Tuty 30/03/2024
Carrie e Contradições
Bem faz muito, muito tempo que não faço uma resenha aqui rs. Mas também faz tempo que não me envolvia num livro como me envolvi em Carrie. Se somar o tempo que passei lendo ele não dá mais do que 3 horas.
Aqui gostaria de expressar algumas opiniões sobre a obra e TENTAR não cair em hiperinterpretações, ou pior, hiperinterpretações pós-modernas.
"E é claro, são interpretações. Quem tem a verdade absoluta meu filho é Deus. E se você é ateu aí que ferrou o trabalhador mesmo, é viver e ver." - Senhorita Bira
O que gostaria de ressaltar primeiro é que esse é um livro de 50 anos de idade, então não tem essa palhaçada de spoiler.
Bem, quero começar dizendo que esse se tornou meu livro favorito de todos os tempos. A minha identificação pelos sentimentos que são sentidos durante a passagem da adolescência, a forma como King conta a estória e a catarse dela me fascinaram, prenderam e emocionaram.
O que mais marcou minha interpretação da obra foi a presença das nuances pela contradição dos personagens. Os tons de cinza aqui vieram do contraste entre preto e branco. Ex: Carrie matou a mãe, mas a amava; Sue fez algo benevolente para acariciar seu ego; A professora de E.F. queria ajudar Carrie mas riu dela; Nunca se fica claro a religiosidade de Carrie; Carrie sofria bullying, mas havia dito para outras pessoas que iam para o inferno; etc. Isso é uma excelente demonstração das constantes contradições que sentimos ao tentar sobreviver a adolescência. Fora a analogia não tão análoga a massacres escolares, que no contexto brasileiro nunca fez tanto sentido.
Também vale ressaltar que a forma que o King conta a estória é genial. É não linear, explica detalhes que eu (como fã de sci-fi) amei e te antecipa de uma forma genial, a sensação é indescritível. Você sabe que ocorreu um desastre, não se sabe ainda como, e quando ocorre o livro ainda parece frio, você não explode de adrenalina e não fica tudo frenético, mas você ainda está preso no livro e fascinado, a ação do massacre ser contada em +60% por relatos é ainda melhor. Senti uma catarse como nunca antes, por isso é genial e indescritível, só ler para saber. (Esse ''vale ressaltar'' ficou muito grande kkkkk)
Uma pena que essas nuances e outros detalhes tenham se perdido nas adaptações, embora as duas que vi continuam obras muito boas. Sobre King, a obra não me pareceu racista e com muitos detalhes nojentos, aqui ele está nessa paráfrase de Parasita: ''Ele sempre chega perto de ultrapassar os limites, mas nunca o faz.'' Tenho até medo de ler outros livros dele e me deparar com o que o povo fala, se for ler vai ser nessa linha sci-fi mais sombria, não gosto muito de fantasia ou terror.
Enfim gente, é isso, só queria compartilhar pequenos devaneios dessa obra e experiência fantástica que é ''Carrie'', se continuasse iria cair na hiperinterpretação subjetiva e pós-moderna rs.