Bruno.Dellatorre 01/09/2019Discordo da maioria: este livro é maravilhoso!É um livro excepcional o de Evelyn Waugh: o humor perfeitamente distribuído, um tom sarcástico que me arrancou muitas (muitas mesmo) risadas esporádicas. Não gargalhadas, mas risadas. É um livro com um tom de melancolia, de nostalgia, pois se tratam das memórias "profanas e sagradas" do capitão Charles Ryder enquanto este esteve em convivência com a família aristocrata de seu grande amigo Sebastian Flyte.
O livro é uma perfeita sátira. Mostra sutilmente o quão decadente é o mundo de certas pessoas ricas, que, escondem-se debaixo do nome e do poder, lidando com situações ridículas para sustentar seu nome, para não passar vergonha, para manter a dignidade perante uma sociedade chata que quer opinar em tudo. E de outro lado, está o catolicismo, também satirizado aqui, pois mostra como alguns preceitos da religião levados ao extremo podem atrapalhar além de ajudar.
No fim das contas, o livro fala de ricos. Ricos que, viviam numa posição social favorável, queriam mantê-la e para isso escondiam sua verdadeira natureza, tropeçavam nos próprios disfarces e acabavam caindo na própria farsa. São ao mesmo tempo ricos que se entregavam de corpo e alma à preceitos religiosos católicos que, nem sempre ajudavam e proporcionavam situações absurdas.
Meu capítulo preferido é aquele em que Charles conta a história de Julia e Rex! Ri ferozmente como não fazia há muito tempo em um livro. Evelyn Waugh proporcionou aqui uma experiência única e jamais vista. E se o livro estiver chato em alguns pontos, a ideia era essa: mostrar como, aos poucos, até mesmo Charles e Sebastian, duas almas espirituosas e indomáveis, acabaram sugadas pela padronagem das tradições em fingir e acabaram se tornando infelizes cada um à sua moda, escondendo sua verdadeira natureza.
Não me refiro à homossexualidade dos dois, até porque não a considero, acho que é algo mal interpretado de novo. Para mim, Charles e Sebastian nunca tiveram um relacionamento amoroso e isso é pura especulação maliciosa. Ao meu ver, os dois eram apenas dois jovens que não se importavam com aparências, diferente do resto da sociedade.
Em todo caso, leia o livro. Seja para não entender, sentir tédio e ficar com raiva; seja para amar, viver o cotidiano dos charmosos aristocratas ingleses e se divertir com os absurdos por trás de tudo.
Talvez o livro não tenha graça nenhuma, mas é muito difícil eu não me empolgar com boas doses de ironia e sarcasmo.