Ju Harue 03/06/2022A forma como a escrita da autora me pegou - o famoso fluxo de consciência - foi interessante, embora muitas vezes, me sentisse um pouco perdida nas metáforas, sentia também que havia algo a mais ali, não consegui parar de ler. Essa foi a experiência da minha primeira leitura da famosíssima Lygia Fagundes Telles.
A plurissignificação que misturava o presente com o passado, pensamentos e situações vividas, me fez lembrar um pouco de Clarice, Jeferson Tenório - foi empolgante... Sentia que tudo fazia parte de um só dia, de um só momento na vida das três personagens (depois vim a saber que talvez sejam dois dias mesmo, no posfácio de Cristovão Tezza na edição de 2009 da Companhia das Letras).
Estas, personagens que me fizeram concordar em algumas coisas, ver poeticamente de uma forma outras e na mesma hora ter asco dos preconceitos escancarados, para logo em seguida tomar um soco no estômago por alguma tragédia vivenciada, sem contar o período externo, a realidade da sociedade refletida na vida de Lorena, Lia e Ana Clara. O final, para mim, foi o famoso inesperado já esperado, condizente com a realidade porém eu não achava que veríamos isso aqui.
A coragem de Lygia de falar sobre tudo que ocorria na época, de ter publicado em 73 mesmo, torna-o ainda mais significativo, potente e devastador. Ela foi a primeira autora a ousar publicar sobre as torturas da ditadura, que diga-se, foi inserida na obra com maestria. No livro também fala sobre tabus e preconceitos pertinentes na época (e que infelizmente perpetuam até hoje) de forma incômoda, escancarada e real. Enfim, eu gostei bastante da leitura, foi um ótimo primeiro contato, me fazendo querer ler mais da autora.
"Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim."