Matheus.Correa 26/05/2024
O que fazer com o que fizeram da gente
Franz Kafka escreveu a Carta ao pai ( Brief an den Vater ) em novembro de 1919, aos 36 anos de idade. Próximo a sua morte e já consagrado e tendo seu projeto de terceiro casamento em mente. Kafka traz em seu relato, não apenas um escrito para estudos, de maneira inconsciente, pois não acredito que o autor gostaria que essa carta fosse pública, mas que traz luz a toda ideia de obra Kafkiana.
?Meus escritos tratavam de você, neles eu expunha as queixas que não podia fazer no seu peito? - Ao ler isso, me vi em Samsa, em a metamorfose e a sua ausência pré concebida ao se ver como um inseto na cama, e os traços da melancolia em estar deitado, só, não sendo produtivo, tornando aquilo que chamamos de tempo, menos precioso.
E assim como dizia Adorno: "(...) quando alguém mergulha em si mesmo, não encontra uma personalidade autônoma, desvinculada de momentos sociais, mas sim as marcas de sofrimento do mundo alienado."
Todas essas marcas estão nesse relato, relato doloroso que explora a percepção do autor sobre tiranias, soberba e desvio de conduta. Sobre quem rege o mundo e como aquilo que nos foi dado pode servir como inspiração e trauma para o que está por vir.
Kafka em sua obra de genialidade nos ensina sobre o quanto um pai pode motivar ou ser fonte recorrente da tristeza de um filho.
"Eu teria sido feliz por tê-lo como amigo, chefe, tio, avô, até mesmo (embora mais hesitante) como sogro. Mas justo como pai você era forte demais para mim."