spoiler visualizarMarina 27/04/2020
Da humanidade à (des)esperança
É intrigante como este livro me marcou de um modo diferente dos demais livros do Érico. Ele nos apresenta a um grande número de personagens, não temos uma figura "central", talvez Joana? Que por "ironia" - já que ela está morta desde o início - é o único elo entre todas as personagens, pelo menos o único elo marcante. E daí os cotidianos vão se desvendando, diversas realidades que se entrecruzam, as personagens se esbarram, conhecem-se, mas nada "profundo". O que se encaixa muito bem na autocrítica do autor sobre o livro: "[...]Mal começa o leitor a familiarizar-se com uma personagem ou com um grupo, e já o autor salta para outro capítulo e outras gentes". Mas sabe o que é o bonito disso? São as diversas realidades entrecruzadas que se enriquecessem, por exemplo, a gente conhece desde o burguês e corrupto, até o menino extremamente pobre sem condições de subsistência. Ou seja, vamos desde a superficialidade da alta sociedade até os problemas sociais das classes mais desfavorecidas desse país que, infelizmente, ainda perduram, com fome, falta de moradia, falta de saúde, de educação... Então, a gente circula por esses vários grupos sociais e, claro, vai se identificando com alguns e detestando outros. E, além dessa baita reflexão, o Érico ainda consegue trazer à tona a Segunda Grande Mundial que estava em curso, já que o livro foi escrito em 1943, é genial as reflexões de botar fé numa mudança da sociedade após esse grande evento mundial, principalmente, eu que estou lendo hoje, em meio a uma pandemia, faço um paralelo com as esperanças que temos atualmente. E sei lá, eu tendo a acreditar que as pessoas, de maneira geral não vão mudar, porque ainda temos Aristides corruptos e Setes perdidos no Brasil e mundo a fora.. ah, Érico, a esperança é tão linda e necessária, mas é difícil quando a humanidade já passou por tanta coisa e parece que muito pouco mudou na essência do ser humano. Enfim, só gratidão por mais essa bela obra e por me instigar a ter vontade de sonhar!