L1teralmente 11/08/2020
“Gota d’água” é um drama escrito por Paulo Pontes e Chico Buarque que remonta a tragédia grega “Medéia” de Eurípedes, sob a perspectiva do povo brasileiro. Assim, a peça que estreou em 1977, traz a dança e a música do candomblé, o samba, o coro das vizinhas fofoqueiras e a miséria da população para uma história antiga, transformando Medéia em Joana e Jasão em um famoso sambista.
A obra disserta sobre a opressão das camadas populares, a ambição, o egoísmo e o preconceito, trazendo uma grande reflexão sobre até que ponto uma pessoa abre mão de sua humanidade por dinheiro. Além disso, ela traz uma vertente muito interessante sobre a revolta dos subjugados, que está sempre muito próxima de acontecer (falta uma gota d’água), mas não ocorre. É interessante porque o povo, que naquele contexto se via impedido de assumir seu espaço no palco brasileiro, é o protagonista desta grande tragédia moderna.
A intertextualidade com o texto de Eurípedes é muito evidente, por isso recomendo que você conheça um pouquinho sobre a tragédia original antes de ler a peça de Chico Buarque. Assumo que achei que perderia a graça se eu soubesse o enredo todo, mas me surpreendi com a narrativa, porque apesar das semelhanças tudo consegue ser tão original que você fica até a última página tentando entender se o final será o mesmo ou não. (Isso já não posso contar para vocês)