juliasstupid 17/06/2024
"Ele estava perdido."
Diante da popularidade repentina da série, iniciei Bridgerton com grandes expectativas. Em um ambiente favorável para belos romances, confiei que os livros superariam qualquer avaliação positiva direcionada à série. Me decepcionei.
Em primeira instância, acho importante destacar que o romance não é completamente insatisfatório. Ele se configura um livro divertido, com um real valor cômico. Dei risadas sinceras com a excedência de instinto protetor dos irmãos de Daphne, com as interações do casal principal e com a relação dos Bridgerton em si. A família possui diferentes personalidades interessantes, embora poucas tenham sido exploradas neste primeiro volume. Inclusive, tal fato me trouxe certa decepção. Ainda não assisti à série, mas é perceptível que personagens secundários recebem mais destaque na obra televisionada do que na escrita. Senti falta de influências externas realmente relevantes no relacionamento de Daphne e Simon. Porém, em geral, cumpriu os requisitos básicos de romance fofinho (se é que posso chamá-lo assim) e interações hílares.
É impossível, no entanto, ignorar certos aspectos da obra. A exemplo do desenvolvimento raso do casal principal, que aconteceu de maneira repentina, ao meu ver. Em um momento, há apenas o sentimento de amizade mútua e no outro eles já estão se casando, SEM QUALQUER APROFUNDAMENTO. Basicamente, a relação deles como casados só iniciou em razão do desejo sexual. Pelo que foi externado na escrita, o sentimento realmente amoroso surgiu depois do casamento oficial, DE NOVO, SEM APROFUNDAMENTO! O personagem principal, aparentemente, só acorda um dia e pensa: "Certo, vou começar a amar Daphne agora" e eles começam a ter uma boa relação. DO. NADA. Não tem um desenvolvimento realmente bem elaborado e percebi certa ineficiência, por parte da autora, de descrever o sentimento amoroso mesmo, desvencilhado do erótico. De maneira alguma superou minhas expectativas.
Entretanto, o que mais me incomodou nesse livro, foi a maneira como o estrupo foi abordado. Por algum motivo, a escritora decidiu que seria interessante tornar tal ato uma coisa normal. NORMAL. A Daphne não teve nenhum arrependimento pelo que fez. NENHUM. Pelo contrário, a personagem tinha ORGULHO do que tinha feito. MAS QUE BOMBA DE PENSAMENTO É ESSE?! Ela não teve nenhum peso na consciência ou piedade do Simon. Ela só queria o filho de um jeito ou de outro e obrigou seu marido a dar isso à ela. E FICOU FURIOSA PORQUE ELE NÃO QUIS. ELE SÓ NÃO QUIS. Tudo bem, era um tópico que iria ser desenvolvido no futuro, que contribuiu para o desfecho, MAS NADA ISSO JUSTIFICA QUE A PERSONAGEM ESTUPROU O MARIDO E NEM SEQUER SE ARREPENDEU. O que achei mais absurdo foi o fato de que o primeiro a tentar se reconciliar foi A VÍTIMA. A DAPHNE ESTAVA MUITO OCUPADA SE DOENDO PORQUE O ESTUPRO NÃO DEU UM BEBÊ PARA ELA, APARENTEMENTE.
Enfim, essa obra me traumatizou um pouco (muito) e me deixou muito consternada em certos aspectos. Não acho que seja um livro realmente bom, apesar de ter um potencial razoável. O problema realmente foi a falta de desenvolvimento e o desenvolvimento negativo e DESNECESSÁRIO da Daphne. Não consigo mais gostar da personagem. No fim das contas, enquanto Simon ainda estiver nas mãos dessa louca, ele está mesmo perdido. Forças, irmão.