O sonho do celta

O sonho do celta Mario Vargas Llosa




Resenhas - O Sonho do Celta


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otxjunior 10/04/2014

O Sonho do Celta, Mario Vargas Llosa
Primeiro livro de Vargas Llosa que leio, não sei o que ele tinha feito anteriormente, mas é difícil acreditar nos vários comentários que apontam O Sonho do Celta como um dos mais fracos de sua bibliografia. Em 2010, Llosa recebe o prêmio Nobel de Literatura por "sua cartografia de estruturas de poder e imagens incisivas de resistência, revolta e derrota do indivíduo", e então publica esse livro que confirma a escolha da academia sueca. Aqui também temos um poder dominante representado por empresas de extração de borracha nas colônias do Congo e Amazônia no início do século XX; e a revolta de um indivíduo decepcionado com as consequências da colonização imperialista europeia sobre outros povos.
O Sonho do Celta é uma biografia romanceada de Roger Casement. Patriota, poeta, revolucionário e nacionalista irlandês, Roger lutou pela independência de seu país do Império Britânico depois de denunciar os abusos dos direitos humanos cometidos contra os índios peruanos e negros africanos. É muito interessante acompanhar sua transição de jovem ingênuo deslumbrado com os benefícios da colonização europeia que iria tirar os nativos de seu estado não civilizado e pagão, para um humanista assombrado por cenas de violência e submissão de culturas, tudo isso justificado pela ambição exacerbada dos colonizadores civilizados. Cenas essas que chocam o leitor pela sua crueza e forte impacto.
A delicadeza do protagonista é comovente e seu esforço por justiça transmite uma grande lição de humanidade. Mais que um livro demolidor, O Sonho do Celta é um livro formador.
Arsenio Meira 10/04/2014minha estante

Eu também concordo com você, porque esse romance, que é excelente, nada deve a inúmeros outros livros do Llosa. É úm romance histórico, de formação, com a incursão precisa no terreno minado que é violência contra os ser humano, na forma como escrevestes. É um grande romance. Bela resenha, Osman!
Abraços




Maiara.Alves 20/01/2021

Um romance histórico (ou biografia romanceada) incrível
Para escrever "O sonho do Celta", Llosa pesquisou em diversos arquivos, entrevistou gente de todo lugar, leu uma extensa bibliografia. O objetivo era reconstruir a trajetória de um personagem instigante: o irlandês Roger Casement.

Casement é o irlandês que, no final do século XIX, vai para a África (servindo como cônsul à Coroa britânica) imbuído da ideologia que sustentou e justificou a colonização e o posterior imperialismo das potências ocidentais: civilização, cristianismo e comércio.

Casement denunciou a barbárie no Congo Belga e, assim, deu o impulso inicial para que Joseph Conrad escrevesse um dos mais impressionantes relatos de todos os tempos: "O Coração das Trevas".

Casement também denunciou a exploração dos indígenas na extração da borracha na Amazônia peruana, mostrando ao mundo que a crueldade estava localizada nos dois lados do Atlântico, corria de norte a sul.

A consequência mais importante no destino de Sir Roger (sim, ele ganha o título honorífico) é que ele resolve aderir a causa do nacionalismo irlandês contra o domínio britânico e procurará firmar uma aliança com os alemães, ao eclodir a Primeira Guerra, para acelerar o processo de independência da Irlanda. Por essa razão, é preso como traidor.

Casement é sentenciado à morte pelo Império que, durante décadas, representara. Preso, homossexual, foi alvo de campanhas difamatórias, que o acusaram de todo um repertório de atos obscenos e conduta pornográfica.

Este não é definitivamente um livro fácil de ler. É um ótimo livro que tem uma leitura por vezes pesada e que nos leva até uma parte da história que poucas vezes foi contada com tanto realismo.


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Leila 14/12/2022

Meu 12º livro lido do Llosa e esse é um que merece texto, porque é um dos bons. Já falei aqui e vou repetir, o autor tem lá seus altos e baixos, livros que são verdadeiras obras primas e outros que parecem romance de banca, mas aqui em O sonho do celta temos o Llosa em sua melhor forma, pesquisador e prosador de primeira linha, nos contando a historia de vida de Roger Casement esse irlandês ?ativista? do final do século 19 e começo do século 20 mostrando as atrocidades perpetradas pelos colonizadores na África e na América do Sul, mais especificamente no Congo e na Amazônia Peruana, passando também pelo Brasil. Essa figura tão pouco conhecida (eu mesma não conhecia nada sobre Casement) foi apagado da Historia por ser homossexual numa época onde a homossexualidade não era tolerada,mas foi uma pessoa de fibra e muito muito corajoso em expor as barbaridades que presenciou, fatos que debilitaram inclusive sua saúde. É um livro difícil de ler, porque é muito doído ler sobre a maldade humana, sempre é, né? mas também é muito válido relembrar do que somos capazes em nome da ganância e do poder. O fim da vida de Casement é trágico e confesso que lágrimas rolaram por aqui. Enfim, livraço meu povo, podem ler sem medo. O comecinho é meio devagar, mas depois que engrena é uma maravilha só. Tem sofrência, mas é bom!
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06/03/2013

Magistral para quem gosta de romances históricos e biografias.
Mário Vargas Llhosa consegue retratar com perfeição a complexidade e as contradições do ser humano.
Uma lição inesquecível sobre a natureza humana.
A frase no início do livro é emblemática:
"Cada um de nós é, sucessivamente, não um, mas muitos. E essas personalidades sucessivas, que emergem uma das outras, costumam oferecer contrastes mais estranhos e assombrosos entre si." (José Enrique Rodó - Motivos de Proteu)
edu basílio 06/03/2013minha estante
Eu também achei o livro de uma beleza imensa. Uma biografia que traça, de maneira muito bela, os limites e as superações do humano (ontologicamente falando) e do humano biológico. abraços, zé. :-)





Zé Pedro 08/07/2011

“O sonho do celta” não é um dos grandes livros do Mario Vargas Llosa. A vida do Irlandês Roger Casement realmente dá um livro e tanto acerca de suas peripécias, conspirações, sofrimentos, ingenuidades... Numa época remota, como o fim do século XIX e o início do século XX, foram tantas aventuras, no Congo, na Amazônia peruana (será que veio daí veio o interesse do autor pelo personagem?) e na luta pela independência da Irlanda, que o livro, em minha opinião, poderia ser melhor. Faltou mais ‘liga’, principalmente na passagem que relata a conspiração pela autonomia Irlandesa, aquela confusão difícil de entender prá quem não acompanha de perto o conflito, tantos eram os grupos envolvidos na briga independentista daquela região.
De bom, a prosa agradável e envolvente do autor, que sempre traz prazer à leitura, e tornar conhecido do grande público uma figura como a de Roger Casement, suas lutas, seus sonhos...


Carla Valle 24/09/2011

Um livro surpreendente! Recomendo a todas as pessoas que se interessam pela história do homem, que nasceu para conquistar - seja qual for o preço da conquista. Este livro derrubou anos e barreiras de preconceito na minha alma, serei eternamente grata ao autor e é claro, ao herói Roger Casement.
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Sebastian 22/03/2015

Impressiona
Quando comecei a ler o Sonho do Celta, não sabia que era inspirado numa história real, a partir de um personagem real. Roger Casement, um irlandês que dedicou sua vida a lutar contra injustiças. Primeiro, na África; depois, no Putumayo, na Amazônia, e , por fim, na luta pela independência da Irlanda. Misturando presente e passado, Vargas Llosa faz de Roger uma espécie de Dom Quixote contemporâneo, lutando contra as barbáries no Congo Belga, contra a companhia Arana, na Amazônia, e contra o colonialismo inglês na Irlanda. Com Capítulos longos, o livro aborda com delicadeza questões polêmicas, como a sexualidade de Roger, e desperta curiosidade sobre os fatos históricos, ao tempo em que choca pelo relato cru e triste de episódios de colonização.
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@buenos_livros 16/04/2022

O Sonho do Celta - Mario Vargas Llosa ??
?Há uma coisa que o senhor não entendeu, pelo visto. Não se trata de ganhar. É claro que vamos perder batalha. Trata-se de durar. De resistir. Dias semanas. E de morrer de maneira tal que a nossa morte e o nosso sangue multipliquem o patriotismo dos irlandeses até se tornar uma força irresistível. De modo que, para cada um de nós que morre, nasçam cem revolucionários. Não foi assim com o cristianismo??
-
. 30/2022
. O Sonho do Celta (2010)
. Mario Vargas Llosa ??
. Tradução: Paulina Watch e Ari Roitman
. Ficção Histórica | 392p. | Livro
. @editora_alfaguara
-
. Vargas Llosa recria a vida de Roger Casement, diplomata irlandês que combateu o trabalho escravo e a crueldade colonial no Congo Belga e na Amazônia dos seringueiros, experiências que abriram sua cabeça para o colonialismo que sua própria Irlanda sofria. Após anos servindo à coroa, Roger renega seu seu passado e condecorações para lutar pela independência do Eire. Como toda bela ficção história, o livro se aprofunda na vida do personagem, recriando momentos e diálogos, em um grande esforço da imaginação. A história é incrível e o desenlace trágico, quando o governo inglês opera um verdadeiro assassinato de reputação, utilizando de maneira rasteira algumas escolhas dúbias e a sexualidade de Roger para acusá-lo de traição e degeneração, jogando-o contra a opinião pública.
. ????????
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Cristiano.Vituri 22/10/2021

Várias vidas, uma morte
Que Vargas Llhosa é mestre da narrativa não precisamos repetir. Mas devo confessar que me surpreendo cada vez mais. Como no A festa do Bode, o autor fez um trabalho exaustivo de pesquisa biográfica e descreve todas as aventuras e sofrimentos de Roger Casement de forma vivida e brilhante.

Assim como obras do escritor cubano Leonardo Padura, Llosa consegue criar uma aurea entre o real e a ficção muito tênue, que faz a leitura se transformar numa experiência que cativa e nos faz se sentir na pele dos personagens.

Além do relato mais que necessário sobre a brutal colonização da África, todas as injustiças e a ganância dos reis e comandantes, a ponto de deixar o leitor puto da vida e se perguntando se o ser humano tem conserto.

Parece que não.
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Raquel Lima 01/12/2011

Segundo livro que adorei do Llosa
Um condenado a morte em sua cela, nos conta a sua trajetória pelo Congo e América do Sul em sua missão de levar ao Governo Inglês as desgraças cometidas pela colonização. Um incrível livro sobre a colonização e a descoberta da desculpa usada pela colonização para infligir aos povos colonizados toda a sorte de sofrimento as custas do poder, da dominação e da riqueza. Impossível ficar imune as descrições de sofrimento e desumanidade cometidas, em época de religiosidade e pregação do cristianismo por novas terras. O autor é fantástico em sua descrição e recriação histórica da vida deste humanista inglês-irlandes. Apesar de fazer uma pesquisa sobre sua existência e saber que iria morrer, confesso que torci por vários capítulos que graças a ficção, sua vida fosse poupada, mas no final, estátuas e bustos são somente a marca de sua existência,porque no fundo a colonizaçaõ bárbara e desumana, ainda continua, somente os meios mudaram, hoje não se usa mais chicote mas sofremos a violência do desrespeito a cultura, o sofrimento financeiro, a globalização.
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Fernanda 20/09/2012

O Sonho do Celta - Mário Vargas Llosa
Confesso que fui impelida a comprar este livro depois de ter lido Travessuras da Menina Má, do mesmo autor, que eu A-DO-REI. Li as primeiras trinta páginas sentada num café num shopping, mas depois... encalhei total... não rolou, não foi pra frente e terminei ele, porque me nego a abandonar os livros, salvo raras excessões. O livro conta a estório da Roger Casement, diplomata inglês, enviado primeiramente ao Congo e a Amazônia para tratar dos direitos dos índios e da população "colonizada" pelos europeus. O último capítulo é dedicado a narrativa do Levante da Páscoa, evento conhecido como aquele em que os irlandeses tentaram a separação da Inglaterra.

Li em outra resenha de que faltou "liga" no enredo e que essa não era a melhor obra do autor. Concordo plenamente....
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Dio 31/03/2021

Me fez mais latino
O livro é ótimo, um pouco confuso e enfadonho no início, mas ao engrenar se torna épico.
Um dos meus melhores amigos e neto de uma Índia peruana traficada de putuyama na época em que se passa a história. Achei incrível haver citações a minha cidade(Manaus) e o quanto essa obra me tocou em quanto latino e amazonense.
Ler ele em Plena pandemia foi bem desgastante, a maldade e o sadismo descrito no livro me deixava as vezes dias sem conseguir ler mais do que 2 ou 3 páginas.
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Everardo 02/03/2013

El sueño del celta: do genocídio à globalização

Chego no final das 464 páginas de El sueño del celta, o último livro de Mario Vargas Llosa. Como A Guerra do fim do mundo, trata-se de uma espécie de recriação histórica. No caso, as aventuras de um diplomata inglês, Roger Casement (1864-1916), que foi cônsul em Santos, no Pará e no Rio de Janeiro. De origem irlandesa, distinguiu-se, no início do século passado, por denunciar as atrocidades cometidas no Congo pelos esbirros de Leopoldo II, rei dos belgas, e as perpetradas no Amazonas peruano pelos exploradores da borracha. Para quem leu os dois livros é difícil não fazer a comparação. A guerra do fim do mundo pode ser mais instigante, pois levou às últimas consequências um desafio que nenhum escritor brasileiro ousou aceitar: traduzir numa obra de ficção a saga do Conselheiro – místico e mártir de Canudos – e recompor o sertão euclidiano em toda sua complexa geometria.
Mas o El sueño del celta se ocupa de outro personagem histórico não menos controvertido. Embora a história de Roger Casement se situe num contexto diferente, é tão polêmica quanto a do beato do Monte Santo. Roger Casement foi um herói dos direitos humanos avant la lettre e terminou por se envolver com grupos independentistas da Irlanda, o que lhe custou caro. Acusado de traição por suas ligações com a Alemanha, em guerra contra a Inglaterra, foi feito prisioneiro na prisão de Pentoville. Seu diário, apelidado de Diário negro, eivado de confidências pessoais, caiu nas mãos do serviço secreto inglês e foi utilizado contra seu autor, acusado de traição e homossexualismo. Há quem sustente que certas passagens foram forjadas, discussão que dura até hoje. Mas o certo é que páginas do diário serviram de argumento determinante para levar Roger Casement ao cadafalso no dia 3 de agosto de 1916.
El sueño del celta se divide em três parte (El Congo, La Amazonía e Irlanda). Nos capítulos ímpares são narrados os três meses de prisão que precederam a execução de Roger Casement. Através desses capítulos o leitor acompanha a intimidade, a angústia e as reflexões do personagem nos seus últimos momentos de vida. É através deles que Vargas Llosa explora sua visão do mundo. Os capítulos pares se desenrolam como reportagens sobre a exploração, as torturas, as chacinas praticadas contra as populações do Congo e da Amazônia peruana e a participação de Casement na fracassada Insurreição Irlandesa de 1916.
Entre A Guerra do fim do mundo e El sueño del celta mudam os cenários, mas pouco sofre a visão do escritor sobre o absurdo da condição humana. Se o paradigma de Vargas Llosa é a escrita de Flaubert – a quem dedicou todo um livro, A orgia perpétua –, é certamente inspirado em escritores como Camus que ele busca demonstrar o quanto a vida da ficção torna mais suportável, embora paradoxalmente mais pobre, nossa vida verdadeira.
Enquanto A Guerra do fim do mundo o cenário é único – o universo de Canudos – em El sueño del celta a aventura do personagem é tricontinental: o Congo (pedaço da África então sob o domínio de Leopoldo II, rei dos belgas), Iquitos e a selva peruana (onde se articulavam interesses peruanos, brasileiros e ingleses em torno da exploração dos seringais) e a Irlanda (envolvida num conflito nacionalista que teve como pano de fundo as contradições imperialistas que deram origem à Primeira Guerra Mundial).
A forma contundente com que Vargas Llosa narra certos episódios e os articula no contexto histórico da época nos oferece uma verdadeira ‘aula de história’ e um exercício de desmistificação sobre os primórdios de nosso capitalismo selvagem. Numa entrevista a El País, em 29 de agosto de 2010, respondeu que na Bélgica o rei Leopoldo II não era tratado como genocida. Ao contrário, ali havia um museu maravilhoso, apesar de se calcular que, no Congo, haviam morrido mais de dez milhões de pessoas, duas vezes mais do que no ‘holocausto’ judeu. Como no exemplo do rei Leopoldo II, vários de nossos “heróis” envolvidos em crimes contra os direitos humanos também têm seus nomes nas placas de muitas de nossas ruas e praças.
Apesar de ser considerado por muitos como um conservador, devemos à arte do romance de Vargas Llosa – entre os quais este El sueño del celta – a desconstrução dos fundamentos coloniais de nossas elites e uma escrita que abre como corte de bisturi as entranhas de nossa América. É bem verdade que sua preocupação maior é penetrar nos labirintos da condição humana para decifrar as origens do mal. Nesse aspecto, esse seu livro certamente será cotejado com outros que tratam da mesma realidade – a exploração brutal de populações nos confins do mundo –, a exemplo de O coração das trevas, de Conrad. Mas se quisermos penetrar nas entrelinhas de seus romances é possível entrever o ovo da serpente que acabou por gerar a sociedade em que vivemos. Afinal, na raiz do imperialismo dos conglomerados financeiros, que nos acostumamos a chamar de globalização, estão os resquícios da rapina e dos crimes contra a Humanidade de que tratam alguns romances do autor do tão nosso A guerra do fim do mundo.
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Patrícia 11/10/2014

Excelente livro. Prende a atenção e, de quebra, soube de fatos históricos sobre os quais nem tinha ouvido falar.
Lido em 2014.
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Deivison 02/05/2015

Excelente romance histórico (ou biografia romanceada)
O romance histórico (ou biografia romanceada) O sonho do celta, de Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura 2010, retrata a luta do irlandês Roger Casement contra a colonização da Irlanda pelo Império Britânico; o massacre e a exploração dos congoleses pelos belgas e o extermínio de milhares de indígenas da amazônia peruana em decorrência da ganância da empresa seringalista Peruvian Amazon Company. Tais batalhas foram travadas no fim do século XIX e início do século XX.
O anglicano Roger Casement foi um homem carregado de altruísmo. Em 1884 decidiu ir ao Congo (na época com vinte anos de idade e com a inocência típica daqueles que querem mudar o mundo) ajudar a preparar a terra para a chegada dos comerciantes e administradores belgas, que seriam enviados por Leopoldo II, rei da Bélgica, quando este conseguisse a concessão do Congo. (Dada em 1885, na conferência de Berlim.) O objetivo do monarca era “Civilizar, impedir o tráfico de escravos e levar o comércio para aquelas terras selvagens”. Contudo, não foi isso que Roger presenciou nos anos em que permaneceu ali. O que viu foi o assassinato de nativos, a extinção de tribos, o infanticídio e todos os tipos de crueldades inimagináveis praticadas pelos “civilizadores”. Anos depois, agora como Cônsul britânico, viajou por diversas aldeias e povoados do Médio e Alto Congo colhendo relatos que comprovariam as atrocidades cometidas a mando do rei belga, até então boatos e denúncias que circulavam na Europa. Depois de divulgado, o relatório causou um escândalo e grande comoção internacional. Todos exigiam que a Grã-Bretanha pedisse aos aliados a revogação da decisão dos países ocidentais de entregar o Congo a Leopoldo II.
As mesmas monstruosidades foram vistas quando, a pedido do Império Britânico, foi a Iquitos e Putumayo, na Amazônia Perunana, investigar a empresa seringalista Peruvian Amazon Company. E mais uma vez, não sem muito trabalho e ameaças, conseguiu mostrar ao mundo o que acontecia naquela esquecida terra. “Aquelas pessoas chicoteadas, mutiladas, aquelas crianças com mãos e pés cortados, morrendo de fome e de doenças [...] Aqueles seres massacrados até a extinção e depois assassinados. Milhares, dezenas, centenas de milhares. Por homens que receberam uma educação cristã. Eu os vi ir à missa, rezar, comungar, antes e depois de cometer esses crimes. ” A poderosa empresa de Julio C. Arana, após a repercussão internacional, foi à ruina e seus sócios condenados pelas barbaridades cometidas aos povos indígenas.
Todas essas experiências mostraram a Casement que, de certa forma, o seu povo também sofria as mazelas da colonização. E foi essa epifania que o fez lutar com o mais elevado espírito nacionalista pela independência da Irlanda, “Agora ele precisava se preocupar com outros indígenas, os da Irlanda. Estes também precisavam se preocupar com os “aranas” que os exploravam, se bem que com armas mais refinadas e hipócritas que os seringalistas peruanos, colombianos e brasileiros. ” Mesmo vindo à tona segredos de sua vida íntima, Roger, acusado, jugado e preso por ter traído a Grã-Bretanha, não se intimidou com as baixezas que propagaram a seu respeito, contudo teve sua imagem manchada, a imagem de um homem que teve devoção total a denunciar os crimes cometidos por homens e impérios. Em 03 de Agosto de 1916 foi executado, mas seu legado permanece vivo na história da Irlanda e sua contribuição aos povos africanos e sul-americanos não pode ser esquecida.
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