joao.vitor. 01/03/2023
Um ótimo complemento para quem leu a obra original
A graphic novel de “O Ladrão de Raios”, baseada no romance literário de mesmo nome de Rick Riordan, foi lançada em 2010. Adaptada por Robert Venditti e com arte de Attila Futaki e José Villarrubia, a história em quadrinhos, que conta com 138 páginas, segue as aventuras de três jovens semideuses, Percy, Annabeth e Grover no mundo contemporâneo, sendo fortemente inspiradas nas épicas narrativas mitológicas da Grécia Antiga.
Com referência aos aspectos técnicos e literários, a “graphic novel” (ou romance gráfico), entregou um ótimo resultado, ainda que eu tenha as minhas ressalvas. Tratando-se de uma adaptação, muito provavelmente haveria certas discrepâncias entre aquela e a versão original.
Sobre a questão literária, no caso desta edição, é notória a supressão de determinadas cenas da história original que, a meu ver, far-se-ão necessárias para a compreensão da trama. A explicação de Grover à Percy sobre o principal motivo que levou Sally Jackson a morar e suportar um relacionamento abusivo com o padrasto do garoto, Gabe Ugliano, bem como o encontro do trio de heróis com a górgona Medusa, são exemplos de importantes micro-narrativas que foram negligenciadas.
Ademais, as ilustrações de Attila Futaki e José Villarubis entregaram um ótimo resultado final. Embora em várias cenas se mostrem evidentes uma uniformização de expressões faciais, induzindo a quem lê a imaginar quase sempre a repetição de um mesmo estado emocional dos personagens (e em momentos que pareceriam inoportunos), houve um intenso cuidado com a ênfase na caracterização dos personagens, seguindo a história em que foi baseada. Visto que já tive contato com “O Ladrão de Raios” original (2005), ao decorrer da leitura do quadrinho fui percebendo que, para mim, as ilustrações são muito fiéis às descrições oferecidas por Riordan. Ainda, com o auxílio de uma linguagem simples e bem-humorada, à semelhança da obra original, a arte oferece uma narrativa fluente, acessível e de qualidade.
A respeito da história da graphic novel, o fio condutor é o desaparecimento do raio-mestre de Zeus, principal símbolo de seu poderio e poderosíssimo instrumento de guerra. Como é proibida pelas leis divinas antigas a subtração direta de um símbolo de poder divino, e Poseidon, deus dos mares, há éons já tentara destronar o seu irmão sobredito, tal fato leva Zeus a desconfiar que outra divindade – sendo o seu irmão Poseidon o principal acusado – tomou posse de sua arma. Em meio a esse fogo cruzado, vê-se envolvido Percy Jackson, um adolescente diagnosticado com déficit de atenção e TDAH, para o qual as narrativas mitológicas gregas, apesar de interessantes, jamais passaram disto – mitos. O garoto, por ser filho de Poseidon é suspeito de ter auxiliado na subtração do raio. Para quem sequer imaginara que a mitologia grega estava mais intrínseca ao mundo moderno do que teria imaginado, como será agora a sobrevivência de Percy Jackson, que além de provar sua inocência, precisa sobreviver aos constantes perigos mortais por ser um meio-sangue?
Por fim, acredito que a leitura desta adaptação em quadrinhos seja mais recomendada para leitores que já tiveram contato com a obra original. Assim, a experiência será mais completa e imersiva quando se ler a graphic novel, cujo livro embasado faz parte de uma das melhores sagas modernas de fantasia da literatura-infantojuvenil.