Lethycia Dias 04/06/2019O fim da Idade MédiaFazia tempo que eu tinha vontade de ler "O Corcunda de Notre Dame", e durante quase dois meses, contemplei a qualidade e beleza desse livro. Ambientado em 1492, no fim da Idade Média e início da modernidade, esse romance histórico tornou Victor Hugo admirado em toda a França, e até mesmo motivou reformas na Catedral de Notre Dame no século XIX, cujo incêndio recente chocou tantas pessoas ao redor do mundo.
É difícil definir as temáticas dessa obra. Talvez uma delas seja a própria cidade de Paris nesse período de transição histórica, e a monstruosidade como característica humana, seja por meio da aparência física, seja por meio da crueldade. Os personagens mais importantes são Esmeralda, a cigana, Claude Frollo, o arquidiácono da catedral, Quasímodo, o sineiro surdo, e Phoebus, o capitão do exército. Mas podemos dizer que a própria Catedral é também um personagem, tendo importância fundamental em toda a história.
Não se deixe em enganar pela adaptação animada, que amenizou vários aspectos. Na história original, Esmeralda é ingênua e romântica; o capitão Phoebus é bastante canalha; Quasímodo tem uma devoção imensa por Frollo; e este, por sua vez, tem muito apreço por conhecimentos místicos, como a alquimia, e não é cem por cento bom nem mau, agindo como antagonista ou uma espécie de anti-herói. Se persegue Esmeralda, não por simples ódio aos ciganos, mas porque está tomado de desejo por ela e pretende expurgar seu pecado.
Outros personagens fazem parte da trama, de maneira secundária, mas em certos momentos fazendo participações importantes. O livro demora a apresentar os protagonistas e tem diversas passagens que explicam a formação da cidade de Paris e sua constituição geográfica; digressões lentas, porém importantes, sobre arquitetura e história; sobre a divisão política da cidade de acordo com o sistema feudal, entre outros assuntos. E tudo isso é intercalado com momentos de maior ou menor ação, nos quais a história avança.
É um livro para se ler devagar, refletindo sobre seu impacto. Muito além da tragédia dos personagens, é um retrato de uma época, feito a partir de muita pesquisa de Victor Hugo em fontes históricas, com muitas referências a manifestações culturais e ao modo de compreender o mundo naquela época. A edição da Editora Zahar, além de muito bonita, ajuda muito a compreender tudo isso por meio do texto de apresentação e das notas de rodapé, e eu recomendo muito!
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