Julia.Lorens 19/08/2022
Emocionante.
É curioso o tipo de escrita de Doyle; o personagem principal é o famoso detetive Sherlock Holmes, mas todos os seus livros são narrados pelo ponto de vista de seu assistente, o detetive Watson. Acho que nem posso dizer que é narrado do ponto de vista dele, já que ele nem tem um ponto de vista. Como podemos ver, Watson apenas narra os fatos do acontecimento, ele raramente dá a sua opinião, a não ser que Shelock peça. Algumas vezes, Watson nem tem uma opinião formada, já que Shelock já o pediu para dizer o que acha e Watson conta que parou para pensar. Isso pode ser entendido como se Watson nao fosse um bom detetive, ou como se Watson não se metesse na linha de raciocínio do Sherlock, já que a relação deles é como patrão e empregado. Em minha opinião, (sim, darei minha opinião) Sherlock deixa claro que não gosta de ser interrompido quando está pensando, então Watson simplesmente não o interrompe. Isso nao significa que Watson seja um detetive ruim, mas que quem foi contratado para resolver o caso nao foi ele, e sim o Sherlock.
Agora vamos estender a nossa linha de raciocínio: se a história é narrada por Watson, como vamos saber do processo de desenvolvimento do caso?
Esse é o meu ponto. Nós não sabemos.
O caso aparece para Sherlock e não nos é narrado o processo em que Sherlock o resolve.
Acho interessante o jeito de escrita de Doyle: ele nos coloca no lugar do Sherlock, nos dá o caso, os acontecimentos, as testemunhas, as pistas, mas não nos dá tudo resolvido. Sherlock até solta uma informação aqui e ali, mas capítulos depois é que Sherlock levanta e grita: "EU RESOLVI!".
Afinal, qual seria a graça se Doyle nos desse a solução também?
É um jeito bem peculiar de escrita, já que pode gerar tipos diferentes de reações dos leitores. Pode gerar orgulho por ter resolvido o caso, ou constrangimento, por não ter resolvido. Além disso é meio decepcionante para o segundo tipo, já que nos últimos segundos é que Sherlock vai explicar como ele resolveu.
Algumas vezes nem é possível resolver o caso, como por exemplo em um dos casos deste livro, não sei se é o último ou o penúltimo pois já devolvi o livro à biblioteca, em que eu fiquei sem entender o caso até que Holmes mencionasse uma mulher moradora do bairro que se encaixa com a descrição do suspeito. Ou seja, algumas vezes Doyle escreve para nos contar, e não para testar o nosso QI.