Vincento Hughes 10/01/2022
Dumb witness
?Acidentes são coisas que acontecem com frequência e, às vezes, Hastings, pode-se ajudá-los a acontecer!?
Ninguém desconfiou da morte de Emily Arundell, uma senhora de mais de setenta anos e com conhecidos problemas de saúde. Até Hercule Poirot receber uma carta na qual Emily relata suas desconfianças de ter sofrido uma tentativa de assassinato, após receber parentes na Páscoa. A carta só é recebida quando a senhora já está morta.
Em ?Poirot perde uma cliente?, o famoso detetive criado por Agatha Christie embrenha-se em uma investigação dividida entre a vila de Market Basing e Londres, levando à história uma pitada daquele ar bucólico de histórias protagonizadas por Miss Marple. Aqui, Hercule Poirot conta com o apoio do seu fiel escudeiro, o capitão Hastings, narrador da trama.
?- Instinto! Você sabe que detesto esta palavra. Essa coisa de ? algo me diz?, jamais de la vie! Eu raciocino. Uso aquelas células cinzentas. Há um ponto interessante nessa carta. Um ponto que você não percebeu.?
Uma diferença interessante nessa história é que a autora dá uma espécie de vantagem ao leitor na ?largada?, por mostrar, nas primeiras páginas, a vida da Srta. Arundell, dona de um humor cáustico e de um simpático terrier chamado Bob. Assim, ao sabermos de alguns fatos antes de Poirot, pensamos que desvendaremos com facilidade o mistério. Ledo engano!
Poirot e Hastings estão impagáveis, como em outras histórias vividas pela dupla, dando tons sátiros a várias momentos da investigação, sobretudo naqueles em que Poirot precisa justificar seu interesse na morte da Srta. Arundell.
Esse não é o último romance com Hercule Poirot, mas era o único que ainda não tinha lido. E, posso afirmar, sem dúvida, que passou no crivo de qualidade dos mistérios de Agatha Christie, como já era de se esperar. Se você tem excelente memória para nomes, recomendo que esse não seja o primeiro contato com a autora. Há um risco bem pequeno de que se lembre de um parágrafo com nomes suspeitos e associe a outras obras com Poirot ao lê-lo.
Mas isso pode ser apenas paranoia de quem já leu tudo e acha que todo mundo vai gravar todas as frases da história. A verdade é que, mais uma vez, mesmo sabendo das pistas sutis em diálogos e observando muitos comentários aparentemente casuais (uma das marcas da autora, também bem presente neste livro), incorporei o papel de Poirot e terminei com a desejada cara de enganado do Hastings.
Ah! E o título original ?Dumb witness? é bem apropriado.