Camila.Costa 24/03/2024?Como eu poderia escrever um romance morno em pleno 1970??Sexto livro lido da Lygia e ela segue invicta: essa mulher nunca erra.
Escrito e publicado em meio a ditadura (1973) o livro trás esse momento histórico como pano de fundo, mas é exatamente isso, um simples pano de fundo, a história não é sobre a ditadura, apesar de vc sentir a presença dela e enxergar vislumbres de sua violência e censura ao longo de todo livro.
A história de três meninas que moram em um pensionato de freiras, narrado em fluxo de consciência na 1ª pessoa, oscilando entre as três personagens, contando suas banalidades e angústias, parece simples mas nada da Lygia é simples.
Todas as personagens são muito bem construídas com suas múltiplas camadas, inclusive as freiras, que são personagens mais secundárias, são complexas e possuem suas contradições.
Uma das coisas que eu mais amo da Lygia é como ela diz muita coisa sem necessariamente dizer, o nome disso é arte.
Como sentimos a ditadura sem ela cita-la diretamente em nenhum momento, não teve como não lembrar de ?Zona de interesse? já que estava lendo o livro quando assisti essa outra obra de arte.
Nossa memória associativa é suficiente pra sentir e entender o momento histórico, uma das coisas que mais me incomoda nas mídias mais atuais é como tudo é muito explícito como se o espectador/leitor fosse muito burro pra entender algo mais velado.
E no fim a mensagem é essa, em meio a momentos de violência, tortura, censura, guerra etc as pessoas seguem vivendo suas vidas e se preocupam com coisas ?banais??!
Tanta coisa pode ser tirada desse livro que fiquei feliz em ver que ele entra na lista de leitura obrigatória da fuvest ano que vem.
Poderia escrever páginas e páginas sobre esse livro, sobre a Lygia. Mas deixo as palavras pra quem sabe usá-las.