NatashaIshida 16/09/2012
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O livro da vez é Filhos do Éden de Eduardo Spohr, que também é autor do best-seller A Batalha do Apocalipse. Filhos do Éden será uma série de livros (o segundo livro ainda está sendo escrito), e é uma história contada antes de ABdA (até por que depois do Apocalipse não sobra nada).
Esse livro me intrigou bastante, quando comecei a ler, não sabia se eu estava gostando ou não. O maior problema não foi a história, mas acho que as escolhas tomadas pelo autor em alguns trechos. Na maioria das narrações de ação, eu não só achava que os acontecimentos era clichês como também não parei de pensar que muita coisa é digna de filme de Sessão da Tarde. Isso pode parecer frustrante, mas não entenda mal, não quero dizer que a escrita do autor ou a história são ruins, longe disso, só acho que as escolhas do autor não foram felizes. Um bom exemplo é quando um personagem precisa escapar de um perigo e para isso ele pula em uma Hayabusa em movimento. Sim, os personagens são todos místicos, mas ainda assim isso incomoda bastante.
Ouso dizer que Eduardo Spohr não é autor pra ambientes urbanos, todas as partes que se passavam dentro da cidade deixaram uma sensação de desconforto durante a leitura, já indo para cenários como ruínas de uma civilização antiga ou dentro de uma caverna, tudo melhorava, parece até que o autor toma muito mais gosto por escrever quando os personagens saem da cidade. Não sou de escolher capítulo ou crônica favorita, mas o capítulo 26, “Guerra de Trincheiras”, foi o mais emocionante e legal de ler, quero muito que o autor considere escrever livros narrando guerras.
O começo do livro foi um pouco lento, talvez por eu não ter criado nenhum fio de empatia por Kaira, a protagonista. Não sei se era a intenção, mas a personagem é bem confusa, ora é frágil e tonta, ora é uma guerreira habilidosa, essa oscilação não foi sutil, sem falar que várias vezes perdi a noção de quanto tempo havia se passado. Mas me sinto na obrigação de acrescentar que é interessante como vamos descobrindo sobre o universo do autor à medida em que ela também reaprende. O livro também é muito previsível, até tira um pouco da empolgação quando você termina uma parte do texto e pensa “já imaginava que isso fosse acontecer”.
Sobre os personagens, tive a impressão que o autor não confia na memória dos leitores, pois houve muita repetição das mesmas características das castas, por exemplo, “fulano respondeu brutalmente pois era um querubim”, “fulano abriu a porta com um chute que quebrou-a em mil pedaços porque isso é comum para os querubins”. Depois de certo tempo, conhecemos os personagens e esse tipo de comentário passa a ser desnecessário e até um pouco chato.
Não consegui criar nenhuma ligação com Kaira, achei uma personagem chata, confusa e irritante, mas pelo menos melhorou nos últimos capítulos. Urakin e Levih são tão importantes para a história mas ainda assim parecem meio deslocados, como são meus personagens preferidos, eu senti falta de saber mais sobre eles, não me importaria em ter lido umas páginas a mais. Denyel é como o Han Solo do livro, tem tudo pra ser o personagem preferido de muita gente, acho que seria o meu também se não fosse pelos diálogos que atrapalham bastante; a história do personagem é bem legal e tem vários capítulos que servem para contar sobre acontecimentos que ele presenciou, mas existe algo que faz enjoar o personagem, talvez por que tente parecer ser badboy demais, mas não deixa de ser interessante.
A escrita do autor é boa, ele narra bem os fatos, sua descrição é até exagerada. É um livro fácil de ler e compreender. Não reparei em nenhuma parte que seja parada demais, sempre está acontecendo alguma coisa e isso é muito bom pra prender o leitor. E sempre que você pensa em desistir, aparece um capítulo que te anima outra vez.
A mitologia é bem introduzida, gostei da referência ao folclore brasileiro, tem uns curupiras sutilmente inseridos na história. Acho que o que tem de mais interessante no geral é a personalidade dos anjos, que são vistos na nossa cultura atual como seres perfeitos, puros e bonzinhos, e no livro são representados como criaturas que odeiam, invejam, matam e morrem. Provavelmente não será um livro muito bem aceito por aqueles cristãos mais ortodoxos ou que tem a mente mais fechada, então não é uma boa opção de livro para dar de presente pra sua mãe ou avó católica fervorosa.
O livro é bom, peca em várias coisas sim, mas ainda assim me deu vontade de ler a continuação. Algo me diz que o segundo livro vai ser incrivelmente mais emocionante, vou ficar esperando. Minha nota geral foi 7/10.
Só pra constar, pelo menos na minha edição veio o prólogo do livro 2, mas optei por não ler.