Leonardo.H.Lopes 17/12/2023La Peste, de CamusA Peste, de Albert Camus, conta a história de uma epidemia de peste que assola a cidade de Oran, na Argélia. Após centenas de ratos saírem dos esgotos da cidade para morrerem nas ruas, a peste transmite-se para os seres humanos provocando mortes em massa. A cidade é fechada e isolada do mundo; ninguém mais entra ou sai de Oran; notícias não chegam mais e nem são enviadas; famílias são separadas; quarentena; escassez de recursos; limitação de lazer …
Nesse cenário, acompanhamos a história do médico, do capitalista, do jornalista, do servidor público e de uma miríade de personagens que desfilam pela alienação e opressão da situação que se abate sobre Oran e dura meses.
A praga que se abate na cidade literária de Camus é, nas palavras de Otto Maria Carpeaux¹, uma transparente alegaria da ocupação nazista na França. Entretanto, do romance cabem tantas interpretações que o mesmo deixa de ser alegoria e é elevado à categoria de símbolo. A posição da epidemia, entre ser praga em sentido real e, ao mesmo tempo, em sentido figurado, cria uma atmosfera onírica e de pesadelo que permeia todo o enredo. Segundo Carpeaux, “Camus escreveu o livro clássico sobre a Peste do nosso tempo”.
Através dos efeitos que o flagelo causa na sociedade d’A Peste, Camus retrata questões relacionadas ao destino e condições humanas, tecendo a impossibilidade dessas situações e declarando impossível, ou seja, absurda, a vida.
Pessoalmente, achei que o livro se inicia muito bem e se mantém interessante até a metade. Contudo, para a minha experiência de leitura, Camus não cria personagens vividamente interessantes. Não consegui sentir interesse pelo rumo dos personagens principais da narrativa, pois achei o livro cansativo da metade para o final, sem grandes acontecimentos que impulsionam a curiosidade do leitor, fazendo da leitura de um romance algo prazeroso e instigante. O enredo fica morno, sem tempero depois que nos acostumamos com a realidade endêmica de Oran que é criada no início da história.
Ressalvadas essas considerações altamente pessoais, A Peste é um bom livro que merece ser lido , afinal “o bacilo da peste não morre nem desaparece nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e nas roupas, espera pacientemente nos quartos, nos porões, nos baús, nos lenços e na papelada. [..] viria talvez o dia em que para a desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus rayo e os mandaria morrer numa cidade feliz.”
1 CARPEAUX, Otto Maria. História da Literatura Ocidental. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial - p. 2816-7