Vê 15/06/2014Café Preto é uma adaptação para romance de uma peça de teatro escrita por Agatha Christie tendo seu mais famoso detetive, Hercule Poirot, como personagem investigativo. Para quem já leu ao menos um livro da autora, logo no começo percebe que a escrita é muito diferente do que estamos acostumados a conferir.
Embora eu tenha lido apenas um outro livro com o detetive Poirot, ao longo da leitura não encontrei qualquer problema com a linearidade da trajetória dele, estando novamente acompanhado do capitão Hastings; eles serão tragados para uma história cheia de mistério, conspiração e, claro, assassinato.
Poirot é chamado para investigar uma possível conspiração que cerca um famoso cientista que descobriu a fórmula de um potente explosivo. Preocupado que a fórmula possa ser roubada por quem o cerca, Sir Claud Amory solicita a ajuda do detetive belga para que desmascare o provável ladrão. Mas, como logo percebemos, se não há um assassinato, não há por que haver Poirot, certo?
Ele e Hastings chegam, infelizmente, tarde demais para resolver o mistério e salvar Sir Claud da conspiração, no entanto, uma série de confusões e pedidos "fique"/"não fique", convencem o baixinho astuto de que é seu dever honrar a palavra que deu ao cientista e descobrir o verdadeiro ladrão de fórmula e espião conspirador.
Mas, com uma sala cheia de suspeitos e o único que poderia guiá-los nisso tudo, morto, como Poirot e seu fiel escudeiro Hastings saberão por onde sequer começar a investigar?
Eu, até agora, curti bastante os livros da Agatha; ela tem uma enorme habilidade em tecer lentamente os mistérios que cercam seus personagens. Você é capaz de mudar de suspeito inúmeras vezes e, ainda assim, corre o risco de levar um belo tombo no final, quando descobre o verdadeiro culpado, que pode dar uma imensa reviravolta à história.
No entanto, eu senti completamente falta de tudo isso quando li Café Preto. A explicação mais plausível é que, sendo uma peça de teatro, embora tenha sido escrita pela Agatha, na hora da adaptação, não foi ela quem escreveu. Grande parte da magia de sua escrita, da narrativa construtiva, ficou perdida completamente. É uma leitura rápida e que já dá muitas pistas logo no começo.
Não demora muito até que fique claro quem é o responsável pelo assassinato. Muitos fatos que seriam apresentados ao longo da trama foram jogados nos momentos mais inconvenientes possíveis e fiquei muito aborrecida pela obviedade da história.
Além disso tudo, tendo lido um único outro livro em que Poirot aparece, tive a infelicidade de pegar a mesma base do enredo: envenenamento. E a solução, também, foi muito parecida: acendedores de lareira. Então, para mim, foi bem sem graça. Fiquei bem desanimada, pois nada de muito inovador me foi apresentado.
O que, é claro, me fez pensar constantemente em como seria essa história nos palcos de um teatro. Talvez muito mais bem encaixada do que ficou nas páginas de um livro. Foi uma pena, afinal, a leitura não passou de um grande passatempo, sem muitas emoções ou algo inovador a acrescentar na perspicácia de Poirot ou Hastings.
Apesar disso tudo, indico a leitura de Café Preto, de preferência não imediatamente após a leitura de O Misterioso Caso de Styles, pois as resoluções dos crimes são bem semelhantes e isso pode deixar a impressão de que tudo seguirá esse mesmo estilo pelo resto dos livros da autora. E eu já bem sei que não será assim. É uma narrativa mais prática, rápida de ler e você devora o livro em poucas horas. No entanto, é esclarecedora demais nos momentos errados e detona a magia do mistério e da investigação.
Quem já leu algum livro da Agatha e pega Café Preto claramente percebe que não foi escrito pela autora em sua fascinante narrativa cuidadosamente construída. Mas devemos levar em consideração que foi adaptado de uma peça de teatro e por uma pessoa diferente. Sem dúvida, Charles Osborne deve levar algum crédito pela coragem e iniciativa para a adaptação, embora não tenha dado muito certo.
Para passar o tempo e se alimentar de um pequeno mistério, Café Preto é a leitura certa, pois não toma mais do que algumas horas e você adivinha rapidinho quem é o culpado!
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