Jessica Becker 25/09/2017O Hipnotista, de Lars KeplerDesde o início da minha adolescência até não muito tempo atrás, o gênero literário que mais me interessava era o policial. Li tantas obras do gênero que, hoje, encontrar alguma que me agrade e que não seja clichê é tarefa difícil. O Hipnotista, de Lars Kepler, conseguiu fugir a essa regra, me surpreendendo de tal modo que precisei de tempo pra digerir algumas informações, conforme avançava na história.
“Eles pensaram que o garoto estivesse morto quando o encontraram entre os outros corpos na casa geminada. Ele havia perdido muito sangue e entrado em estado de choque, e só recuperou a consciência sete horas depois. Era a única testemunha viva.” (pág. 9)
Uma família foi brutalmente atacada em Estocolmo, resultando na morte do pai, da mãe e da filha mais nova. O filho de quinze anos, apesar de muito ferido, sobreviveu ao crime bárbaro e está em estado de choque no hospital. A única maneira que o detetive Joona Linna encontra para saber quem foi o responsável e tentar evitar que mais uma pessoa morra, é recorrer à hipnose.
Mesmo jurando não praticar mais a hipnose, depois de um incidente que ocorreu dez anos antes, o psiquiatra especializado em traumas Erik Maria Bark concordou em ajudar o detetive Joona a descobrir o assassino. Porém, sua decisão acarretará em graves consequências para si mesmo e para sua família.
“Há duas coisas que ele odeia, pensa, olhando para a pasta. Uma é desistir de um caso, se afastar de corpos não identificados, estupros e roubos não solucionados, casos de agressão e assassinato. A outra coisa que ele odeia, embora de uma forma inteiramente diferente, é quando esses casos são resolvidos, porque quando velhas perguntas são respondidas, raramente é da forma que se desejaria.” (pág. 417)
Escrito pelo casal sueco Alexandra Coelho Ahndoril e Alexander Ahndoril sob o pseudônimo Lars Kepler, a trama conta com dois enredos paralelos e suas ramificações. O massacre da família Ek, presente na sinopse do livro, é apenas uma das histórias e os autores nos apresentam a vários personagens e núcleos diferentes, algumas vezes despistando os leitores. Em dado momento a narrativa é interrompida e os autores voltam dez anos na história para apresentar fatos importantes da vida e da carreira do hipnotista.
Do ponto de vista de uma estudante de Psicologia, o melhor aspecto do livro é o desenvolvimento dos personagens responsáveis pelos crimes. Suas motivações, suas histórias de vida e as características de suas mentes doentias são fascinantes. Algo digno de nota e que me fez pausar a leitura em alguns momentos para processar todas as informações passadas.
“Fico pensando se os pais tem alguma ideia do que seus filhos fazem.” (pág. 377)
O único ponto negativo da obra foi o excesso de descrição, que deixou algumas partes um tanto maçantes. Foi muito difícil não pular alguns trechos.
Dessa forma, repleto de tensão psicológica, cenas bastante violentas e trechos que causam incômodo, O Hipnotista é uma excelente leitura, principalmente para aqueles que gostam de histórias perturbadoras.
“Algumas vezes as pessoas tem bons motivos para omitir as coisas.” (pág. 85)
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