O estrangeiro

O estrangeiro Albert Camus




Resenhas - O Estrangeiro


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Luciana Lís 27/02/2015

“Hoje a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem”. O Estrangeiro (1942), a mais famosa obra do argelino Albert Camus, é a história de Mersault, um escriturário que vive em Argel, homem que nada exige da humanidade, que vive entre a irracionalidade da vida e a práxis de equilibrar-se em sua rotina – não chorou no velório de sua mãe, a quem havia deixado num asilo tempos antes após entrarem em acordo mútuo: nada mais esperavam um do outro. No dia seguinte ao enterro dela, foi à praia, ao cinema, e iniciou um romance com a mesma mulher a quem disse que não amava, mas a desposaria se ela assim quisesse. As reflexões mais imponentes do livro são provocadas a partir do julgamento de Mersault, que assassinou um árabe na praia. As razões que culminam com a imputação da culpa não são o verbo do crime do qual era acusado, matar, mas toda a observância de sua frieza e racionalidade frente à vida – para o juiz, a falta de sensibilidade diante do defunto da mãe ou a inércia diante da agressão física a uma mulher oprimida se tornam razões mais relevantes diante do assassinato que cometera. Questionado sobre as razões do crime, alega que o calor e o sol o fizeram chegar à situação limítrofe de disparar quatro tiros contra o homem que matara. E para ele essa era a única e verdadeira razão coerente, já que a busca por falsas alegações emocionais seria firmar um pacto com um sistema social com o qual ele não é condescendente. E por não agir com a sensibilidade a que a humanidade tornou convencional, Mersault recebe uma condenação irreversível. Ao recolher-se a prisão, emerge num lúcido e cruel monólogo em que afirma o desejo de continuar a existir do mesmo modo com que construiu tudo aquilo que chamava de sua vida, tendo apenas o que é verdadeiro, negando a Deus, e que mesmo diante da sentença proferida pelo juiz e endossada por toda a sociedade, ele afirma que foi um homem feliz.
Por: @lucianalis

site: Para mais resenhas: instagram.com/coletivoleituras
Antonio 12/04/2015minha estante
Parabéns, linda resenha de um livro espetacular, cheio de metáforas, escrito de maneira fluida, fácil de ler, porém, difícil de compreender em todas as suas nuances.




Marcelo217 15/06/2023

Complexo demais para poucas páginas!
Esse livro é sempre bem falado por todo mundo que encontro. Vez ou outra ele sempre acaba aparecendo pra mim em algum lugar. Finalmente li e entendi o motivo da aclamação que ele tem.

Se por um lado a narrativa é crua, direta e sem rodeios, o personagem principal, Mersault, tem tantas camadas que fica dificil digerir tudo em tão pouco espaço. Sob uma perspectiva de perda e desapego da vida, o personagem trouxe para mim uma grande reflexão acerca da vida em si.

O enredo do livro gera um debate muito pertinente: o personagem é bom, ruim ou simplesmente humano? Mersault consegue ser apático, resignado e ao mesmo tempo inconsequente e reativo. Pela vida e por suas ações é muito relativo classificá-lo em um nicho específico e é muito interessante as proposições na qual Camus o coloca através dos seus personagens.

NUNCA SE MUDA O MODO DE VIDA - "uma vida era tão boa quanto a outra". O personagem a partir do momento que perde a ambição diante da vida, apresenta uma atitude de indiferença e uma honestidade lúgubre em relação à vida e a morte.

AMIZADE E AMOR: As relações de Mersault com os personagens são sempre à base de indiferença. No momento em que estava preso e sendo julgado é possível ver, pela sua perspectiva, como essas relações se tornaram líquidas, superficiais e quase sem significado. Em relação a Marie, eu senti quase como se ele quisesse ter mais apego a ela quando compara brevemente o contato dos outros detentos nas visitas.

RELIGIÃO: Há um embate proposto por Camus e até uma crítica velada com esse teor. Classificam-se também nesse contexto atrocidades criminais pela falta de Deus ou temência advinda de alguma doutrina.

PRISÃO: Há uma estranha aceitação por parte de Mersault no viver enclausurado. Ele vê a cadeia como um lugar confortável, de reflexão e um refúgio da sociedade.

JUSTIÇA: independente do crime que Mersault cometeu, Camus apresenta a justiça como parcial, falha e tendenciosa ao comparar condutas de crimes por motivações diferentes. O personagem é igualmente julgado por questões de remorso e sensibilidade, como as pessoas viam a sua personalidade.

O livro, mesmo tendo um tamanho bom para o seu desenvolvimento, teria potencial para ser explorado muito mais. Albert Camus criou um personagem humano e falho em sua condição que nos faz refletir sobre conduta, sentimentos, personalidade e atitudes diante da vida. "O estrangeiro" é um livro atemporal, capaz de gerar incontáveis debates sobre a inconstância do ser e relações interpessoais e sociais.
Cketh 15/06/2023minha estante
Realmente, a sutileza em tocar em assuntos complexos em tão poucas páginas supreende




stt4r 05/05/2023

"Tudo é verdade e nada é verdade".
"O Estrangeiro", um livro que espanta um pouco pelos acontecimentos repentinos, porém traz consigo diversas reflexões, além de remeter atenção e compreensão individual do leitor.

Sério, desde a primeira frase do livro eu fui pega de surpresa e me fez ter vontade de compreender melhor essa filosofia do absurdo proposta por Camus em seu livro, sem ir em busca de sua teoria de fato. É um pouco confuso no começo, porque há um certo questionamento que nos beira sobre o protagonista do livro, Meursault: como pode alguém ser tão indiferente e apático a tudo que acontece ao seu redor, até mesmo com a morte de sua própria mãe, ou até mesmo quando assassinou um homem sem motivo algum?

A pergunta só foi respondida no final do livro pelo homem, mas, ao mesmo tempo, nada foi respondido realmente. O motivo? Não há uma resposta do porque fazemos o que fazemos. Podemos pensar em diversos motivos no porque agimos dessa maneira, do porque pensamos assim, do porque sentimos todas essas coisas, mas é impossível chegar em alguma resposta que de fato seja a verdade absoluta.

Portanto, há sentido na vida? É justamente sobre isso que Meursault reflete e sempre se questiona, ainda mais quando está prestes a ser executado. Por um lado, nós realmente não possuímos um propósito de vida, mas, nosso objetivo não é buscar tal propósito? Isso nos leva a um eterno paradoxo. A vida pode não ter sentido algum, realmente, mas sempre estamos buscando um sentido para ela, mesmo que não alcancemos tal objetivo. Assim, sentimo-nos felizes em pensar que finalmente superamos essa carência, sendo que, na verdade, é somente o início de toda a vida, de tudo o que vem pela frente, que surge a partir dessa nossa busca.

A busca por um propósito só nos induz a fazer o que fazemos e, por isso, nada é destinado a acontecer daquela maneira. Mesmo sem perceber, podemos mudar drasticamente tudo que nos cerca em um piscar de olhos, e tudo isso é consequência de darmos um sentido às nossas vidas.
Denny's 05/05/2023minha estante
É isso!




Sergio Carmach 12/05/2015

A sociedade toma por base o sistema de crenças e as manifestações exteriores de um indivíduo para julgar seu caráter, intenções e sentimentos.

A despeito das inúmeras e profundas análises já feitas a respeito desse livro, eu diria que O Estrangeiro basicamente afirma a frase acima.

Alguns dizem que esse livro é superestimado; outros afirmam que é uma das melhores obras já escritas. Bem, eu gostei. Bastante até! Não porque a história é aclamada, mas porque ela, de forma interessante e inteligente, leva o leitor a fazer indagações relevantes. Eu me perguntei: é um homem como o protagonista Mersault que se faz estrangeiro ou é a terra que se faz estranha a ele? Quem precisa compreender quem? Seria Mersault um ser insensível ou simplesmente sereno frente à vida? Na verdade, insensíveis não seriam as sociedades, acostumadas a esmagar os indivíduos sob seus padrões e convenções?

O livro se divide em duas partes. A primeira é essencialmente uma narrativa factual; e o leitor pode até se sentir lendo um relatório. Mas, seja como for, nada ali é dito à toa. Cada mínimo movimento de Mersault e cada situação vivida por ele serão lembrados e analisados na segunda parte, trecho do livro onde o leitor encontrará a “ação” da história e o espírito filosófico de Camus.

"Darei a prova do que afirmo, meus senhores, e dá-la-ei duplamente. Sob a crua claridade dos fatos em primeiro lugar e em seguida sob a iluminação sombria que me será fornecida pelo perfil psicológico desta alma criminosa", disse o procurador encarregado da acusação de Mersault. Em A Peste, Camus expôs precisamente, na voz do padre Paneloux, a forma (torta) de pensar dos cristãos diante das calamidades; do mesmo modo, o autor soube, em O Estrangeiro, traduzir perfeitamente a maneira de raciocinar da Justiça e da sociedade quando confrontadas por personalidades como a de Mersault. Acompanhar a lógica acusatória do procurador é uma satisfação para o leitor, mesmo que ele discorde do que diz o personagem. No julgamento fica claro que às vezes a verdade pode, sim, parecer ridícula; tão ridícula, que soa irreal, absurda.

Nas últimas páginas, surge o velho conflito entre razão e religião; no caso, entre materialismo e espiritualismo. A meu ver, outro ponto alto de um livro que, independentemente de ser ou não genial, vale muito a pena ser lido.

site: http://sergiocarmach.blogspot.com.br/2015/05/resenha-o-estrangeiro.html
Douglas 19/07/2019minha estante
muito bem observado, Sergio.
o livro é interessantíssimo. confunde, instiga e provoca.
e cabem muitos questionamentos acerca da vida de Mersault... pra tudo existe uma causa.




Julia.Presner 01/09/2023

Não esperava por esse final, não esperava pelos acontecimentos finais já que na maior parte do livro a serenidade se estabelecia. Me surpreendi porque demorei a entender o intuito de toda a narração, não entendia a quê ponto o narrador queria chegar.

Por mais que eu não tenha facilidade em imaginar toda a descrição das histórias, as reflexões foram totalmente apreciadas, pois me identificava com a neutralidade, com a falta de importância ao mundo exterior que Meursault apresentava. O narrador personagem seria facilmente julgado por ser, além de tudo, um tanto narcisista. Mas o fato é que ele não era. Ele era ele, e o que incomodava à sociedade, era que ele não se sentia na obrigação de se explicar o tempo todo. Não precisava provar nada a ninguém, nem mesmo quando foi julgado no tribunal. Aceitou os fatos. O problema não era ele, mas sim o desprezível costume das pessoas em exigir ação. A maioria não aceita a plenitude de uma alma e nem mesmo o silêncio de um indivíduo. Tudo tem que ser caótico, sensacionalista, e Meursault fazia parte da minoria, e fez parte até o fim de tudo aquilo.
Sonic Judeu 02/09/2023minha estante
Descreveu perfeitamente




midnightrainz_ 11/12/2023

Cabeças explodindo a todo momento
Faz aproximadamente 3 dias que eu terminei esse livro e eu ainda não consigo montar uma linha de raciocínio clara e racional para poder falar sobre ele, mas vou tentar assim mesmo

nunca na minha vida um livro me fez refletir tanto quanto esse. cada palavra que eu lia eu sentia a minha mente se abrindo e um novo mundo sendo descoberto por mim. comecei a enxergar traços dessa história para tudo q eu olhava, e pensei em como é bizarro q um livro publicado 80 anos atrás consegue se manter ainda tão atual

ainda não atingimos o mesmo nível de indiferença (e consequentemente liberdade) de mersault, mas recebemos o mesmo tratamento de "estrangeiros". existe uma certa cartilha invisível de convivência social que precisamos seguir a risca e sem nos questionarmos para que não padeçamos no tribunal social. podemos observar isso no recente caso da família da ana benevides, mulher morta pela incompetência de uma empresa bilionária nos recentes shows da taylor swift no brasil, que foi severamente criticada por ter tirado uma foto com a artista favorita da moça na qual sorriam. não muito diferente do tratamento dado a mersault por não ter chorado no velório da mãe, como se alguém tivesse direito de ditar como alguém deve ou não viver o luto.

outra questão muito curiosa nesse livro é a invisibilidade da vítima da história: o árabe. para começo de conversa, ele nem sequer tem nome, um completo ninguém na sociedade. o próprio caso a princípio não chamara a atenção de ninguém, pq 1- a vítima não era importante e 2- a história era muito simples. contudo, toda aquela situação sofre uma virada de mesa brusca quando a acusação decide juntar o assassinato do árabe ao comportamento de mersault no velório da mãe, dando extrema ênfase a esse último. com isso, a pouca importância que o árabe tinha no caso se esvai completamente, as testemunhas estão todas ligadas a mãe de mersault, ninguém da família dele, ou alguém que o conhecia, até mesmo alguma testemunha ocular é chamada para depor. por que isso? por que o homem morto não importa. qm liga pra história de um qualquer morto a tiros numa praia quando vc tem esse psicopata que não chorou pela morte da mãe?

outro ponto que quero comentar é a respeito de salamano. ele é um vizinho de mersault e tem um cachorro o qual odeia (pelo menos, o trata como se odiasse) e vive maltratando, gritando. o animal vivia machucado e era extremamente magro. não me lembro com muita clareza, mas se eu não me engano tem um trecho que salamano fala que queria se livrar do cachorro ou algo do tipo. mas, quando esse animal foge, o homem entra em desespero, procurando por todos os lugares, perguntando às pessoas na rua. não consegue obter resposta alguma, e volta todas as noites para a casa onde chora até adormecer. a história desse homem me deixou muito reflexivo sobre como as vezes na vida agimos um pouco como salamano: nos submetemos a situações que detestamos, mas não conseguimos ficar sem. uma relação meio abusiva com a nossa própria existência, eu diria

no fim, o estrangeiro, pelo menos para mim, é sobre isso: um livro sobre um personagem que se recusa a seguir convenções sociais e será condenado por isso (que fique claro que isso não é uma defesa, até pq ele tem alguns atos bem questionáveis ao longo da história)

segue a forte dica desse livro maravilhoso que eu poderia ficar falando sobre por horas e ainda haveria assunto deixado de fora (como a questão do sol). é um livro extremamente enxuto, cada frase colocada nele tem um propósito, e isso é simplesmente lindo. quero tentar ler mais coisas do autor ano q vem, preferencialmente "a peste" ou "o mito de sísifo"

ps: uma última coisa a comentar, o último capítulo tando da primeira parte quanto da segunda são simplesmente obras primas
nat 19/12/2023minha estante
amei sua resenha!!!!
ficaria horas conversando sobre esse livro com vc.. pq tem tantas coisas a se dizer dele, realmente um livro muitíssimo bom




Nana 18/07/2023

Livro nr 26 do projeto "A volta ao mundo através dos livros"
País sorteado : "Argélia"

Sinceramente o que achei do livro? Chaaaato!

As primeiras páginas são um tédio, quando chegou na metade até melhorou um pouquinho, mas não achei nada de mais. Ainda bem que tem pouquíssimas páginas, senão eu teria desistido no início com certeza.

É apenas a estória de um sociopata, sendo contada de forma bem resumida e que foi super valorizada pela mídia como tantos outros sendo chamados de " clássicos". Totalmente esquecível!
yatamaki 19/07/2023minha estante
totalmente esquecível é o que esse livro realmente é, além de ser maçante




Augusto254 26/01/2024

O calor que entorpece
"O Estrangeiro", de Albert Camus, é uma obra filosófica que examina a vida de Meursault, um homem aparentemente indiferente a emoções e normas sociais. A narrativa explora a alienação e a falta de sentido na existência humana, culminando em um ato impactante que desafia as convenções morais. Camus utiliza uma prosa direta e introspectiva para questionar a natureza da moralidade e da liberdade individual, deixando os leitores imersos em reflexões existenciais profundas.
JULIANA_PFRANCO 31/01/2024minha estante
Ótima resenha! ??




Malu 16/07/2023

#MLI2023
Sinto que não compreendi totalmente as camadas desse livro e vou precisar reler no futuro.

Foi uma leitura rápida e chocante, no início, olhando aquele personagem não esperava que teria o fim que teve, mas que foi merecido foi.
Emerson271 16/07/2023minha estante
Livro que me deixou com mal estar terrível, li faz muito tempo e a sensação não desapareceu. Como meu estômago fosse uma máquina de lavar ...




LQuei 03/07/2022

Sem palavras pra descrever o sentimento que se tem ao ler esse livro. Uma mistura de injustiça, justiça, felicidade, tristeza, sorrisos e lágrimas. Um livro que nos faz refletir muito sobre a vida e a morte. Apenas ler pra entender

?Do fundo do meu futuro, durante toda esta vida absurda que eu levara, subirá até mim, através dos anos que ainda não tinha chegado, um sopro obscuro, e esse sopro igualava, à sua passagem, tudo o que me haviam proposto nos anos, não mais reais, que eu vivia?
Maria 03/07/2022minha estante
Ta lendo mt vei????




Sylvia 11/03/2020

Camus
Que livro! Que história gostosa de ler!
Primeira experiência com Camus e virei fã!

Que personagem tão bem construído. Tão apático, tão alheio, mas tão cativante!
Diogo Maciel 11/03/2020minha estante
Minha primeira experiência com ele também foi por este livro. Que obra!




spoiler visualizar
Ticiana.Oliveira 13/09/2016minha estante
Nossa, não sabia que tinha servido de inspiração para essa música dos Engenheiros.
Adoro Engenheiros e sempre gostei de saber da história por trás das músicas do Humberto!
Interessante.




Ricardo 13/07/2018

Tanto faz
Incrível como o autor construiu um personagem que é um espectador da própria vida. Durante toda a trama ele é conduzido por outros ou por circunstâncias, cada vez mais e mais incapaz de ditar o próprio destino, até o ponto onde ele é literalmente um prisioneiro. É uma leitura inquietante onde em momentos fiquei perplexo por me identificar com o personagem e em outros fiquei irritado com suas atitudes. Impressionante também a relaçào do personagem com a luz e a noite, e a influência do calor sobre o seu temperamento. Belo livro, fugaz e cheio de metáforas remissivas entre seu início e seu fim. Bravo Camus!
João 21/07/2018minha estante
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Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018

A Hipocrisia Humana
Vencedor do Prêmio Nobel em 1957, o franco-argelino Albert Camus (1913-1960) é um dos maiores nomes da literatura do século XX, em especial, graças a ?O Estrangeiro? que abre sua "Trilogia do Absurdo" da qual também fazem parte "O Mito de Sísifo" e "Calígula".

Em linhas gerais, este absurdismo é considerado uma retomada das reflexões do filósofo Søren Kierkegaard e neste romance, está personificado nas atitudes e reflexões das personagens, sobretudo, de seu narrador e protagonista.

Chamado Mersault, ele não passa de um simples funcionário público cuja cuja vida é um vazio, pois é incapaz de amar, odiar, sentir qualquer emoção. Na verdade, ele se comporta como se fosse um "estrangeiro", tomando como perspectiva ao invés de um país, a própria a humanidade.

Publicado em 1942, o livro causou grande impacto, sendo classificada por boa parte da crítica como existencialista, uma corrente filosófica muito em moda na Europa e que ganharia força no pós-guerra. Camus sempre rejeitou essa ideia e chegou a escrever: ?Não sou existencialista, o único livro de ideias que eu publiquei, ?O Mito de Sísifo?, foi contra os existencialistas?, todavia este posicionamento não impediu que ele e Sartre mantivessem um relacionamento cordial até o rompimento em 1951, por questões políticas.

O livro divide-se em duas partes. Na primeira, o foco está em Meursault e na sua indiferença, até mesmo diante da morte da mãe, fato que choca o leitor; na última, a história surpreende pelo disparate da própria sociedade que, ao julgá-lo por um crime, também o julga pela sua maneira singular de encarar a vida sem fingimento.

Com uma história aparentemente simples, ?O Estrangeiro? possui um forte conteúdo filosófico, traçando uma crítica feroz à imprensa, ao sistema judiciário e a religiosidade. O romance também denuncia a hipocrisia do ser humano que usa os sentimentos como forma de manipulação e conquista do poder.

Nota: Essa edição exibe o prefácio do jornalista Manuel da Costa Pinto, um estudioso de Camus, no entanto, devido à presença de spoilers, recomendo a leitura somente após a conclusão da obra.

"Toda a infelicidade dos homens nasce da esperança." (Albert Camus)
João 21/07/2018minha estante
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Marcos Renan 27/01/2018

O estranho.
Era uma vez um homem indiferente a tudo e a todos. Ele não se importa com os vizinhos barulhentos e violentos. Ele não se importa com o emprego dele que paga mal e tem um chefe meio tirano. Ele não se importa nem mesmo que a mãe acabou de morrer. Como um animal no aquário, ele reage aos estímulos naturais: ele come quando tem fome, ele bebe quando tem sede, ele fuma quando tem vontade, ele faz sexo quando tem desejo, ele sua quando fica embaixo do Sol.

Camus descreve Meursault, o personagem principal, apenas com moderação. Na maior parte da novela, Meursault não tem opinião real sobre nada e nada o afeta (nem mesmo a morte da própria mãe). A falta de descrição, motivação e ação faz com que o leitor acabe preenchendo esse vácuo com seus próprios preconceitos e percepções sociais, tornando o leitor tão mais envolvido quanto o autor na construção desse mundo.

O estranho provavelmente não é o que se espera da maioria das novelas. Toda a história é um exercício deliberado no absurdo; e, enquanto o enredo é muito simples, e os personagens são aparentemente unidimensionais, tudo funciona em conjunto para criar um trabalho filosófico bem peculiar. O universo que existia antes de nós, vai continuar existindo depois de nós. Logo, (i) nossa existência não tem utilidade alguma e (ii) a nossa tentativa de atribuir significado a coisas que não tem significado nenhum é absurda! Ou seja, uma vez que a existência não tem nenhum sentido e nenhum significado, é nossa obrigação como seres humanos lidar com essa sensação insuportável de vazio que essa noção nos proporciona. Diante de tudo isso, sempre existe a opção de darmos uma de Mersault e replicar seu jargão: “para mim, tanto faz”.

Todos nós compartilhamos do mesmo destino, todos nós um dia vamos morrer, a vida é finita pra todo mundo, o universo não faz sentido para ninguém. Então para que me desesperar? Nada faz sentido. Tudo é absurdo. Então vale a pena continuar vivendo, já que o mundo não tem sentido algum? Acredito que, na concepção do autor, essa deve ser a verdadeira pergunta que os seres humanos devem se fazer. É uma ideia bastante deprimente.
Jhon 31/01/2018minha estante
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