Bárbara 28/10/2015Questões do Coração, Emily GiffinCostumo dizer que Emily Giffin tem uma facilidade incrível de pegar temas do dia a dia e transformá-los em histórias capazes de fazer qualquer leitor parar por alguns minutos e pensar sobre a grandiosidade do ensinamento que elas nos passam.
Eu fiz isso com todos os livros dela que li, exceto pelo primeiro, Ame o que é seu, já que o fiz num momento em que não tinha a cabeça formada para ler e compreender o que ela queria passar com aquela história.
Com Laços Inseparáveis e Uma Prova de Amor, por outro lado, fui mais a fundo, li com outros olhos, sem levar em conta a minha opinião, de forma pessoal, sobre o que os personagens tinham ou não tinham que fazer e simplesmente aceitei o que ela havia preparado para mim e para tantos outros leitores.
Acredito que tenha sido por conta disso que gostei e aproveitei muito mais a leitura destes últimos dois do que daquele primeiro. E foi pelo mesmo motivo que gostei tanto do que encontrei em Questões do Coração.
O fato de Emily utilizar questões do dia a dia e falar não apenas sobre o amor, mas sobre tantos outros assuntos, de forma tão simples, sem rodeios e mostrando apenas a realidade é o que mais me encanta. Nós sabemos que nem tudo acontece como nos filmes quando se trata da vida real; e penso que é exatamente por isso que gosto do que encontro em sua obra. Coisas que poderiam acontecer com qualquer pessoa.
Em Questões do Coração encontramos a história de duas mulheres: a primeira é Tess Russo, mãe de dois filhos que acaba de abrir mão de sua carreira para poder se dedicar mais à sua família, enquanto seu marido continua trabalhando como um cirurgião plástico, na área da pediatria; a segunda é Valerie Anderson, advogada, bem sucedida e mãe solteira de um filho só, Charlie, que em uma festa de aniversário, acaba caindo em uma fogueira onde várias crianças assavam marshmallows sem a supervisão de um adulto e que tem seu rosto desfigurado. A partir daí, Nick, marido de Tess, se torna o cirurgião de Charlie, fazendo com que as duas famílias acabem por se encontrar.
O livro é muito bem narrado. Vemos as coisas sob o ponto de vista das duas mulheres. Tess narra em primeira pessoa, mostrando todos os seus sentimentos, suas dúvidas, seus medos e suas felicidades, enquanto o dia a dia de Val nos é mostrado em terceira pessoa, mas não de forma menos pessoal.
É impossível ler e não escolher uma personagem preferida, ou simplesmente encontrar aquela que parece mais com você. Eu, por exemplo, me senti muito mais ligada à Valerie. Val é mãe solteira, teve que correr atrás do que queria e, mesmo se vendo grávida e abandonada pelo pai da criança, não abandonou a faculdade, formando-se em Direito e se tornando uma boa advogada, pensando sempre em ser uma ótima mãe e cuidar maravilhosamente bem do seu filho.
Tessa abriu mão de sua carreira e, como isso é algo que eu jamais faria, não gostei muito de ver que ela resolveu tomar essa atitude. De qualquer forma, compreendo sua decisão: vou ficar em casa, curtir mais as minhas crianças e estar mais presente aqui para vê-los crescer enquanto Nick trabalha para prover o necessário – foi uma decisão dela, algo que não foi imposto por ele. Nick não passa, em momento algum, a impressão de ser uma pessoa machista ou que pensa apenas em si mesmo, apesar de estar sempre tendo que sair no meio de um jantar ou outro para responder a algum chamado no hospital.
Acredito também que, mesmo tendo me identificado mais com uma das personagens, não deixei de gostar da outra. As duas tinham atitudes que às vezes me irritavam, mas isso foi bom por ter me colocado pra pensar no que eu faria se eu estivesse no lugar de cada uma delas.
Além de nos trazer uma história que poderia ser real, com personagens que poderiam ser nossos amigos ou conhecidos, Emily ainda nos dá tapas e mais tapas na cara por conta do que ela coloca como desfecho. De como ela termina o livro e de como ela deixa em aberto a nossa interpretação.
Não diria que Questões do Coração ou qualquer outra das obras de Emily Giffin sejam para qualquer leitor. Elas não são. Não é qualquer um que goste de uma dose cavalar de realidade, que goste de encarar aquilo que acontece no dia a dia e que goste de ver um desfecho como os que ela utiliza em suas histórias. Acredito que muitos ainda pensam que livros são formas de escapar da realidade, não de encará-la. Aos que pensam desta forma, não recomendo que leia qualquer coisa que ela escreva, mas àqueles que gostam de se deparar com isso, a única coisa que tenho a dizer é que se você ainda não leu, não sabe nem metade do que está perdendo.