nadia 22/07/2022
"Palavras triviais mas é no trivial que está o trágico."
'As Meninas' foi o primeiro livro que eu li da Lygia Fagundes Telles. Não sei se iniciar por ele é a melhor escolha, a narrativa é bem caótica e muitas vezes confusa, mas não me arrependo nem um pouco. Lygia me obrigou a adaptar meu ritmo de leitura a ela. Muitas vezes, com livros fluidos, leio rápido, mas com esse precisei respirar e ir frase por frase. Lygia inicia um capítulo em primeira pessoa, com fluxo de consciência, e alguns parágrafos depois passamos a terceira pessoa, até que voltamos novamente a primeira pessoa, mas agora de outro personagem. A personagem conversa, pensa sobre a conversa, lembra de outras situações, relata essas situações, lembra da infância, volta a conversa... tudo em poucos parágrafos, ou até no mesmo. No início me frustrei, achei que não conseguiria vencer o livro, até que me adaptei, e então foi perfeito.
Em 'As Meninas' temos uma história que se passa em 1973, no auge da ditadura militar, e que misteriosamente não foi censurada por ela. Acompanhamos as meninas Lorena, uma romântica, burguesa e virgem que é apaixonada por um homem casado; Lia, a revolucionárias, que representa a oposição ao regime; e Ana Clara, usuária de drogas e álcool, que tem um passado horrível. Conseguimos identificar a diferença nos capítulos de cada uma, pois Lorena devaneia, Lia é centrada e ordenada e Ana foge da realidade. Temos três amigas que diferem muito em suas vidas pessoais, mas que encontram afeto e casa na sua relação. Além disso, o livro descreve uma sessão de tortura e aborda assuntos como aborto, homossexualidade, sexo, masturbação feminina e drogas, que muitas vezes são citados através de metáforas ou de forma subentendida.
Vontade de ler tudo que ela escreveu, e consigo me ver relendo esse futuramente.