adudabraz 13/04/2024
Enigma.
Ao compreender o porquê do título ?A Hora da Estrela? somos bruscamente lançados a um lugar onde não há paz ou conformidade.
?Tudo no mundo começou com um SIM. Uma molécula disse SIM a outra molécula e nasceu a vida.?
?Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. SIM.?
Ler Clarice Lispector é um enigma, pois é preciso estar disposto a desvendar lentamente o emaranhado construído por suas duras palavras, por seus sensíveis pensamentos.
Na narrativa, o olhar direcionado à vida de Macabéa, por parte do contraditório narrador Rodrigo, é repleto de desdém e superficialidade, como se tal mulher, pobre e nordestina, só existisse até a página dois, como se tivesse um ?viver ralo? e inútil, sem identidade.
E não seria isso? Afinal, o que há de interessante a ser dito sobre essa gente miserável?
Cruel ler isso, não? É exatamente nessa ferida que Clarice toca, ferozmente.
Qual é o olhar humano sobre ?essa gente?? Sobre ?as Macabéas? que integram a sociedade brasileira?
?Porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro - existe a quem falte o delicado essencial.?
No Nordeste não há apenas sol e fome. No Nordeste há vida.
No Nordeste há planos, há conhecimento, há arte, há pessoas que sentem e vivem.
A escrita da autora pode ser de difícil entendimento para alguns, foi pra mim, a princípio. Vale a pena, porém, persistir na leitura, que torna-se cada vez mais clara e envolvente, carregada de multifacetadas reflexões.
?Porque há o direito ao grito. Então eu grito.?
?A Hora da Estrela?, literatura profunda, cortante e gloriosa, à moda Clarice Lispector.
Por fim, aos que já leram a obra, em que momento da vida Macabéa verdadeiramente tornou-se estrela, sendo notada pelos que a cercavam? É assim para milhões de pessoas, fora da ficção. Vale a meditação.