O centauro no jardim

O centauro no jardim Moacyr Scliar




Resenhas - O Centauro no Jardim


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ProPaixao 08/03/2012

O centauro indomável
Guedali, um judeu, desde criança sofreu com a deformidade antromófica. Nascera centauro.
O livro é uma espécie de diário, onde narra a vida cheia de frustrações pela qual o jovem passou. Nunca fora à escola, nunca teve amigos, somente na fase adulta. Ainda jovem, fugiu de casa, perambulou pelo mundo até parar num circo, tornando-se atração principal. Perdeu sua virgindade com a domadora de leões, nesse mesmo dia foge do circo quando esta descobre que o centauro era realmente de verdade e com um membro gigantesco!
Eis que quando adulto conhece uma centaura, Tita, que também é infeliz por ser mulher/cavalo, mas pela primeira vez ambos fazem amor de forma equina.
O sonho de Guedali de tornar-se totalmente humano se realiza quando ele vai para o Marrocos com Tita para operar-se, contudo a vida dá muitas reviravoltas e ele sente saudades de quando galopava nos pampas gaúchos.
Eis que se revela na história ora sutil ora escrachado erotismo, mas nota-se que o fundo moral da história não é o sexo animal, mas sim a psique do protagonista que sendo desajustado na sociedade, tanto lutou pra moldá-la aos padrões ditos sociais e que qdo isso aconteceu, sua vida perdeu o sentido, porque o verdadeiro sentido da vida é ser original.
Se foi um centauro, se foi um tumor, se Lolah, sua amante era uma esfinge, não se sabe, só sabe-se que Guedali era judeu, nasceu e viveu no Sul do Brasil.
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Sandro.Gomes 07/03/2020

Divertido
Do Moacyr já havia lido "A mulher que escreveu a Bíblia" e O Centauro no Jardim gostei tanto quanto.
O senso de humor de Scliar é estimulante e certamente lerei outros livros do autor.
Guedali era realmente um centauro?
O interessante é que você escolhe em qual visão do final do livro acreditar, já que existem duas versões da história.
As duas versões me pareceram geniais.
Um livro que qualquer escritor teria orgulho de assinar como seu.
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Yolanda 19/02/2020

Muito bom
Um livro que te faz ficar sem palavras, mesmo. Algo único, com uma leitura fluida, te faz imaginar situações inimagináveis na pele de um centauro, como se isso fosse possível, ou impossível. Muito interessante.
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Andressa.Carrion 03/05/2021

Pensamentos e conclusões.
Um livro para se perder em pensamentos e muitas conclusões. Por vezes briguei com os personagens por outras me iludi e depois queria ama-los. Sim, me apaguei facilmente ao texto ?.
Com uma escrita muito fluida o autor permite que a gente opine e queira tomar as decisões junto, sinceramente fui surpreendida a cada novo capítulo, até o final onde já idealiza outro fim, outro contexto para encerrar o livro e de repente lá estava eu iludida pelas loucuras vivenciadas pelo personagem principal.

És isto, gostei muito.
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Laís 19/10/2021

Decepcionante
Nossa, me decepcionou tanto esse livro
além de ter umas partes que acho problemáticas e outras que me deram muita vergonha alheia.
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Gabi Florence 07/09/2021

Gostei do início.
"Eu habito a fronteira de dois mundos, dois mundos que me rechaçam, estou condenado a vagar pela vida como alma penada..."
???????
Queria ler Moacyr Scliar e achei a sinopse desse livro inusitada, um centauro nasce em uma família de origem russa que se mudou para o interior do Rio Grande do Sul. Acompanhamos o choque inicial, o desenvolvimento de alguém diferente de todos a sua volta, e tudo narrado pelo próprio centauro, Guedali.
As decisões da família para manter o segredo, para criar o filho caçula dentro das tradições judias, os questionamentos e descobertas solitárias de Guedali, a relação com os irmãos, tão diferentes dele, são muito interessantes, gostei dessa primeira parte da narrativa.
Com a chegada da vida adulta e a tentativa de descobrir o mundo fora do quintal que foi criado, temos uma virada na história, e acho que a partir desse ponto a narrativa começa a se perder, achei alguns acontecimentos forçados e desnecessários para o enredo, o que fez com que eu não gostasse tanto do livro, que segue esse ritmo até o fim.
Apesar disso, gostei de conhecer a escrita desse importante autor brasileiro e consegui, por meio de sua escrita, desenvolver mais empatia por aqueles que são julgados como diferentes em nossa sociedade.
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alemesquitaneto 16/02/2024

Excelente leitura. Moacyr Scliar tem se tornado um dos meus autores favoritos. Ele consegue construir uma história envolvente e personagens cativantes, mesmo quando tudo parece irreal.
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Mauricio109 11/05/2021

Me surpreendeu!
Esse livro me fez perder o preconceito com autores brasileiros, principalmente de fantasia. Tenho um carinho imenso por essa obra até hoje, apesar de ter lido há muitos anos enquanto passava por todo o surto que foi se descobrir gay e lutar entre a aceitação e o desespero em relação ao preconceito. Não foi à toa que me importei imensamente com o protagonista e seu dilema, desde as partes onde ele curte ser o que ele é (um centauro) e as partes onde ele busca ser aceito pelo resto do mundo, ao ponto de desejar se desfazer de sua individualidade.

Esse livro é lindo e perfeito demais. Moacyr Scliar soube passar muito bem os sentimentos do protagonista e nos fazer se importar e principalmente não julgar as decisões que ele toma no percurso.
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Carla 05/12/2015

O livro que não deixo de mencionar como um dos mais importantes da minha vida! Li, reli e lerei novamente. Uma mensagem linda e profunda sobre nossa dificuldade de aceitação pessoal. Ótimo!
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Larissa | @paragrafocult 25/02/2020

"Centauro ultrapassa as fronteiras de sua imaginação. Centauro não figura em manuais médicos."
Para compensar o mês de janeiro do qual eu li demais, em fevereiro eu descansei a mente das leituras e por isso li apenas uns cinco livros. Uma dessas leituras se mostrou uma gostosa surpresa já que eu o comprei sem saber nada da história. Tinha passado por um sebo e estava olhando os títulos despretensiosamente. Acho que de tanto ficar garimpando obras pelos sebos daqui das redondezas, sempre que entro em um, fico batendo um bom papo com os vendedores que já devem estar cansados da minha cara por lá. Nesse dia, estava em dúvida entre A Rainha dos Condenados da Anne Rice e Torre Negra III do Stephen King, porém o vendedor me apareceu com esse livro aqui. Capa simples, nome estranho e um autor que nunca ouvira falar. Me disse que a obra era muito boa e me contou uma curiosidade, que o livro A Vida de Pi (sim, aquele do filme que ganhou vários Oscars) foi um plágio de uma obra do Moacyr Scliar. Eu não sei muito sobre, mas a obra do Moacyr que se assemelha muito a do filme e livro do autor Yann Martel, se chama Max e os Felinos e é basicamente sobre um jovem que fica preso em um bote com um jaguar após um naufrágio.

Isso, claro, atiçou a minha curiosidade e deixei para trás os dois livros que antes me deixavam em dúvida sobre qual levar e escolhi esse. Posso dizer que não me arrependo. Que leitura boa. Não, esse não foi um livro perfeito, muito menos uma leitura que poderia agradar a todos os tipos de leitores mas ainda sim, foi uma leitura boa, diferente e profunda.

Como ponto central do livro, temos a família russa Tratskovsky. Eles são uma família judia simples e normal, um casal com três filhos e esperando o quarto integrante. Tudo ia bem. Quando finalmente o caçula nasce, todos levam um choque: ao invés de um bebê comum, nascera então um centauro. Da cintura para cima havia um ser humano bonito e de pele macia mas da cintura para baixo, pelos grossos adornavam um torso de cavalo.

O pequeno recebe então o nome de Guedali. Por conta de sua aparência peculiar e diferente, o rapaz cresce completamente solitário. Com exceção do irmão mais velho que não parece gostar dele, suas duas irmãs e seus pais, após o choque inicial, o tratam muito bem. Ele está feliz com a família que tem e que o ama mas se sente incompleto e essa exclusão em que está vivendo faz com que cresça um rapaz muito inteligente, já que a leitura se tornou sua melhor amiga.

O livro todo é narrado pelo próprio Guedali durante o seu aniversário de trinta e oito anos. Ele nos conta tudo, desde o momento em que nasceu. Comecei a leitura com o pé lá atrás, afinal, um livro com um centauro como personagem principal não era algo que me deixasse extremamente curiosa pelo desenrolar da trama. Moacyr Scliar consegue passear de forma majestosa pelo realismo - através dos dilemas e frustrações de Guedali - e pela fantasia - já que o mesmo é um centauro, um ser mítico. Mesmo Guedali não sendo humano, é muito fácil de se identificar com ele. Ele não é perfeito. Em muitos momentos somos levados a sentir raiva de suas escolhas e sentimentos, de seus desejos porém seus medos e dilemas são bem reais mesmo para nós.

Quando terminamos a obra, a sensação de que fica foi que não lemos algo que se limitava apenas a centauros. Vai muito além disso. Em dado momento, Guedali parte com Tita - uma outra centaura que por obra do destino, acaba conhecendo - para o Marrocos a fim de fazer uma cirurgia para mudar sua forma, tentando assim se tornar humano. Esse foi de longe um dos meus momentos favoritos do livro. Ver todo o questionamento que ele faz a si mesmo, se era realmente aquilo que desejava, se tirar aquela parte dele que o acompanhara a vida toda seria realmente a resposta e o caminho correto para a sua felicidade.

A única parte que me desanimou da leitura foi que lá pela metade do livro, a história se tornou um pouco "novela da Globo" por conta de uma cadeia de acontecimentos. Isso não diminuiu a qualidade da obra em si porém acaba atrasando um pouco a leitura porque na parte em que essa sensação novelesca predomina, o enredo destoa um pouco do todo, porém logo volta ao normal.

Não é um livro longo, a leitura é calma e simples, ótima para quem gosta de refletir e absorver o que lhe foi dado. Pude entender o motivo que levou essa obra a ser traduzida em diversos idiomas e os prêmios que ganhou. A fama de Moacyr Scliar se fez bem clara para mim. Espero em breve poder ler outros livros do autor e que a minha experiência com elas seja tão boa quanto ou melhor do que a que tive com essa.

site: https://paragrafocult.blogspot.com/2020/02/resenha-o-centauro-no-jardim-de-moacyr.html
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Leh 17/12/2012

Foi o pior livro que já li em toda a minha vida!
Andrezza 20/12/2012minha estante
kkkk realmente é chato,o começo é bom, dps vem a zoofilia e nao presta mas hahaha




Jefferson Pessôa 19/10/2014

Meio cavalo e meio humano. Nem de um mundo, nem de outro. Um animal ou um homem? É nesse dilema e suscitando perguntas como essa, que O Centauro no Jardim inicia. Assim nasce o misterioso Guedali, um centauro criatura metade cavalo e metade homem.

...Os gritos cessam. Há um momento de silêncio meu pai levanta a cabeça e logo um choro de criança. O rosto dele se ilumina:
É homem! Aposto que é homem! Pelo choro, só pode ser homem!
Novo grito. Desta vez um berro selvagem, de horror. Meu pai se põe de pé, num salto. Fica um instante imóvel, aturdido. E corre para o quarto.
A parteira vem-lhe ao encontro, o rosto salpicado de sangue, os olhos arregalados: ah, seu Leão, não sei o que aconteceu, nunca vi uma coisa dessas, a culpa não é minha, lhe garanto, fiz tudo direitinho.
Meu pai olha ao redor, sem compreender. As filhas estão encolhidas num canto, apavoradas, soluçando. Minha mãe jaz sobre a cama, estuporada. Mas o que está acontecendo aqui, grita meu pai, e é então que me vê.
Estou deitado sobre a mesa. Um bebê robusto, corado; choramingando, agitando as mãozinhas uma criança normal, da cintura para cima. Da cintura para baixo: o pelo de cavalo. As patas de cavalo. A cauda, ainda ensopada de líquido amniótico, de cavalo. Da cintura para baixo, sou um cavalo. Sou meu pai nem sabe da existência desta entidade um centauro. Centauro. (Pág. 12)

Originalmente publicado em 1980, O Centauro no Jardim começa com Guedali (protagonista) no restaurante tunisiano Jardim das Delícias, comemorando seu 38º aniversário, onde o próprio narra sua história.
Guedali Tratskovsky conta que nasceu no seio de uma família judia de imigrantes russos; e devido sua condição, era mantido escondido, como um segredo sujo.

A narrativa corre bem, o suficiente para instigar o leitor a virar cada vez mais as páginas, uma vez que a leitura é dinâmica e divertida. Scliar mistura realidade e fantasia, sem abusar, de forma magistral, dando um ar de que aquilo realmente poderia acontecer (ou ter acontecido). Os personagens são incríveis, muito bem construídos dentro do que a narrativa propõe; destaque para Tita e para o próprio Guedali. Os diálogos são adequados e igualmente verossímeis.

Moacyr Scliar usa a metáfora do centauro de forma para melhor se discutir o preconceito e todos os conflitos internos e externos, leia-se, psicológicos e sociais, que este, carrega para a vida em sociedade. Tendo Moacyr Scliar abordado em diversas de suas obras a imigração judaica e coisas relacionadas ao tema, não é de mal tom imaginar que o simbolismo usado nessa obra seja um pano de fundo para tratar da questão do homem judaico imerso numa sociedade intolerante (seja consciente disso ou não).

Ademais, o drama vivido pelo protagonista, nada mais é que o drama vivido por todo ser humano: a busca do ser humano por sua essência, por sua verdadeira faceta.

Considerações finais...

O Centauro no Jardim é uma obra-prima da literatura brasileira. O livro reflete diversos assuntos, passando por seus pormenores, de forma simplista e discreta, sem maiores alardes e apelações. Aos poucos o leitor entra em Guedali, assim como Guedali entra no leitor. No fim do livro, não há mais Guedali, nem leitor, há uma coisa só, que sofre junto e se alegra junto. É um livro reflexivo e pesado pela sua conotação social, mas ao mesmo tempo aventureiro, para quem preferir. Um livro que tanto exerce papel de catalisador, como de entretenimento.

Nota: O título O Centauro no Jardim, provavelmente veio como homenagem a um conto do autor e humorista James Thurber, chamado O Unicórnio no Jardim.

Endereço: http://leitorcabuloso.com.br/2014/07/resenha-o-centauro-jardim-moacyr-scliar/
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Laura 09/10/2014

Pois bem, demorei quase um ano para pegar esse livro nas mãos novamente! rsrs
Nunca tinha lido nada do Moacyr Scliar, mas tinha curiosidade. Ganhei esse livro no Natal de 2013, comecei a ler um pouquinho depois, e empaquei. Também não tava muito concentrada para uma leitura desse tipo, naquele período de férias, mas prometi para mim mesma que tentaria ler novamente.
Esse mês eu comecei a reler, e acabei com o livro rapidamente! O Moacyr escreve muiito bem! A história, confesso, é um pouco esquisita, mas interessante. Indico para quem nunca leu nada desse autor.
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Iami 02/01/2013

O Centauro no Jardim: um resumo
O romance O centauro no jardim, de Moacyr Scliar, mistura em sua narrativa provocante, elementos que a tornam indefinível. Nela, se combinam as características de narrativas tipicamente fantásticas e fabulosas, como a presença perturbadora e talvez imaginária do cavalo alado: “Volta e meia acordo à noite com a sensação de ter ouvido um ruído estranho (o ruflar das asas do cavalo alado?)” (Scliar, 2011:9) que sempre agita as certezas do personagem principal.
Além disso, há marcações típicas de diários, como por exemplo, o inicio dos capítulos que sempre vem com as datas e os nomes dos lugares nos quais Guedali viveu suas experiências mais marcantes: (“São Paulo: restaurante tunisino Jardim das Delícias 21 de setembro de 1973”; “Casa no bairro de Teresópolis, Porto Alegre 1947 a 1953; “Circo 1953 a 1954”). Além do mais, o narrador personagem ao longo da história, insere seus pensamentos ou imagina outras possibilidades de ocorrência dos acontecimentos por ele relatados. Observe o exemplo a seguir:
Quando anoitece, saímos. Coloco o corpo de Zeca Fagundes sobre o lombo,
(estivesse vivo, o estancieiro sem dúvida me empregaria como peão; eu seria soberbo, no amarrar uma tropilha; imbatível, nas carreiras de cancha reta; e, quando estivesse velho, poderia puxar uma charrete – e não precisaria de ninguém às rédeas: boleias vazias, tais como as das carruagens fantasmas que deslizam, silenciosas, em meio ao nevoeiro) (Scliar, 2011:76)

Percebemos nesse trecho a imaginação de Guedali em ação, inventando outra possibilidade, dando ao romance aquele ar confidencial de diário, oscilando entre os acontecimentos e a imaginação. Essas marcas traduzem muito bem legitimação da pluralidade apresentada por Antonio Candido, pois percebemos no romance de Moacyr Scliar “textos feitos com a justaposição de recortes, documentos, lembranças, reflexões de toda a sorte. (...)” (Candido, 1987:209).
O narrador em O centauro no jardim parece manter um contato pessoal e íntimo com seu receptor. Parece que ao ler, o leitor se depara com uma espécie de diário, onde alguém escreve os momentos mais importantes de sua vida, seus medos, seus anseios, suas idealizações. E isso ocorre porque, de acordo com Antonio Candido,

o escritor atual (...) deseja apagar as distâncias sociais, identificando-se com a matéria popular. Por isso usa a primeira pessoa como recurso para confundir autor e personagem, adotando uma espécie de discurso direto permanente e desconvencionalizado. (Candido, 1987:213)

O narrador quebra a distância com o receptor, fazendo-o se sentir parte da construção narrativa. Faz parecer que ele [narrador] e nós [receptores] estamos sentados à mesa de um bar ou restaurante, conversando sobre assuntos triviais, quando ele decide contar sobre sua própria vida. Sua função parece essencialmente modalizante, visto que ao longo da leitura, sentimos a presença de sentimentos e emoções do narrador-personagem, como no exemplo a seguir:

"Vagueio pelo campo tocando violino. A melodia se mistura ao sussurro do vento, ao canto dos pássaros, ao chiar das cigarras; é uma coisa tão bonita, que meus olhos se enchem de lágrimas; esqueço de tudo, esqueço que tenho patas e cauda, sou um violinista, um artista". (Scliar, 2011:31-32)

Percebemos neste trecho que o narrador passa seus sentimentos àquilo que está contando, característica típica do tipo homodiegético, cuja perspectiva passa pelo ponto de vista do próprio. Nesse modelo de narrativa, há a “combinação típica das autobiografias, confissões e relatos nos quais o narrador conta sua vida retrospectivamente” (Reuter, 2002). E é exatamente o que ocorre no romance em questão, pois se percebermos, o início da história se dá numa espécie de final, e nos capítulos seguintes, Guedali começará a contar sua história, inclusive seu nascimento, o que parece absurdo.
Outro ponto importante, remetendo à citação de Antonio Candido feita agora pouco, há uma “confusão” entre autor e personagem ou narrador e personagem, pois no romance, por vezes o narrador homodiegético se subtrai de sua posição, adotando uma espécie de consciência universal ou coletiva, que pode ser, por exemplo, quando o Guedali imagina algo que irão imaginar dele, tal como ocorre no seguinte episódio:

No entanto, meu pai sabe, um dia seu filho Guedali sentirá tesão por mulher. Tesão irresistível. E o que acontecerá então? Meu pai não quer nem pensar no que poderá ocorrer numa noite de setembro.
Véspera do décimo segundo aniversário de Guedali.
Noite muito quente. Mesmo para setembro. Calor insuportável.
Nessa noite o rapaz não conseguirá dormir. Inquieto, o rosto afogueado, rolará de um lado para outro no colchão de palha. (É a tesão: é o grande pênis ereto, latejante. Que fazer? (...). Não se agüentando mais, Guedali sairá porta afora para o campo. Se esfregará em árvores, se atirará ao riacho, nada o acalmará. (Scliar, 201136)

É como se Guedali soubesse dos medos de seu pai, ou até mesmo, que compartilhasse deles de uma maneira inconsciente. Como se o medo que habita o (in)consciente de Leão Tartakovsky, também habitasse o inconsciente do jovem centauro.

Enfim, O Centauro no jardim é um romance magistralmente escrito, causando em seus leitores, talvez, um primeiro impacto, mas que, posteriormente, nos leva a um passeio inesquecível e maravilhoso. Embora o romance seja belíssimo, ele pertence a uma safra sem parâmetros de julgamentos, no qual “não se cogita mais (...) produzir (nem de usar como categorias) a Beleza, a Graça, a Emoção, a Simetria, a Harmonia. O que vale é o Impacto, produzido pela Habilidade ou a Força.” (Candido, 1987:214). Nele o que encontramos é a essência perturbadora do mundo contemporâneo: a sensação de deslocamento e a identidade em construção permanente.

Gostaria de citar um trecho do romance de Moacyr Scliar: “Como um cavalo alado, prestes a alçar vôo, rumo à montanha do riso eterno, o seio de Abraão. Como um cavalo, na ponta dos cascos, pronto para galopar pelo pampa. Como um centauro no jardim, pronto a pular o muro, em busca da liberdade.” (Scliar, 2011:218)

O trecho escolhido, para mim, além de ser belíssimo, produz um efeito de síntese da obra. Se fosse proposto um trecho que resumisse o romance em questão, seria o citado acima. A presença do cavalo alado, do vôo, da liberdade, forma uma imagem grandiosa e infinita, o que de certa maneira acontece no romance. Ele não termina no sentido restrito da palavra, não tem um fim fechadinho, não apresenta uma solução. O romance termina mostrando para os leitores que todos convivem com a sensação de uma instabilidade de pertencimento e de identidade, onde nós todos, às vezes, nos sentimos partidos ou incompletos, com uma ânsia de algo mais. Independentes de quem somos, ou a que círculos de amizades pertençamos, ou em que meio familiar convivamos, ou a que costumes ou regras nos apegamos... Não importa. A sensação de quebrar as regras, abandonar os costumes, trapacear o cotidiano soam aos nossos ouvidos como um canto sedutor; como um ruflar de asas, inaudível, mas existente e insistente, soprando de nós aquilo que nos esforçamos por manter sempre nos mesmos lugares. Esse ruflar de asas convida-nos para pular o muro e sair do lugar que conhecemos. Aventurar-nos no desconhecido, na desordem, na incerteza, pois é somente quando nos aventuramos no desconhecido é que nos sentimos completos como seres humanos.

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