gnassau 31/07/2021
Mar Morto
A narrativa é focada na vida dos homens do cais da Bahia. Homens que, de geração a geração, dedicam sua vida ao mar, ainda assim ao decorrer da história você percebe que eles não só têm dedicação, mas que de certa forma estão selados ao mar. Como se ela os pertencesse de alguma forma. Ela? sim, Iemanjá, mãe d'água. Dona do amor, da vida e da morte. Os marinheiros aproveitam sua vida ao máximo porque sabem que, no final das contas, seu destino é morrer no mar. Tem os que fazem isso de bom grado. Se jogam ao mar sorrindo na esperança de encontrar e se afagar nos braços de Iemanjá. Não desejam vida comum e não esperam grandes coisas da vida, somente ter um barco de pesca, se aventurar no mar, beber no farol e fazer um filho que siga o mesmo destino que o seu. Apesar disso, o livro não se prende somente a homens no cais, é uma história sobre amor e angústia. As mulheres não sabem se irão ver seus amados novamente que partiram para o mar, se hoje vão se deitar no colo da mãe d'água. Jorge Amado tem uma espécie de familiaridade com as letras, cada diálogo escrito dá para sentir que ele realmente sabe o que está fazendo. Sabe transmitir muito bem o dialeto simples do povo, te deixando totalmente imerso na história e cultura baiana. É exposto o sofrimento da vida miserável do povo do cais, homens que morrem e deixam para trás suas mulheres e filhos. Uma vida de escravidão descrita pela professora Dulce, confiante no milagre que mudará a vida dos homens do cais. Representatividade feminina através de Rosa Palmeirão, mulher negra bastante respeitada pelos homens do cais. Todos têm medo e admiração por ela. Mulher valente que não leva desaforo para casa, mas que também tem ternura e desejo de amor. A mitologia da cultura baiana é evidente na obra, detalhada com a origem dos orixás e o surgimento das águas, assim como a baía de Todos-os-Santos. Presença constante de Iemanjá na narrativa, há breves associações que ela é mãe-esposa.