Tiago600 21/01/2023
A Alma deveria ficar sempre Entreaberta
Muito já foi dito e escrito sobre o Vermelho e o Negro, portanto, o que quer que eu escreva aqui em muito pouco irá contribuir para a fortuna crítica da obra, o máximo que posso fazer são dois apontamentos.
Elias Canetti em um de seus livros teóricos, salvo engano é em "A consciência das palavras" - espero que minha memória não esteja me traindo -, confessa que o único autor invejou e sempre invejará é Stendhal. O escritor francês dotado de um estilo enxuto, límpido, que se recusa as afetações, divide opiniões entre os leitores (creio eu) em muito, justamente por sua forma (incomparável) de narrar.
Sobre Julien, protagonista do romance e conhecido como um dos maiores personagens da literatura mundial, bem, em quase nada consegui julgá-lo ao término da leitura, afinal, me pareceu alguém que de tão humano, pode causar repulsa e espelhos parecem assombrar os desavisados que ao se reconhecer demais em algo, de pronto se colocam de lado e de dedo em riste (sempre acusador), inconscientemente dizem: "ele é capaz disso, não eu". Ao que me parece o personagem vive e reage de acordo com as circunstâncias que lhe são impostas, como um campo de batalha cotidiano. Ademais, Nabokov descreve a vida humana como uma "breve fenda de luz entre duas eternidades de escuridão."