Ricardo Rocha 23/03/2011
Se não fosse assim, não seria assim...
O livro já foi exaustivamente comentado. Composto de quatro partes, fragmentadas, sem ordem cronológica, em diversas vozes. Destacam-se as de Benjy, o irmão com deficiência mental; Quentin, o estudante universitário cujo paixão pela irmã será trágica, o arrogante Jason e a empregada Dilsey essa última como uma visão linear em retrospecto. A história da decadência de uma família no Sul dos Estados Unidos.
Todo mundo diz que é difícil de ler. E é. Mas...
Com a última parte em narrativa convencional e retomando acontecimentos antes descritos de forma fragmentada nos monólogos interiores, parece se descer alguma paz sobre o livro, não por coincidência quando passa a focalizar Dilsey, cuja integridade é oposta à degradação dos patrões. Não sei por que, a partir daí fiz uma ligação entre O som e a Fúria e Amnésia, o filme que é contado de trás para frente. Quero dizer: no dvds, há nos extras a possibilidade de você ver a história na ordem cronológica, sem qualquer recurso de flash-back ou toward, ou qualquer fragmentação. E o que se vê é um filme medíocre, feito das mesmíssimas cenas da hoje reconhecida obra-prima do suspense que é Amnésia. Então, imagino que se Faulkner se limitasse a contar sua história como conta na última parte do ponto de vista da empregada negra, ou seja, de forma tradicional, se Benjy tivesse o dom da palavra, ou se Quentin não misturasse fantasia e realidade para mim, de longe, a parte mais interessante do livro, com passagens geniais , então, tenho certeza, que esse seria um livro a mais no mundo, sem qualquer dificuldade de ser lido e com cem por cento de chance de ser esquecido após a leitura. Amando ou odiando, O som e a fúria é inesquecível.