Nélio 19/07/2017
Quando optei pela leitura do livro, estava curioso por saber mais sobre D. Pedro II e sobre a monarquia brasileira. Sabemos muito pouco sobre nossa história e frente a tanta atrapalhada política atual, um governante brasileiro que ficou à frente do país por quase 50 anos chamou minha atenção. Ainda mais quando descobri seu lado de promotor da cultura, do saber e das artes.
Vou deixar de lado questões diretamente políticas sobre o livro, mesmo que elas tenham me agradado também. Agora quero pensar sobre a prazer de ler um livro tão rico, não só de fatos, mas de algo que vai além, que acredito ser a capacidade da autora de compor uma obra que não é cansativa e nem entediante a despeito do conteúdo. Ela conseguiu cativar-me com sua escrita, e eu não conseguia parar de ler. É claro que estava motivado e com motivação tudo é diferente, mas, pensemos bem, ler um livro sem motivação é o fim dos tempos!
Há partes altamente descritivas na obra, mas mesmo assim, aquilo vai compondo um cenário que quase me levava à corte brasileira do século XIX! Interessantíssimo ver como se deu a adaptação dos requintes europeus das cortes para a nossa realidade tropical. E o melhor foi notar como que o Romantismo, enquanto estética inclusive literária, serviu e se serviu desse momento histórico-social. Nada foi à toa quanto à figura do índio “aproveitada” pelos autores da época. Autores que foram, alguns, inclusive, mantidos pelo Imperador-mecenas. Caso de Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. Vale uma fofoquinha... José de Alencar, o maior escritor indianista na época, tinha uma rixa fortíssima com D. Pedro II! O monarca queria distância daquele que mais promovia através de seus romances o indianismo... Coisas da vida!
Ainda sobre o livro, a autora traz ao longo da obra citações de vários autores da época para apresentar o reflexo e o registro literário-social dos fatos em ebulição. Machado de Assis é citado a todo momento com seus contos e romances. Lima Barreto também aparece. Deu muita vontade de reler certos textos com novo olhar...
Sobre a figura de D. Pedro II, fiquei encantado, pois um garoto educado e preparado para ser rei em terras tropicais e que, já adulto, resolve, dentre tantas ações, dedicar-se à sua formação cultural e a de seu país, merece muito respeito. É claro que a oferta de cultura não era para todos, mas já era algo diferente da modinha. Foi pena tais valores terem se perdido tão precocemente com o fim da monarquia.
Merece destaque a opção da autora por acrescentar as imagens que falam dessa época. As gravuras, pinturas, quadros, charges etc. que retratam o Imperador e a família real foram enriquecendo o texto. Fiquei triste porque li o livro pelo Kindle e não pude aproveitar as imagens. Com certeza, eis um livro físico que desejo comprar.
Terrível de se ler foi a parte final do livro, quando a autora descreve o desmantelamento por parte do governo republicano da riqueza material e intelectual que a monarquia deixou, após o exílio da família real com o golpe da república. Quanta riqueza indo parar sabe-se lá onde!
Vou parar por aqui, mas deixo algumas passagens que valem a leitura da obra:
“Ante de mudar as estruturas econômicas parecia mais urgente, para d. Pedro, mudar os espíritos, e nesse sentido o imperador nunca escondeu quão enfadonha lhe parecia a política.”
“... um rei só alcança o verdadeiro amor, quando em si encarna as qualidades e defeitos de seu povo.”