cadenthrones 26/04/2024
Datado
2.5/5
Mais um exemplo de "só porque concordo com o livro, não significa que ele é bom". Sim, O Amante de Lady Chatterley põe em jogo diversas convenções sociais de seu tempo e os rumos que a Inglaterra tomava naquele período, mas os levanta nas ideias somente para broxar na execução, acredito.
Partindo da premissa textual, é louvável que o autor quisesse retratar o ato de afogar o ganso como algo natural, digno de discussão, um ato de amor acima do prazer descompromissado; mas nada nas descrições da cena me comove a esse pensamento, muito pelo contrário; são cruas demais e acabam por me enojar, e as circunstâncias que levam a agasalhar o croquete são tão desconfortáveis e erradas que o que sai dali é repulsa somente. E o ato de molhar o biscoito não desenvolve os personagens para um novo status quo; você pensa que Oliver Mellors e Lady Chatterley vão se apaixonar e fazer declarações de amor entre si, quando isso nunca acontece e a relação não parece recíproca. Lady Chatterley diz que o ama e Oliver Mellors jamais faz o mesmo; faz pior; quando Lady pergunta se ele a ama, ele, sem exagero, diz que só gosta de esmagar a rata dela. E ela aceita! O casal de protagonistas sequer se referenciam pelos nomes uns dos outros, ativamente são diminuídos a animais selvagens em uma relação que deveria desafiar convenções conservadoras da época, da relação entre pessoas de classes diferentes, e a liberdade sexual como algo positivo, mas não me convencem de nada disso, mas sim parece querer me fazer concordar com o lado oposto da conversa.
E os temas para além do furunfar, também acho louvável e lindo como um homem do proletário e filho de mineiro, em pleno processo de industrialização do país, se mostra revoltado e contra a derrubada da natureza em prol de processos que desumanizam pessoas e deterioram nosso modo de vida, tão atual quanto um livro de 100 anos de idade pode ser. Mas não só os faz com uma história capenga que entra em um ciclo vicioso que em nada avança com os personagens, como não dilui suas ideias durante a história (e todo o seu saudosismo de tempos melhores é anexado a uma homofobia e masculinidade tóxica tão forte expressadas pelo Mellors, que eu desejava que isso fosse uma tragédia e os dois fossem para a forca logo, assim eu ganharia mais da relação xoxa que é a dos dois); não são os rumos da narrativa que ditam sua moral do dia, mas debates entre dois personagens que batem boca sobre seu tema e, consequentemente, não levam a nada. Ou seja, ele interrompe a história para colocar dois personagens para discutir para, aí sim, exibir suas críticas; e isso é incrivelmente chato e enfadonho, tanto é que eu pulei diversos dos diálogos e monólogos internos sem perder de vista a narrativa. Ninguém precisou parar no meio da história de Frankenstein para me explicar os pontos de vista da autora e o que ela queria retratar ali; fazer isso é quase me chamar de idiota porque acha necessário mastigar essas ideias para mim.
Enfim, como não sei concluir esse texto e estou com preguiça, fique com esses eufemismos para procriação das espécies que você ganha mais do que lendo esse livro: vestir a peruca do careca, amaciar a tapioca, descansar a tangerina, quebrar o panetone, julgar o coelhinho, sabugada, bate estaca, correr de havaianas, pimba na gorduchinha, procurar petróleo, sentar na cadeira, virar a lenhadora, receber o bruto, vapo vapo, pimba pimba, fazer bubiça, molhar o pincel, dar o bote, colar o velcro, cozinhar a salsicha, brincar de casinha, rechear a perseguida, girar a maçaneta, gratinar o canelote, refeição executiva, lapada na rachada...
...Você pegou a ideia!