spoiler visualizarVivi 07/12/2020
Aprendendo com êxtase o prazer de aprender
Considerando minha subjetividade e o momento em que pude ter a estremecente oportunidade de ler tal obra, cá dentro ruge genuinamente o pudor de perceber e prontamente dizer: esse livro me mudou. Primeiramente, é importantíssimo falar que, é um livro sobre libertação feminina (afinal, falar de prazer nos dias de hoje ainda é difícil para nós), sobre autoconhecimento, sobre autotranscendência, sobre papéis de gênero (que tanto tiram a liberdade de "ser"), sobre amores líquidos, e, profundamente, sobre a existência.
No Rio de Janeiro, Lóri, professora primária, repleta de crises existenciais e sempre distraída pelo não-saber - que só ela mesmo sabe - ao esperar um táxi, encontra-se com Ulisses, professor de Filosofia, um sujeito que almeja ser Sócrates, mas, ainda nada no mar da ignorância (disfarçadamente). E, neste grande aprendizado (o livro), esse encontro entre Lóri e Ulisses faz o mar dos dois estremecerem freneticamente, o de Lóri, principalmente, eles entram numa jornada sincera de amor, acrescentando e ensinando algo ao outro. Ela é uma mulher que busca o autoconhecimento, porém, tem medo de si mesma e do mundo, tem medo do viver. Seria demais para ela. O que fazer? É infatigável sua busca por aprender a viver, ainda que lute contra este fato irrefutável. Um pouco de nós sempre está buscando por algo, Lóri buscava seu próprio ser, e como ser. Ulisses se assemelha a um psicólogo, a guiando, por meio da linguagem, por meio do debate socrático, neste mar cheio de descobertas. Durante a leitura, percebe-se, sutilmente e irrevogavelmente, o amadurecimento de Lóri, sua postura de responsabilidade ao fazer escolhas (Logoterapia amou) e deixar de se vitimizar diante da vida. Ela entra no mar sozinha na madrugada isolada, e descobre a solitude. Ela acorda num sobressalto do sono, e delicia o existir. Ela se banha do luar prata e reconhece que existe um macrocosmo e um microcosmo. Ela transa com Ulisses com a certeza de que "é" juntamente a ele. Ela se delicia com os raios crepusculares renovando suas energias para continuar aprendendo. Ela sente por seus alunos o amor fraternal. Ela vive. Ela aprende. Ela sente prazer. Ela sente prazer ao aprender. E, tudo isso, descobrindo seus sentidos. É um processo cheio de idas e vindas, de evoluções e retrocessos, de encontros e desencontros, de paciência e, principalmente, de muito "apesar de" (...uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi....). Eu aprendi que deve haver a constante busca de saciar o desejo de aprender, de querer sentir prazer em viver, e, de aproveitar todo o trajeto se doando de corpo e alma, sendo quem se é, e vendo os detalhes do existir. Senti uma contemplação extrema com a linguagem, a escolha das palavras, a estrutura do livro e o sentimento de degustar-se, enquanto se degusta o livro. Deguste de corpo e alma e deixe ser invadido pelos detalhes magníficos e mágicos da linguagem.
Lóri habita em mim e despertou-se. Desencadeou uma límpida e feérica fome pela verdade da existência.