Miquéias :) 09/08/2023
"Hoje mamãe morreu. Talvez tenha sido ontem, não sei bem."
A frase acima abre o livro de forma devastadora, aqui conhecemos imediatamente a natureza niilista de Meursault, o homem que escolheu querer o nada a nada querer.
Camus não falha em prender o leitor, que se vê desafiado a compreender a psique estrangeira, de niilismo doentio e compulsório do nosso herói protagonista. O livro é curtíssimo, mas extremamente marcante e importante para a literatura filosófica do século XX. Semelhante à um sonho febril, tudo é muito bem sentido mas nem tudo consegue ser capturado, entendido.
Em determinado momento do livro, Mersault diz que aprendeu com sua mãe a se adaptar, a se acostumar com o ambiente e aceitar o inevitável. Imagino se não foi esse conformismo ensinado que gerou sua falta de empatia para com a própria progenitora, em seguida, para com sua própria situação, consequência de suas ações guiadas por um pensamento sempre tão estrangeiro à tudo que o rodeia. Todo o pouco significado, todo o metodismo, tudo que não apresenta importância para Mersault é, entretanto, de extrema importância para Camus, que dá forma à sua história pagina a pagina até seu grande desfecho explosivamente filosófico no fim.
Nesse sentido, Mersault me lembra Patrick Bateman.