Thiago662 23/08/2021
O homem e o mito
O objetivo do livro é analisar como se construiu o mito Pedro II, como mártir da nação (o órfão ainda criança; o homem que queria ser professor e não imperador; o casamento arranjado; o pai que perdeu seus filhos em tenra idade; o velho que morreu exilado após anos de dedicação ao país). Uma memória que foi fabricada, desde o início do seu reinado, e que vem sendo difundida no Brasil desde então. Nesse sentido, a autora não está tão preocupada com o relato biográfico. Certas passagens passam meio que batidas, por exemplo: as viagens do imperador ou uma análise mais detida de seus escritos e diários.
Mesmo assim é um livrão, ricamente ilustrado com as diferentes imagens de Pedro II. Interessante ler as análises que explicam como uma monarquia se constituiu no Brasil justamente num momento de crise do antigo regime e do antigo sistema colonial e cercada de repúblicas. Em alguns momentos do livro o imperador parece até um personagem secundário. O capítulo "Como ser nobre no Brasil" é dos mais chatos, por ser altamente descritivo.
Não achei que a leitura trouxe muita novidade em relação a D. Pedro. Mas uma das teses é certamente reveladora. Na escola estudamos, e ensinamos, que a crise do Império se deve a inúmeras crises (política, religiosa, econômica, militar e etc). A autora aborda a forma como D. Pedro foi se distanciando dos súditos após a Guerra do Paraguai. A mudança na sua imagem, o abandono de símbolos majestáticos, e a configuração do imperador cidadão, que rejeita a pompa, os rituais e o glamour, faz com que o encanto em torno da monarquia se abale e, em última instância, se torne desnecessária. Por outro lado, são essas características que tornam D. Pedro um novo herói, já no panteão republicano: o imperador que não tinha luxos, que patrocinava artistas e cientistas, em detrimento da manutenção de seus próprios palácios, o mais republicano do que os próprios republicanos.