Resenhas - A Hora da Estrela

Regis 06/05/2024

Ela vive sem saber para quê, sem se indagar
E daí que decidi começar a ler Clarice, mas começar como, se já a tinha lido antes? Eu já havia lido a triste e corriqueira história de Macabéa, mas tão nova, que talvez não tivesse sentido direito. Me disseram que essa era a história mais amena, mais serena, mais tranquila para começar a ler Clarice. A única que não reviraria minhas entranhas, meus sentimentos, meus avessos. A única que não me obrigaria a voltar-me para dentro de mim mesma e destrinchar minha existência para passar a limpo toda a espúria nódoa de meus pensamentos.

Então decidi reler Clarice e eis que A Hora da Estrela tomou proporções e ganhou espaço dentro de mim. 
O livro traz a presença forte de um narrador criado pela autora para que a história de Macabéa fosse contada pelo ponto de vista masculino. O narrador Rodrigo S.M. conta a história ao mesmo tempo que a escreve; ele é confuso, prolixo e, às vezes, frio ao narrar a vida dessa nordestina sozinha, ignorante de si mesma e substituível que veio do sertão de Alagoas para o Rio de Janeiro viver em um mundo que não foi feito para ela.

Macabéa é doce e obediente, tem um cheiro Morrinhento, é desprovida de encanto e delicadeza. Ela é feliz por não saber o que é. Ela vive sem saber para quê, sem se indagar. A única coisa que quer é viver. Macabéa se tivesse consciência de quem é e de como vive, talvez cairia dura no chão. 

Tudo que se diz de Macabéa é cortante e afiado, real e tátil é difícil não sentir essa leitura e abraçar a proposta do narrador/escritor de navegar pela mente da protagonista por entre as palavras que ele destila sem filtro e de forma lenta e emaranhada sobre uma virgem inócua que não faz falta para ninguém. 
Uma nordestina tola que representa várias outras como ela sem identidade que vagam espalhadas por cortiços, trabalhando em empregos estafantes e mal remunerados. 

O narrador vai nos dando pedaços da história enquanto divaga se perdendo em pensamentos e palavras que nos causa um certo deleite mental. Ele adia a narrativa e brinca com a ansiedade do leitor, provocando, instigando, tornando a história mais curiosa do que realmente é. Ele imprime a narrativa um ritmo descompassado, ela não parece clara, não é lúcida, apesar de dura e real ela paira por entre um nevoeiro de ideias e vez ou outra consegue ser avistada em meio a intensa cerração. Mas antes de tudo ele nos alerta de que nada nessa história cintilará e que não esperemos estrelas do que será narrado. 

Ao final do livro acabamos conhecendo tanto o narrador quanto Macabéa e dessa última fica conosco os questionamentos de ordem psicológica e existenciais que ela desperta. 

"Ela acreditava. Em quê? Quem sabe, apenas acreditava." 

Esse livro foi uma viagem que fiz duas vezes: uma com o olhar de menina, que quase nada compreendia, e agora com os olhos de mulher que busca ser desafiada pelas palavras e encontrou na escrita de Clarice um desafio à altura de suas expectativas.

Recomendo.

Legos 06/05/2024

(explosão)
E atravessou a rua com seu passo tímido (...)
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Construção - Chico Buarque

Lara2486 06/05/2024

A hora da estrela
Macabéa é o retrato de grande parte de uma sociedade que passa despercebida aos olhos de "quem olha por cima", uma menina curiosa e sem muito conhecimento do mundo, descrita com suas características comuns e simples, que acabam se tornando únicas.
A alagoana é uma mulher vazia que não tem conhecimento sobre esse sentimento e ao decorrer da estória, vai se tornando cada vez mais solitária e deixada de lado.
Desvalorizada e desprovida do saber desde o início da sua vida, o narrador nos encanta com seu jeito "menina", criando o equilíbrio perfeito para o seu sentimento impertinente do vazio e sua ânsia do conhecimento.
A pausa entre a narração do "autor" e a continuação da estória de Macabéa, torna tudo mais dinâmico e me faz entrar mais ainda em sua vida e rotina pacata.
Meu primeiro livro lido da Clarice e sem dúvidas uma experiência única e divertida.

natonha 05/05/2024

Foi meu primeiro contato com Clarice Lispector e estou até agora sem saber o que falar. Apesar de pequeno, o livro foi muito marcante pra mim e acabei enchendo-o de post its em frases que fizeram muito sentido pra mim. É muito cru por ser tão real mas Clarice consegue tornar a escrita tão poética e leve, ao mesmo tempo. Estou ansiosa para ler mais coisas da autora!!

cruz literaturas 05/05/2024

A clarisse foi uma mulher triste
Nossa que ódio, além de ter feito a macaeba sofrer o livro inteiro ainda mata a coitada quando ela finalmente fica feliz. que ódio que ódio.

levando em consideração que o protagonista foi totalmente inspirado na Clarisse e esse doente só fez a macaeba sofrer, logo considerado a Clarisse uma mulher doente também. mas ela foi ótima ao mesmo tempo.

fzvrae0 05/05/2024

Porque há o direito ao grito. Então eu grito
Foi o primeiro livro clássico, com uma linguagem mais complexa e obra de Clarice que li. Acabei me surpreendendo por conseguir ler com certa facilidade, apesar de ter que reler e buscar alguns significados. O livro é curto, mas traz linhas de raciocínio que você nunca para pra pensar. É um choque de realidade do começo ao fim, através do que parece ser uma simples história, mas que se desenrola pra algo muito mais profundo. Super indico a leitura!!

"Pergunto: toda história que já se escreveu no mundo é história de aflições?"

lalalup 05/05/2024

A hora da estrela e a diva Clarice
Um livro muito interessante, o primeiro livro q li com esse tipo de leitura, antiga, clássica, poética, e mais complicada do que o habitual, história boa, personagens muito bem escritos. Uma história q faz refletir, eu adoro os poemas da Clarice, e esse foi o primeiro livro dela que li, recomendo.

nivylarue 05/05/2024

Demorou mas saiu
A nordestina Macabéa, a protagonista de A hora da estrela, é uma mulher miserável, que mal tem consciência de existir. Depois de perder seu único elo com o mundo, uma velha tia, ela viaja para o Rio, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta suas horas ouvindo a Rádio Relógio. Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera.
Clarice cria até um falso autor para seu livro, o narrador Rodrigo S.M., mas nem assim consegue se esconder. O desejo de desaparecimento, que a morte real logo depois consolidaria, se frustra.
Entre a realidade e o delírio, buscando social enquanto sua alma a engolfava, Clarice escreveu um livro singular. A hora da estrela é um romance sobre o desamparo a que, apesar do consolo da linguagem, todos estamos entregues.

Apesar de ver muitas falando sobre o quão é um livro simples de se ler e ver diversas outras pessoas comentando sobre ser o melhor livro para começar a ler Clarice. Em particular foi uma leitura de enorme complexidade e complicação por questão de história.

Estruturalmente, este é o seu livro mais ?simples? em termos de escrita, digamos assim. Aquela sintaxe moderna, os infinitos monólogos interiores misturados ao fluxo de consciência dos personagens, como ocorre em A Paixão Segundo G.H, não são tão presentes aqui como forma, mas ela mesma explica, por meio do narrador, o Rodrigo S.M., que o livro não irá complicar as coisas porque não faz sentido rebuscar a forma do romance para falar da história de Macabéa.

Ainda sobre a estrutura, o livro tem uma espécie de metalinguagem narrativa. Rodrigo S.M. é a pessoa que nos fala a respeito dessa imigrante, mas veja: esta não é a história real de Macabéa, ele nem a conhece

Em geral uma leitura extraordinária e magnífica que esta muito alem de uma compreensão. Não conseguimos compreender Clarice Lispector, apenas sentimos e aceitamos todas as duvidas e crises existenciais que ela tem a nos oferecer.

mariaavvan 05/05/2024

Amo a autora e esse foi meu segundo livro dela, mas, sinceramente, foi escrito de uma maneira em que no começo, o autor (Clarisse), enrola demais a história e demora para ter um sentido lógico. Sei que esse é um princípio da Lispector, por ela não criar o que escreve, ela apenas copia o que está escrito com vigor na sua alma.
Depois que ela começa a realmente contar, o livro mostra a realidade da mulher na época em que foi escrito. Foi como um soco de ódio no meu estômago ver como as mulheres eram, como no livro citadas, um objeto. A realidade retratada é de extrema importância, e é uma obra interessantíssima para estudos e repertórios. Mas realmente, "Um sopro de vida" é melhor!

Rkvnin 05/05/2024

Demorei 19 anos pra ler algum livro da Clarice, me arrependo muito por demorar tanto para finalmente ler suas obras, comecei com A Hora Da Estrela e sinto que amo esse livro, entrar em uma crise existencial após ler algum livro dela acredito que seja normal. Ao terminar fiquei divagando pensando em tudo com um sentimento estranho, mas ao mesmo tempo bom (isso é possível?Acredito que sim, essa deve ser a magia da maravilhosa Clarice Lispector desperta com sua escrita). ??

gaby 05/05/2024

A vida é um soco no estômago
Esse foi meu primeiro contato com a escrita da Clarice Lispector, e agora eu vejo o porquê de falarem tanto dela.
No começo do livro eu me perdia nas frases, que as vezes intercalavam entre a história da nordestina e a clarice, mas depois eu fui pegando o jeito. A forma que ela se expressa é muito intensa, como se escrevesse com a alma, é muito reflexiva tb.

Sobre a história, eu achei bem envolvente, e consegui ver claramente Macabéa, seu passado e seu presente. Por mais que fosse óbvio, eu tinha um pouco de esperança sobre o final, mas vi algumas pessoas dizendo q esse é o último livro dela o que fez fazer mais sentido o fim.

Conclusão: gostei muito, achei fácil de ler e com certeza vou procurar mais!!

Ludy 05/05/2024

Macabéa teve sua Hora da Estrela
Estava animada para descobrir do que se tratavam os livros da aclamada Clarice Lispector.

Quando comecei a ler e me deparei com sua escrita, fiquei embasbacada com sua singularidade. Ironicamente, durante o livro, o narrador menciona não usar palavras complexas para tornar a leitura mais acessível.

À medida que a história se desenrolava e eu aprendia mais sobre a nordestina, pude constatar que até a pessoa mais simples consegue se tornar profunda e complexa através da escrita de Lispector. Ela descreve Macabéa, uma garota aparentemente sem nada de especial, explorando cada detalhe oculto em seu coração e alma, tornando visível para os leitores o que normalmente permanece invisível aos olhos. Isso a torna uma das personagens mais profundas e bem escritas que já encontrei.

Não vou me aprofundar nos detalhes da história para evitar spoilers, mas Macabéa teve seu momento de estrelato.

Quando soube que esse foi o último livro de Clarice, tudo fez sentido. Pretendo ler outros trabalhos dela, mas este, sem dúvida, conquistou meu coração. Muito bom. Recomendo.

ð» . 04/05/2024

Pensar é um ato. Sentir é um fato
Acho que foi o primeiro livro da clarisse que li por vontade própria, a escrita dela é realmente envolvente mas as vezes acabei me confundindo, tive que reler algumas coisas, mas no final valeu muito a pena, eu não apenas amei mas senti o livro.

"Porque há o direito ao grito.
Então eu grito."

Lunar 04/05/2024

Iniciei a leitura de A hora da estrela por causa da Bruna Martiolli. Foi loucura pra mim começar a me identificar demais com Macabea, o livro simplesmente me fez cair na real

ana vic 04/05/2024

Sou virgem, datilógrafa e gosto de coca-cola.
Eu amei tanto o livro quanto o filme, me rendeu boas reflexões e é curtinho, objetivo e complexo ao mesmo tempo. o livro tem muitos contrastes e existem tantas macabéas no brasil.
leria esse livro várias vezes até enjoar.