Alan Martins 15/01/2019
Uma introdução a diversos mitos
Título: O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis
Autores: Thomas Bulfinch
Editora: Agir
Ano: 2014
Páginas: 360
Tradução: David Jardim Júnior
“O amor não pode conviver com a desconfiança.” (BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. Agir, 2014, p. 93)
Os mitos acompanham o ser humano desde os tempos mais remotos, sempre despertando a curiosidade, o medo e a imaginação. Nesse livro Thomas Bulfinch reconta inúmeros mitos de diversas partes do mundo, com maior ênfase na mitologia greco-romana.
Banqueiro erudito
Thomas Bulfinch nasceu na cidade de Newton, Massachusetts, em 1796. Sua família não era muito rica, porém, possuía muitos contatos, o que possibilitou com que Thomas estudasse nas prestigiadas Boston Latin School e Phillips Exeter Academy, antes de ingressar em Harvard, onde se graduou em 1814.
Ele lecionou na Latin School por algum tempo, até conseguir um emprego em um banco. Apesar de não ter sido um “grande emprego”, o salário era bom e Thomas, que nunca se casou, tinha tempo para escrever após o expediente.
Além da mitologia greco-romana, o autor estudou a mitologia de diversos povos e culturas. Seus trabalhos sobre mitologia mais conhecidos são: ‘The age of fable, or stories of gods and heroes’ (1855); ‘The age of chivalry, or legends of King Arthur’ (1858); e ‘Legends of charlemagne, or romance of the Middle Ages’ (1863). O autor faleceu em 1867, aos setenta anos.
“O sexo feminino desempenha importante papel na mitologia grega, quer quanto ao número de personalidades interessantes, quer pelo valor dos atos praticados.” p. 180
Universo dos mitos
Como eu disse anteriormente, Thomas Bulfinch reconta inúmeros mitos, alguns orientais, egípcios, nórdicos, falando, também, um pouco sobre os druidas e Beowulf. O grande foco do livro é a mitologia greco-romana, onde diversos deuses são apresentados, com maiores detalhes.
Bulfinch sempre cita algum poeta clássico, como John Milton, dando exemplos de como tal autor utilizou determinado mito em sua poesia. Vale ressaltar que até mesmo Camões é citado, pois há uma influência mitológica em sua obra ‘Os Lusíadas’, e não é tão comum ver autores anglo-saxões citando colegas lusófonos.
Quem não conhece muito sobre mitologia e quer aprender um pouco mais, encontrará em ‘O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis’ uma boa introdução, que lhe dará certo conhecimento, por vezes superficial, porém suficiente para não ficar perdido ao encontrar citações em outras obras. Bulfinch até faz um resumo sobre obras clássicas, como ‘Ilíada’, ‘Odisseia’ e ‘Eneida’, afinal o livro não fala apenas sobre deuses, mas também sobre heróis.
“Assim, sejam quais forem os males que nos ameacem, a esperança não nos deixa inteiramente; e, enquanto a tivermos, nenhum mal nos torna inteiramente desgraçados.” p. 24
Nada profundo
Quem procura um livro profundo sobre mitologias, pode ficar decepcionado. O autor apresenta os temas de maneira superficial, como se fosse um resumo, uma apresentação. Se o seu interesse for a mitologia greco-romana, você sairá um pouco mais satisfeito, caso contrário, não crie grandes expectativas.
Um ponto negativo é a mistura de nomes gregos e latinos, que pode fazer o leitor se confundir. Como Bulfinch estudou a língua latina, ele costuma usar os nomes latinos dos deuses, por exemplo: Júpiter=Zeus; Plutão=Hades; Miverva=Atena. Quem preza pelos nomes gregos, terá outra decepção.
Apesar de tudo, o livro é bastante didático, nada complicado. A escrita de Bulfinch é agradável e ele até se atreve, em certos momentos, a dar seu ponto de vista. Seu conhecimento sobre mitologia foi fortemente influenciado por Ovídio e Virgílio.
Ao ler o título desse livro, até parece se tratar do “guia definitivo sobre mitologia”, o que seria um engano. Por ser uma obra publicada por um selo do Grupo Ediouro, a parte “livro de ouro” vem do Ediouro. É uma boa leitura, todavia, sem grande profundidade nos assuntos tratados.
“As almas não morrem jamais, mas sempre deixam uma morada para passar a outra.” Citando Ovídio, p. 278
Sobre a edição
Edição comum. Brochura, capa sem orelhas, miolo em papel offset (branco). É um livro de tamanho fora do comum, sendo maior que edições em capa dura. Dessa forma, cabem mais palavras e linhas nas páginas; se fosse uma edição de tamanho padrão, talvez o livro tivesse quatrocentas páginas, ou mais. É uma edição bem simples e frágil, meio molenga, mas não custa caro.
Tradução de David Jardim Júnior, que utiliza uma linguagem um pouco mais rebuscada, não muito erudita, porém longe de ser simplista. Essa tradução já está no mercado desde os anos 1980, e é um bom trabalho. Entretanto, parece que a editora não quis ter o trabalho de revisá-la, já que a ortografia não está atualizada, assim como algumas notas de rodapé. Como se trata de uma tradução do século XX, algumas notas fazem alusão a esse século. Porém a minha edição é de 2014 e as notas continuam fazendo alusão ao século passado, como se ainda estivéssemos nele. Faltou muito capricho aí, parece até preguiça. Cadê a revisão?
Há diversas pinturas espalhadas ao longo do livro, que ilustram o assunto abordado em cada capítulo. Isso é bem legal.
“Os gregos acreditavam que a Terra fosse chata e redonda, e que seu país ocupava o centro da Terra, sendo seu ponto central, por sua vez, o Monte Olimpo, residência dos deuses, ou Delfos, tão famoso por seu oráculo.” p. 13
Conclusão
Se você já leu outras obras sobre mitologia e possui certo conhecimento sobre o assunto, talvez ‘O livro de ouro da mitologia’ não seja o livro mais indicado, já que seu autor, Thomas Bulfinch, não aborda os mitos de maneira aprofundada. Os capítulos são apenas superficiais, funcionando como uma introdução para aqueles que ainda não conhecem muito sobre mitologia. O foco principal é a mitologia greco-romana, que toma boa parte do livro, entretanto outras mitologias também são apresentadas, como a egípcia, a nórdica, oriental, e há um capítulo que fala sobre os druidas — são mitologias apresentadas de maneira mais resumida ainda. Bulfinch, por ter estudado latim, utiliza os nomes latinos, equivalentes dos deuses gregos, o que pode deixar muita gente decepcionada, e gerar confusão. Uma leitura nada complicada, pois o livro é bastante didático e a tradução ajuda. A edição é bem simples e a editora poderia ter feito um trabalho de revisão melhor, atualizando a ortografia e algumas notas de rodapé. Não espere um livro profundo, mas sim uma boa introdução, para leitores iniciantes. Se esse for seu caso, vale a pena.
“Como o nome do deus significa tudo, Pã passou a ser considerado símbolo do universo e personificação da natureza, e mais tarde, enfim, foi olhado como representante de todos os deuses e do próprio paganismo.” p. 167
Minha nota (de 0 a 5): 3,5
Alan Martins
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