Mario Miranda 03/10/2018
A Inexistência de Valores
A história inicia-se contundentemente com o falecimento de sua mãe, passando ao restrito círculo de contatos do personagem, culminando com um crime realizado por Meursault sem motivo algum aparente.
Meursault é um personagem desconstruído, no sentido que inexistem nele quaisquer valor/ideia/sentido que possam justificar suas atitudes. Meursault é alguém que Existe simplesmente por Existir, sem razão ou religião prévia. É um autômato que apenas responde a percepções sensoriais básicas (calor, sol, mar), onde nem mesmo a Liberdade lhe significa algo - no sentido Sartriano de sermos condenados a liberdade, Meursault é capaz de se desfazer até mesmo deste seu último direito.
Ao longo de um processo Kafkiano, onde o personagem comete um crime porém é julgado por outro, o condenado - aqui com uma relação intrínseca à ?O último dia de um Condenado?, de Victor Hugo - prodigaliza seu último embate Existencial ao discutir com um Capelão argumentando não crer em Deus, e ao ser questionado a razão, justifica dizendo que não faz diferença: se Ele existe, pouco me importa ou tampouco compreendo-o, logo, Sua Existência equivale a não Existir para o indivíduo.