As vinhas da ira

As vinhas da ira John Steinbeck




Resenhas - As Vinhas da Ira


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Babi 01/09/2022

Imersivo, denso doloroso, agridoce, tocante... Estes e outros adjetivos servem para descrever "As vinhas da ira " .Este é daquele livro que em um momento aperta o seu coração e forma um nó na garganta, talvez algumas lágrimas deslizam pelo rosto.E em outra um sorriso se desenha nos lábios.E de repente o drama e o trágico andam de mãos dadas na mesma página.E fácil sentir um pouco da dor, resiliência e desespero dos Joad e demais famílias na mesma realidades que eles.Parece que estamos saindo do Nebraska empoleirados no caminhão rumo à Califórnia junto com eles

Os personagens principais, os Joad ,são imperfeitos.Eles não são mocinhos ou vi?ões, são vitimas de um sistema lutando pela sua sobrevivência. Eles são ignorantes e ao mesmo tempo possuem sua sabedoria, são egoístas e generosos,insensíveis e empáticos,brutos e sensíveis... E isso os torna tão humanos.Vale destacar a personagem Mãe, que acaba sendo a grande força do livro , é dela que vêm a resiliência e sabedoria para enfrentar as adversidades que a família tem que enfrentar.

A dualidade está presente nesta obra que ao mesmo tempo acaba mostrando o monstro que o ser humano pode se tornar por focar apenas em seu ponto de vista ,também mostra a genorisade que nasce nos tempos difíceis.É um livro para sentir ,refletir e nos chocar.

"As vinhas da ira" certamente se tornará uma das leituras mais incríveis que eu já fiz, fiquei completamente maravilhada com esta obra , com as descrições que eram tão incríveis que pareciam serem cinematográficas. Dá a sensação quue estamos vendo um filme, e a escrita de Steinbeck parece sugerir até os ângulos e os jogos de luz .

Obviamente não é um livro que agrada todos ,ele é muito descritivo e as vezes repetitivo,o que pode tornar a leitura maçante .Além de ser um livro de esquerda...

Para mim ,apesar de ter me incomodado com o final estranho e meio apressado e as perguntas sem respostas , foi uma obra-prima incrível e memorável.
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Israel145 30/03/2016

A grande depressão de 1929 foi um marco na história americana e suas consequências se espalharam pelas entranhas do país acometendo os Estados Unidos de uma estagnação econômica, social e moral. A miséria que assolou o país surgiu em diversas facetas e uma delas foi a migração das famílias do leste e meio-oeste americano para a Califórnia, a terra dos sonhos para muitos na época. A Califórnia, por ser um estado altamente industrializado criou uma ilusão de segurança e bem estar social, atraindo milhares e milhares de caravanas de caipiras famintos e sedentos por uma oportunidade de trabalho, atraindo assim mais miséria num desastroso círculo vicioso.
Essa história é narrada com maestria por John Steinbeck quando apresenta a saga da família Joad, que tem sua fazendinha tomada por grandes proprietários quando o banco executa a hipoteca e esses se veem incapazes de competir com a agricultura mecanizada. Partem então numa sufocante jornada pelo coração do país em busca de trabalho rumo à uma nova conquista do oeste em direção à Califórnia.
Steinbeck narra as condições humilhantes e desumanas como eram tratados os trabalhadores, a exploração desconcertante, a luta pela comida e pelo centavo de dólar para comprar um pouco de gasolina e continuar a jornada rumo ao desconhecido.
A linguagem simples dos personagens coloca o leitor dentro do cerne da família. Impossível não se afeiçoar imediatamente ao jovem Tom Joad, recém saído da prisão depois de cumprir pena por assassinato e ao regressar, encontra a família se preparando para a arribada, expulsos da terra onde nasceram, rumo a um destino incerto.
O autor se consagrou com As vinhas da ira e Ao leste do éden, mas o linguajar simples, a situação do caipira e a crueza da vida também são exploradas no clássico Ratos e homens, seu livro mais conhecido. Na saga dos Joad é inegável a simpatia descarada que Steinbeck nutre pelo comunismo, colocando várias vezes os Joad em acampamentos de trabalhadores autogestionários. Uma luz num túnel de desespero e uma opção ao capitalismo que então sofrera seu grande primeiro baque. Ele vê com simpatia a alternativa comunista para um mundo mais justo.
Ao expor o lado reverso do sonho americano, John Steinbeck conferiu ao mundo um clássico da literatura, onde mostra o peso da exploração do homem pelo homem, da natureza inclemente e de um sistema às vias da falência por meio da condição nômade dos Joad. Clássico absoluto.
Lô Becco 05/04/2016minha estante
Quero muito ler esse livro!




Flávia 28/04/2020

Não foi escrito para divertir
Este é um livro difícil, pesado. Embora não tenha me tirado lágrimas, me causou sensações que variavam entre desconforto, indignação e raiva. De forma inexplicável, em alguns momentos, também me encheu de uma sensação boa de afeto, como se eu também pudesse ser acolhida pelos personagens, caso cruzasse com eles.
A história narra uma odisseia protagonizada por uma família que é expulsa de suas terras e se vê obrigada a procurar outro lugar e outras formas para sobreviver. Os Joad são inicialmente compostos por mais de 10 pessoas, incluindo idosos, crianças, adultos em diferentes fases e uma mulher grávida, que viajam por centenas de quilômetros em busca simplesmente de um trabalho que os alimente e, que talvez um dia, permita que tenham um teto. Teto que, vale dizer, eles já possuíam e que foram tomados nesse mesmo período da crise de 1929.
A riqueza com que cada personagem é construído torna a narração ainda mais visceral e pesada e, pela variedade de perfis, permite ao leitor o conhecimento de várias perspectivas.
O livro traz diversas situações da viagem nas quais se expuseram essas pessoas com pouquíssimo dinheiro e tantos sonhos. A todas essas situações, novas soluções eram dadas, em sua maioria, pela matriarca.
Eu particularmente tenho um carinho a mais por histórias que mostram mulheres como a mãe dos Joad, com papeis além do que é comumente esperado. Durante toda a narração ela, embora não seja a protagonista, ao meu ver, foi a principal. Foi ela quem demonstrou forte senso estratégico, uma esperança sólida, sonhos e planos ambiciosos, um carinho enorme por cada membro de sua familia, solidariedade pelos que encontravam pelo caminho e compreensão em todas as ações realizadas por qualquer Joad. Ninguém era julgado, já que todos ali faziam sempre o melhor que estava ao seu alcance.
A mãe esteve presente a todos em todos os momentos e, no típico papel feminino de uma família, esteve sempre disposta a servir, mas não só isso (embora já seja uma grande tarefa): ela também se tornou o forte pilar que os sustentou.
Depois de finalizada a leitura, diferente do que eu imaginei, não consegui agradecer por viver em uma situação diferente. Ainda ficou a sensação claustrofóbica, um carinho enorme por cada personagem da família e a compreensão real de quando ouvi que esse livro mudaria significativamente minha cabeça.
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Dayane.Franca 19/12/2020

É um clássico dos mais diferentes que já li
O livro traz a vida difícil dos meeiros tentando encontrar um futuro na Califórnia. A história é triste, sofrida, mas bem reflexiva. Ótima experiência
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Adriana1161 27/12/2022

Inesquecível
Publicado em 1939. Um retrato dramático da Grande Depressão americana, de 1929, e posterior crise.
Passado na década de 30, fala da emigração de famílias para a Califórnia, em busca de trabalho e melhores condições de vida.
A família Joad vai do Oklahoma para Califórnia, após serem expulsos de suas terras pelo "sistema" e pelas tempestades de areia. Esses emigrantes ficam conhecidos pelo termo pejorativo de Okies.
Fala de desenvolvimento social x desenvolvimento econômico. Uma crítica social contra o sistema.
Escrita maravilhosa!
Lembrou um pouco, "1984", com a crítica ao capitalismo e ao sistema, de uma maneira mais concreta menos distópica.
Vão fazendo amigos, encontrando pessoas boas pelo caminho. Outros vão ficando por esse caminho...
Solidariedade, senso de comunidade, cooperação, unidade.
Presença marcante da mãe, é o centro da família, a força que os unifica, liderança, poder.
Vida do americano do interior.
História.
Alguns capítulos são explicativos, e nos outros, os personagens são inseridos neste contexto.
Vinhas da ira, bíblia, apocalipse, vingança divina.
Evolução do Tom.
Final marcante e impactante! Inesquecível!
Personagens: Tom Joad, Ma, Pa, tio John, Reverendo Jim Casy, Al, Noah, Rosa de Sharon, Connie, Ruthie, Winfield
Local: Oklahoma - Califórnia/ década de 1930
@driperini
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Thauane.Gonzaga 17/12/2020

Melhor livro que li em 2020!
Talvez na vida... história profunda e marcante sobre uma família enfrentando todos tipos de percalços em busca de uma vida melhor. Tem analogias fantásticas e uma personagem em especial que é incrível. Recomendo a leitura!
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Lucas 03/05/2019

Terra, capital e trabalho como instrumentos de conscientização social que transcendem tempo e fronteiras
John Steinbeck (1902-1968) foi um dos maiores escritores norte-americanos de todos os tempos. A afirmação é pomposa e desafiadora, ainda mais se for feita no Brasil, que possui certa dificuldade em transpor para a língua pátria importantes obras da literatura dos Estados Unidos (prova disso é um certo "abandono" com que estas obras são tratadas por editoras importantes daqui). Mas, em se tratando de literatura nativa norte-americana, esta mesma afirmação é indiscutível: Steinbeck é eterno e plenamente difundido nos meios educacionais e acadêmicos dos Estados Unidos e, por mais que haja apelo ao seu nome em terras tupiniquins, seu reconhecimento está longe de ilustrar a relevância desse autor para a literatura universal.

Natural da Califórnia, estado norte-americano situado ao extremo oeste do país (e o estado mais populoso dos EUA), Steinbeck usou da sua terra como fonte para a maioria dos seus romances, permeados por constantes críticas sociais e uma capacidade imensurável de ensinar e trazer reflexão. Tanto a Califórnia quanto esse viés crítico correspondem, juntos, ao pano de fundo daquela que é considerada a sua obra-prima: o romance As Vinhas da Ira, lançado em 1939.

As Vinhas da Ira é, decididamente, um livro forte, capaz de transcender gerações com o que narra. E todos esses atributos são explicados pelo contexto econômico e social da época em que a narrativa se passa, no início dos anos 30.

O mundo, e especialmente os Estados Unidos, passaram de forma nebulosa por essa época da história, que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. A verdade é que, em parte, a ebulição política global que gerou o conflito foi provocada pela Quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, dando início à chamada Grande Depressão, o mais contínuo momento de recessões mundiais, que se estendeu até o fim da Segunda Guerra. Tal fato gerou um colapso de ordem econômica e social, com uma profunda e abrupta desvalorização de preços e proliferação da miséria.

Dentro disso, Steinbeck não dirige seu olhar de narrador aos grandes centros norte-americanos, que sofreram em demasia os efeitos da crise (as diversas fotos em preto e branco retratando filas imensas em busca de emprego e comida em Nova York chocam até hoje). Ele expande a questão para o interior dos Estados Unidos, realçando a proliferação da miséria em regiões agrícolas do estado de Oklahoma, situado no centro-sul norte-americano.

Oklahoma fica quase que inteiramente dentro das Grandes Planícies (uma faixa de terras com baixa altitude que se estende verticalmente até o Canadá), e que é conhecida como a região mais seca dos Estados Unidos. Com um clima semiárido, ele fica cercado à oeste pelas Montanhas Rochosas, vasta cordilheira que se estende quase que paralelamente às Grandes Planícies e que impedem a chegada da umidade do Oceano Pacífico. A região, de grande tradição agrícola, sofreu na mesma época da grande crise econômica o maior desastre natural provocado pelo homem no território norte-americano: o chamado dust bowl (taça de pó), intensas ondas de tempestade de areia ocorridas diversas vezes durante a década de 30 (cada uma dessas tempestades durava dias, onde não se via a luz do sol e causando a destruição de plantações e estruturas agrícolas). Tal fenômeno ocorreu em função do mau manuseio da terra: uma expansão desenfreada de plantações de milho, trigo, cevada e outras, sem rotação de culturas, causou um "afrouxamento" da superfície do solo, que o fez perder substância e se tornar arenoso.

Tem-se, assim, a contextualização histórica e geográfica que abriga a excelente ficção com ares de realidade retratada n'As Vinhas da Ira. Steinbeck conta a história da família Joad, que, assim como milhares de outros cidadãos do interior de Oklahoma, se veem obrigados a sair de suas terras em função das secas e do não pagamento de dívidas a seus respectivos arrendadores. Nesse sentido, a Califórnia, situada a pouco mais de três mil quilômetros a oeste se apresenta aos honestos e ingênuos agricultores como a "terra prometida" que, com sua variabilidade de culturas e regime mais regular de chuvas, iria os conduzir a tão sonhada independência financeira.

O autor usa de uma técnica narrativa interessante, que se faz presente em todo o livro: vai alternando os capítulos (que em sua maioria são bem extensos) entre monólogos que traçam um panorama perfeito entre tecnologia x mão de obra (o advento dos tratores é notório nessa análise), a questão do preconceito contra os menos instruídos, a selvageria capitalista com que os menos favorecidos são tratados, a expansão das desigualdades agrárias, a relação forte e onipresente entre terra, capital e trabalho, etc.; e a trajetória dos Joad em si, saindo de Oklahoma e migrando para a Califórnia (utilizando a legendária rodovia Route 66, referenciada em músicas e filmes ao longo do século XX) com um velho caminhão, bagagens de quinquilharias e, acima de tudo, muitos sonhos, que parecem sucumbir aos aspectos nefastos surgidos a partir do ambiente de dificuldades da época. A questão do êxodo rural, problema tão comum no Brasil da segunda metade do século XX (os chamados "paus de arara", que traziam nordestinos às regiões mais ricas do país traçam um paralelo nítido às migrações norte-americanas) aproximam ainda mais a narrativa dos Joad de qualquer família brasileira que tenha passado por tais desesperanças.

Partindo da saga dos Joad, que ganha caráter de epopeia, o autor descreve com perfeição a realidade agrícola da Califórnia na época: imensas propriedades, na maioria de frutas, que colocavam em posição de total submissão quem chegava em busca de trabalho e de uma vida melhor. Esta ilustração pode também ser associada ao Brasil, onde a questão agrária sempre foi alvo de polêmicas e discussões. Sem que se politize este tópico, é necessário que o leitor compreenda a função social da terra, cuja exploração deve prover as necessidades dos trabalhadores e suas famílias, gerando alguma produção sem agressão ao meio ambiente. O direito à propriedade é, de fato, algo preponderante, mas deve ser estendido a todos. A reforma agrária é sempre um mecanismo de diminuição das desigualdades sociais e, como tal, deve possibilitar inclusão social e melhorias na eficiência da exploração da terra como recurso primordial da agricultura familiar.

Sob o ponto de vista mais específico da ficção, não há muito o que ser dito. Os Joad são uma típica família baseada nestes moldes da agricultura familiar e, como tal, estavam sufocados pelo latifundiário que não tinha grande preocupação com o bem-estar da sociedade em que se inseria (não muito diferente de vários grandes proprietários de terra do Brasil, por exemplo). Diante de um cenário que vai se dramatizando aos poucos, a trajetória da família passa por inúmeras dificuldades: o leitor sofre com os Joad as agruras e preconceitos que pessoas de baixa escolaridade e de origens diferentes passam em busca de dignidade, mas com uma humildade honesta e inocente, que emociona e faz esse mesmo leitor lembrar e associar, se for o caso, a história dos Joad com o sensacional Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos (1892-1953), cuja narrativa, mais crua e direta, possui relação com As Vinhas da Ira, especialmente no que tange a este aspecto social, de isolamento de determinado grupo de personagens.

O grande baluarte da obra não é a ficção em si (que é excelente), mas o que a narrativa traz de conscientização social e o impacto terrível que as desigualdades, sejam elas econômicas ou sociais, causam. Elementos como êxodo rural, latifúndio, monocultura, entre outros, ainda hoje são causadores de problemas sociais mais amplos, e se não há uma preocupação governamental na promoção da inclusão social, a tendência histórica é a de que estes mesmos problemas se proliferem exponencialmente. A inserção intermitente a um mundo que gira em torno de lucro e trabalho não deve servir como cortina de fumaça para o verdadeiro desafio de tornar uma sociedade menos individualista, que é o oferecimento de oportunidades iguais para todos, sem distinções de nenhuma natureza.

"[Steinbeck] não era talhado para fazer meramente entretenimento. Ao contrário, os assuntos por ele escolhidos são sérios e denunciativos, como as experiências amargas nas plantações de frutas e algodão da Califórnia". Tal declaração, feita pela Academia de Letras da Suécia quando da entrega do Prêmio Nobel de Literatura ao escritor em 1962, traduz bem o que As Vinhas da Ira é: um romance que transcende a literatura, servindo como um tratado de conscientização social, simbolizado pela dramática saga dos Joad. Essa transcendência não é apenas narrativa: é temporal, pois é e sempre será uma denúncia à covardia da dominância com que os menos favorecidos são por vezes tratados; e também é geográfica, já que é forte a relação da estrutura social agrícola representada no romance com a realidade brasileira de não muitos anos atrás.
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Marcelo Marques 04/01/2021

Working Class Hero - John Lennon
Ao término de cada história de Steinbeck, sinto seu nome se perpetuando como meu escritor favorito e, sem sombra de dúvidas, um dos maiores do século XX. Dono de uma perspicácia voraz, Steinbeck, sem medo nenhum, desnuda o famoso "Sonho Americano", revelando uma realidade fétida que contraria a idealização de liberdade e prosperidade tão divulgadas mundo afora pelos estadunidenses. Não é atoa que foi proibido em escolas e incansavelmente chamado de "vermelho", já que essa alcunha, como o autor brinca em seu livro, sempre foi usada para qualquer um que lutasse por dignidade, mesmo que o indivíduo não soubesse nada sobre comunismo e afins.

Em As Vinhas da Ira não entramos em uma história puramente ficcional, temos sim, um registro sobre uma das piores crises econômicas do mundo: A grande depressão. Vamos viajar na rabeira da camionete dos Joad, uma entre tantas famílias agrícolas que foram obrigadas a largar suas terras naquele período. Intercalando os capítulos entre os acontecimentos com os Joad e textos sociologicamente incríveis, mais uma vez, Steinbeck mostra sua genialidade, pois ao mesmo tempo que narra as desventuras de um núcleo familiar, fica explícito que aquela família é só um arquétipo daquela época e é usada como um símbolo para contar a história de milhares que foram esquecidos.

Apesar de começarmos acompanhando o filho mais velho no início do livro, somos apresentados para todos os membros de sua família e cada um assume certo protagonismo dentro do enredo. Logo entendemos que o autor não quer falar de um, mas sim de vários. E essa é a ideia central do romance. O indivíduo de nada importa sem o coletivo, principalmente quando é atacado pelo antagonista principal, nosso velho camarada, capitalismo. Obviamente o autor não usa este termo, mas podemos identificar sua faceta em todos os males que perseguem os Joad, desde os bancos que tomam todas as terras para si, os abusos e ganâncias dos grandes empresários em cima dos miseráveis e até mesmo pelo medo causado por uma crise econômica, criando raiva pelos migrantes que só estão procurando uma vida melhor. Ou seja, problemas que convivem conosco até os dias de hoje.

Porém não se assuste com todo esse relato. Nesse mar de desesperança, Steinbeck cria uma ilha para nos reconfortar. Se a humanidade pode acender infernos, também é capaz de apagá-los ou pelos menos se refrescar um pouco. Na história passamos por belos momentos de humanidade, onde a fraternidade e camaradagem reinam. Nos emocionamos com os sofrimentos dos Joad, mas também nos admiramos com tamanha força e perseverança, principalmente da matriarca da família, a qual sem dúvida é uma das melhores personagens que já conheci. Então por isso lhe digo que este livro é um convite para participar de um epopéia de sentimentos, acomode-se na caminhonete e junte-se aos sofredores.
Aline.afr 15/01/2021minha estante
Ja leu Ratos e Homens?


Marcelo Marques 16/01/2021minha estante
Já sim, Aline! Um ótimo livro para se ler numa sentada só. Do Steinbeck, meu favorito entre todos ainda é Tortilla Flat ( Boêmios Errantes). Recomendo


Aline.afr 16/01/2021minha estante
Huum! Não li esse, vou procurar :)




Stella F.. 19/09/2023

Sofrido e Emocionante
As Vinhas da Ira
John Steinbeck - 1972 / 629 páginas - Abril

“E nos olhos dos homens reflete-se o fracasso. E nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira diluem-se e espraiam-se com ímpeto, crescem com ímpeto para a vindima.” (pg. 480)

Joad pega carona em um caminhão e ao ser sondado pelo motorista, ficamos sabendo que é um ex-presidiário. Ele cometeu um homicídio e ficou na cadeia por quatro anos sendo liberado por bom comportamento. Está a caminho da casa dos pais. Aqui já tomamos conhecimento que os tratores estão expulsando os arrendatários por todo o caminho.
Ele desce do caminhão e andando a pé, descansando aqui e ali encontra com Casy, um ex-pregador. Conversando meio ressabiados, descobrem que se conhecem assim como conhece sua família. Vão discutir sobre religião, fé, certo, errado e Casy vai contar por que deixou de ser pregador. Então seguem viagem juntos.

Ao chegarem na antiga casa, eles veem que está vazia e toda derrubada, assim como as do entorno de toda vizinhança. Encontram Mulley, um antigo conhecido de Joad que permanece no local por rebeldia. E conta a eles que quem derrubava as casas era um deles, e alegava precisar de dinheiro. Passava o trator sem dó nem piedade, dizendo que se não fosse ele, seria outro. Descobrem então que os pais estão na casa de um tio, e seguem para lá.

O encontro é emocionante e todos querem saber se Joad fugiu. E ele conta que não. Conta detalhes dos acontecimentos que terminou na sua prisão e conhecemos as personalidades e características físicas dos personagens do pai, mãe, avô, avó e todos os irmãos, que iremos acompanhar por todo o percurso dessa família em direção ao Oeste, em direção à Califórnia. Estão arrumando o caminhão para a partida, e ficam radiantes que ele tenha chegado a tempo. Já venderam tudo o que era necessário, e aqui tomamos ciência do grande negócio dos ferros velhos, que enganavam todos aquelas pessoas que estavam migrando oferecendo uma miséria por seus bens, e passando a perna neles. Havia uma campanha dos sonhos, de que lá, seriam felizes, donos de terras, e poderiam cultivar o que quisessem.

O autor intercala capítulos gerais e particulares onde trata de assuntos pertinentes a essa escalada para o Oeste, onde vai nos falar desse êxodo e tratar de alguns questionamentos pertinentes em forma de pequenos ensaios. Vai nos mostrar um pouco da crueldade dessa época, da escravização, do preconceito, dos baixos salários e da crise geral como o clima, poeira que estragava as plantações, a ambição e tentativa de ganhar mais dinheiro por parte de quem já tinha muito, valor de mercado, entre outros assuntos.

Em um dos primeiros ensaios vai contrapor Homem da Terra x Homem do Trator. Logo em seguida conhecemos o mapa da Estrada 66 e todas as cidades que a cortam, as saídas, os estados e montanhas. Vemos por toda a estrada caminhões abandonados, porque muitos deles não tinham condições de seguir por uma estrada, um caminho tão cheio de percalços, desertos, e na maioria das vezes, como na família de Joad, eram caminhões montados, adaptados e abarrotados de coisas e pessoas.

Enfim saem para o Oeste e passam muito aperto e logo no início tem a morte do cachorro, em seguida a morte do avô, e todo o questionamento de onde enterrar, porque dependendo da situação ainda teriam que dar dinheiro ao governo. Optam por enterrá-lo sem chamar a atenção. Ficam tristes e se sentem culpados por não dar dignidade, mas é o que podem no momento. Não tem dinheiro para nada.

Mas o caminho também é feito de amizades, pessoas que estão na mesma situação, entendem o que os outros estão passando, e por vezes fazem o caminho juntos para diminuir a solidão e o medo.

Depois de conseguirem um acampamento, são expulsos à força sob ameaça de colocarem fogo e queimarem quem ficasse. As pessoas do oeste detestam esses migrantes. E fazem de tudo para eles não ficarem muito tempo em um só lugar, para não criar ideias de se revoltar, e reivindicar salários melhores. Saem então em direção ao sul e encontraram um acampamento do governo onde há comitês, as próprias regras, ajuda aos necessitados, além de banheiro, chuveiro e tanques para lavar roupas. Tudo funciona e o pessoal já está querendo acabar com isso, para os migrantes não pensarem que podem viver como gente.
Em outros capítulos intercalados o autor vai tratar da metamorfose incipiente, sobre o que é o homem e o que quer, compara os tratores que estão arrasando com a terra dos outros a um tanque de guerra além de falar do começo do Eu (o dono) para o nós (os exilados). Vai falar também do amor pela terra em contraponto ao amor pelo dinheiro.

O livro foi finalizado e a leitura foi excelente! Adorei e li muito rápido para um calhamaço (1 mês). Trata do desamparo das pessoas em êxodo, procurando um local de trabalho, um lar, uma acolhida que não foi recebida. Muita exploração, miséria, preconceito, mortes, humilhações, mas também muita solidariedade, perseverança, aprendizado, amizade e superação. Salários de acordo com o mercado, medo por parte dos empregadores de uma revolta dos okies, como eram chamados os migrantes, que não foram para a Califórnia por desejo, mas sim por necessidade, para ter um ganha pão. A saga da família Joad e suas perdas, e superações, ao mesmo tempo angustiante, e emocionante. Uma mãe que é uma fortaleza, e que no lugar do Pai assume todas as responsabilidades para que a família permaneça unida, mesmo querendo desistir de tudo, após a perda das suas terras, e de alguns entes queridos que se perderam pelo caminho, morrendo ou mesmo desistindo. E o final foi surpreendente!

Fui acompanhando a narrativa deliciosa, muito bem escrita, e que não dava vontade de parar de ler. Há muito tempo não sentia isso com um livro, em meio a tanto sofrimento e angústia ficamos torcendo pelos personagens e queremos que de alguma maneira encontrem um lugar ao sol, uma dignidade e sobrevivência mínima que seja. Que sejam mais bem tratados. É um livro fluido. E um símbolo de resistência. A cada problema sempre dão um jeito de viver mais um pouquinho, de não desistir. Não têm para onde voltar! Gostei da escrita do autor e do jeito de intercalar capítulos gerais, menores, e capítulos das famílias e acampamentos, em textos maiores. Uma crítica feroz sobre o sistema, os preconceitos, a exploração escrava dos migrantes, e a falta de empatia e compaixão por parte dos americanos que viam os migrantes como intrusos.

“Eles eram famintos e ferozes. E tinham tido a esperança de encontrar um lar, e só encontravam ódio. Okies..os proprietários odiavam-nos porque sabiam que eram fracos e que os okies eram fortes, e que eram bem nutridos e que os okies passavam fome. [..] E os trabalhadores odiavam os okies porque um homem esfomeado tem que trabalhar, e, quando precisa trabalhar e não tem onde trabalhar, automaticamente trabalha por salário menor, e aí todos têm que trabalhar por salários menores.” (pg. 315)

“Aí, isso tudo não tem importância. Aí eu estarei em qualquer lugar, na escuridão, estarei no lugar que a senhora olhar à minha procura. Em toda parte onde tenha briga pra que a gente com fome possa comer, eu estarei presente. Em toda parte onde um polícia ‘teja maltratando um camarada, eu estarei presente. [..] Estarei onde a nossa gente ‘teja berrando de raiva... e estarei onde crianças ‘tejam rindo porque sentem fome e sabem que vão logo ter comida. E quando a nossa gente for comer o que plantou e for morar nas casas que construiu..aí eu também estarei presente.” (pg. 580)
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Beto | @beto_anderson 11/05/2020

Dilacerante
Confesso que algumas partes do livro são meio enfadonhas, especialmente os capítulos entre os que narram a vida dos Joad. Alguns personagens bem chatos, como Al e Rosachar. E é muito sofrimento. Apesar da cena final ser maravilhosa, não ter um desfecho mais redondo, o que é bem justificável, me deixou meio decepcionado. Tom e a mãe já estão entre os meus personagens favoritos da vida. É um livro que me fez refletir sobre como nós não sabemos dar valor ao que nós temos, e sobre a difícil vida de quem não tem um lar, ainda nos dias de hoje. Recomendo a leitura.

site: https://www.instagram.com/beto_anderson/
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Michele F. 31/07/2020

As vinhas da ira
O livro se passa depois da grande depressão de 29, onde os Estados Unidos teve uma grande queda na bolsa de valores. O livro começa com Tom Joad sai da cadeia e vai em busca de reencontrar sua família que foi expulsa ( por causa das dividas ) de suas terras pelo banco.
A família toda sai em busca de melhores condições de vida, então eles viagem para o estado da Califórnia em busca de emprego. Mas não só eles estão em busca de melhoria, mas 300.000 mil pessoas se encontram na mesma condição.
O autor conseguiu demonstra todo o desprezo que a Califórnia e a polícia tem pelos imigrantes ou okies. O livro é incrível tanto a narrativa como a escrita, ele é completamente maravilhoso e único.
Daniel Miguel 01/08/2020minha estante
Vai pra minha lista de leitura com certeza! Amei.


Daniel Miguel 01/08/2020minha estante
Deve ser bem triste, vou preparar meu psicológico pra ele.




Bruna 24/06/2023

Sufrido
Que história sufrida! Mas ao mesmo tempo dá uma sensação que não é tão ruim quanto poderia, ainda são uma família que se importam uns com os outros, sempre fazem o melhor pelo conjunto. E os que não fazem, são justamente aqueles que aos poucos vão tomando seu próprio rumo (o que é justo também, cada um com suas escolhas), mas mesmo esses, o fazem sem prejudicar a família diretamente. Apenas seguem seu rumo.
O livro é muito bom, mas perde meia estrela pelas partes arrastadas e repetitivas… a descrição de tudo que estavam colocando no caminhão no começo, a descrição de muitos detalhes quando dava pra facilmente resumir numa frase sem prejuízo pra história haha e numas 3x ao longo do livro encontram exatamente o mesmo personagem: aquele que vai rir do objetivo deles e ‘mandar a real’, no 3º eu já tava “mas de novo???”
A história em si é de cortar o coração, as famílias saindo de sua terra expulsas, depois passam o livro todo lutando pra conseguir TRABALHO e sendo tratados como escória, mendigos, vagabundos, ‘okies’. E nada tem saída, não tem jeito, não tem com quem reclamar, quem matar, é tudo culpa de entidades invisíveis pra eles… o progresso é necessário, mas a que custo? É cruel demais com quem tá nessa situação.
Como já venho dizendo pra algumas pessoas: o livro é bom, mas não sei se recomendo hahaha
“Caminhamos porque somos obrigados a caminhar. É o único motivo por que todos caminham. Porque querem alguma coisa melhor do que têm”

site: https://www.instagram.com/alendolivro/
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spoiler visualizar
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gabzsch 17/01/2023

Visceral e cruel.
As Vinhas da Ira, sem dúvidas, virou um dos meus livros favoritos. Me senti conectado com os personagens e suas motivações. Senti a ira de nunca conseguir paz e tranquilidade, senti a injustiça de serem destratados apenas pela sua classe social.
Esse livro mudou meu ponto de vista sobre muitas coisas, me fez entender melhor muitas coisas também.
De todos os livros que já li, considero esse um dos mais importantes.
Achei o final um tanto quanto corrido, como se as coisas que acontecessem fossem coisas que aconteceriam no meio do livro. Eu queria mais dessa família. Eu queria saber o destino individual de cada um deles.
Ademais, As Vinhas da Ira é um dos melhores livros já escritos e que eu nunca esquecerei.
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