio é possível confundir os argumentos deste capítulo com aqueles utilizados no capítulo 1, também da segunda parte: “A Cultura condiciona a visão de mundo do homem”. No entanto no capítulo 4 ele está mais preocupado mostrar que cada cultura apresenta explicações plausíveis para eventos do cotidiano do que em explicar a cosmovisão de cada povo. E é essa lógica interna que fornece os arcabouços para essas explicações. “as explicações encontradas pelos membros das diversas sociedades humanas são lógicas e encontram a sua coerência dentro do próprio sistema.” (p.91). Por isso devemos procurar conhecer essa a lógica interna quando chegamos a uma cultura diferente porque só conseguiremos entender as práticas daquela cultura se a observarmos do ponto de vista êmico. O autor diz que “nem sempre as relações de causa e efeito são percebidas da mesma maneira por homens de culturas diferentes.” (p.89). Ao usar a nossa cosmovisão para explicar o mundo do outro incorreremos no etnocentrismo.
Laraia não poderia deixar de concluir seu livro desmistificando um dos maiores mitos em relação às sociedades simples: as culturas são estáticas, os povos nunca mudam. Essa teoria popular é comum pelo fato das sociedades simples serem menos tendenciosas à mudança. O motivo é porque elas estão muito satisfeitas com sua cultura, mas isso não quer dizer que essas mudanças não ocorram.
Existem dois tipos de mudanças culturais que podem ocorrer em uma sociedade. A mudança interna é ocorre lentamente sendo motivada pelo interesse da própria sociedade que decide mudar seu padrão de comportamento para melhor se adaptar ao meio em que vivem. O outro tipo de mudança é mais brusca e ocorre principalmente pelo contato interétnico. O autor menciona que foi através do estudo desse tipo de contato que surgiu o termo “aculturação”. Sabemos, entretanto, que esse termo já não é mais visto como apropriado pelas ciências sociais de hoje, acredito que Laraia poderia ter aprofundado mais na explanação desse conceito mostrando o motivo por não ser mais utilizado pela antropologia atual.
Laraia ainda comenta que essas mudanças culturais causam desconforto para os diversos indivíduos de uma mesma sociedade. Ele cita o exemplo do conflito de gerações onde os filhos já não têm mais o mesmo conceito que seus pais tinham em relação a um determinado fato social. Ele explica bem o motivo desses conflitos ao dizer que “em cada momento as sociedades humanas são palco do embate entre as tendências conservadoras e inovadoras. As primeiras pretendem manter os hábitos inalterados (...). As segundas contestam a sua permanência e pretendem substituí-los por novos procedimentos.” (p.99).
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Marianne S. 05/01/2013

O que é a cultura para a Antropologia?
Cultura: um conceito antropológico é um livro que conta a história da cultura, como o próprio nome diz, mas colocando ela no foco antropológico. Como estudo e pretendo me formar na área de Antropologia, se possível, seu nome me chamou atenção desde o princípio, e desde que se tornou útil em um trabalho/artigo que tive de fazer, pronto, me apaixonei por ele.
O livro trata das diferentes faces e vertentes do conceito cultura dentro da Antropologia. E nos abre os olhos para preconceitos culturais que nós mesmos temos mas negamos.
Ele trata todas as culturas como verdadeiras, e nenhuma sendo superior a qualquer outra, como pensavam os Evolucionistas culturais ingleses. Ou seja, se num dado local da Ásia o povo tem o costume de comer insetos e nós, aqui do outro lado do oceano, temos o costume de comer carne, "comer insetos" não é menos verdadeiro que o "comer carne".
A cultura é dinâmica, então vai mudar um dia, e sempre continuará a mudar. Nunca ela se torna estática, por mais que possa parecer a olhos mal domados.

São esses e outros itens de crucial importância para o entendimento da cultura que Roque de Barros Laraia retrata em seu livro de forma simplificada e diminuída.

O livro, como podem perceber, não é muito grade, então em até 1 ou 2 dias se pode terminá-lo sem problemas. E ele é dividido em duas partes. Uma trata do conceito cultura em si, tentando fazer a melhor conceituação possível, o outro trata do que é considerado "lei geral" na cultura no geral.
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Rodolfo Schreiner 18/02/2012

Até a primeira metade do livre, a tese que o autor defende é a de que a cultura é construída, e não herdada geneticamente por exemplo. Isso também significa que ela está constantemente se reformulando e desenvolvimento.
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Felipe1503 15/05/2011

"Concluindo, cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo novo do porvir".
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