Gustavo 06/01/2012Vida longa aos jornais!Como fazer jornais responsáveis e informativos e como mantê-los em circulação com a forte concorrência da TV e da internet? O jornalista Ricardo Noblat usa sua experiência de 35 anos para responder essa pergunta no livro “A arte de fazer um jornal diário”, editora Contexto, 2003.
O livro começa com uma conversa entre um leitor e um jornalista numa banca de jornal. O leitor faz várias perguntas ao jornalista, perguntas que os leitores em geral fariam se tivessem a oportunidade de conversar com algum. O jornalista se esquiva, se sente incomodado e foge das perguntas. Noblat mostra nesse diálogo, como os jornais fazem pouca coisa para atender as reclamações dos leitores. Para o autor: “É o conteúdo que vende jornal. Somente uma mudança radical de conteúdo, aqui (Brasil) e em qualquer outro lugar, será capaz de prolongar a lenta agonia dos jornais” (p.17). Segundo a obra essa mudança consistiria em renovar os assuntos, interagir com os leitores, antecipar notícias que ainda estão por vir.
Além da exposição de “problemas técnicos”, Noblat faz uma reflexão ética, mostra a importância dos jornais como formadores de uma consciência crítica na sociedade. Em razão dessa importância, para ele os veículos de comunicação não devem ficar concentrados em poucos grupos. Devem ainda, publicar somente o que é de interesse público, e não devem copiar o que é mostrado na TV, que na maioria das vezes está preocupada apenas com a audiência.
De uma forma mais didática, mas não menos interessante, a obra trata de questões básicas, corriqueiras do jornalismo. Questões como relacionamento com as fontes, apuração, “faro jornalístico”. Exemplos simples e divertidos facilitam o entendimento e tornam a leitura muito mais “leve” e prazerosa.
Há também grande destaque para a escrita. O autor dá dicas valiosas, principalmente para os menos experientes, de como escrever um bom texto jornalístico. Apesar de afirmar não haver receita para escrever bem, Noblat aconselha evitar adjetivos e chavões, ser direto, claro e reescrever pois sempre é possível melhorar algo. Escrever como se fala, desde que certo, é outra dica interessante presente no livro. Os exemplos dizem mais que qualquer explicação: “Desconforto Hídrico (usar seca), Reposição Tarifária (usar aumento), Suspensão temporária de liberdade (usar prisão)” (p. 85).
No fim da obra o autor aproxima ainda mais os leitores do ambiente dos jornais. Para isso, conta os bastidores de uma extensa reportagem por ele feita e mostra detalhadamente o processo de reforma do jornal Correio Brasiliense, que segundo especialistas e dados estatísticos, após a reforma, passou a ser o jornal mais respeitado do Brasil. Uma linha do tempo recheada de imagens encerra o livro, e leva o leitor a uma viagem pelas datas que marcaram a vida da imprensa.
A maneira com que o autor trata todas as questões, muitas vezes se colocando entre os próprios leitores e fazendo uma autocrítica, conquista a confiança e a simpatia de quem lê a obra. Enfim, “A arte de fazer um jornal diário” é um ótimo livro para estudantes e recém-formados na área de jornalismo. É um ótimo livro para qualquer pessoa bem informada, que goste de ler. É um ótimo livro para “despertar” a importância da informação naqueles que não gostam de ler. É, sem dúvida, uma boa pedida, que agrada a gregos e troianos. Com o perdão destes últimos jargões. Noblat reprovaria.