DIRCE 25/02/2011
Khomeini: AI 5 Iraniano
Quando a Paulinha, sugeriu o livro "Lendo Lolita em Teerã" no Grupo A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, pensei: ler ou não ler, eis a questão. Afinal, ler "Lolita", confortavelmente na minha casa, não foi nada fácil, como será ler Lolita em Teerã, sob o olhar inquisidor de do aiatolá Khomeini???? Por sorte, minha curiosidade "falou" mais alto que os meus receios, e depois do stop, logo no início da leitura ( interrompi para ler Chuva Dourada) acionei o play e segui adiante.
Achei o livro "Lendo Lolita em Teerã", muito interessante e esclarecedor. Ele não se limita a Lolita, há também capítulos destinados a Gastby, James e Austen e, todos os capítulos, me proporcionaram uma espécie de regozijo, pois a abordagem desses livros e autores, foi feita, no meu entendimento, não somente como uma declaração de amor aos livros, mas, principalmente, para denunciar e censurar a situação do povo iraniano - em especial a condição das mulheres iranianas - após a Revolução Islâmica ocorrida no Irã em 1979.
Irei me restringir ao capítulo destinado a Lolita para que minha resenha não fique quilométrica, porque Nafisi dedicou mais páginas a ele e, até, nele se inspirou para dar título ao seu livro, e porque tenho que me redimir do péssimo e injusto julgamento que fiz quando li o livro " Lolita": ele esta longe de ser uma apologia a pedofilia.
Mais uma vez me veio à mente a frase do Carlos Ruiz Zafon em "A Sombra do Vento": "Os livros são espelhos: só se vê neles o que a pessoa tem dentro(...)". "Lolita", e os demais livros abordados, espelham não só uma pessoa, mas toda uma Nação. A menina Lolita foi cerceada de sua liberdade, foi subjugada, sofreu abusos, perdeu suas referências, se tornou impossibilitada de articular sua própria história, situações vivenciadas pelos iranianos. Talvez não fosse para causar perplexidade mas causa: a leitura de " Lolita" feita em Teerã pelos censores é uma leitura um tanto quanto "estrábica": Lolita deixa de ser a vítima e passa a ser a reencarnação da serpente do paraíso, que seduz o "pobre" Humbert. Tadinho, ele tinha tudo para ser brilhante ...
Esse meu comentário é somente um rudimentar, mas bem rudimentar mesmo, esboço do que capítulo Lolita e os demais tratam : Nafisi discorre sobre as torturas, sobre as execuções, fatos, que me deixaram com a sensação de um Déjà vu: não foi isso que ocorreu no nosso "Patropi" com o AI 5? Claro que como não havia a interação da religião no Estado, ele se restringiu aos atos políticos e não chegou ao absurdo escandaloso de proibir e punir jovens tão somente por colocarem meias cor-de-rosa. Nafisi aborda outras questões como a escolha de usar ou não o véu. Defende que a mulher pode optar em usar o véu em decorrência da sua fé e, não, por exigência do Estado com o objetivo de anular a identidade da mulher. Fala sobre estar ou não apaixonada e sobre outros assuntos inerentes ao universo feminino.
Eu só não darei 5 estrelas porque Gina B. Nahai no livro "Chuva Dourada" , fala sobre a comunidade judia que vivia em Teerã antes da Revolução Islâmica, porém, Nafisi não faz qualquer referência a ela, deixando a impressão que somente iranianos mulçumanos viviam, ou vivem nessa cidade.
Iniciei a leitura desse livro, sabendo um pouco mais que nada sobre o Irã, termino a leitura da mesma forma: sabendo um pouco mais que nada, entretanto, sabendo o suficiente, para desejar, que na roda viva da história, os ditadores ( sem tantas mortes como as que estamos presenciando – é utopia, eu sei) sejam destronados e que a liberdade individual seja respeitada.