Caroline Meirelles 19/02/2022AVISO DE GATILHO: suicí***, automutila*** e abu** sexu**.
Primeiro, tem a lista de gatilhos acima, porque eu fui ler o livro sem saber e, meu Deus, como gostaria de saber antes de ler, porque foi difícil ler algumas coisas.
O livro segue Esther, uma menina com 20/21 anos com depressão. Não vou entrar aqui nos detalhes da vida dela e traumas, porque não vem a calhar, o mais importante é realmente isso, a doença dela e como ela lida com isso, inclusive os métodos psiquiátricos da época em que o livro foi escrito, como eletroconvulsoterapia (que é usada até hoje em casos extremos).
É um livro pesado, as descrições são gráficas, especialmente sobre pensamentos suicid**, é algo que te deixa muito desconfortável mesmo. A escrita da autora, porém, é muito poética e bonita sem ser difícil de entender, me parece muito natural a forma como ela escreve. Pra mim, foi o ponto alto do livro.
Consigo ver porque tantas pessoas gostam tanto desse livro e enaltecem Sylvia, porque ela escreve muito bem, me senti tão próxima da personagens e senti na pele a angústia e todas as emoções.
Contudo, percebi falas - e ações - muito problemáticas da personagem principal (e como não perceber?), e consequentemente da autora, porque a personagem nunca é repreendida por ter essas falas e atitudes. Temos uma cena dela chutando um funcionário preto só porque ele serviu "dois pratos de feijão" pra ela e isso é contra a etiqueta (aparentemente); temos ela falando o tempo todo que ela tem a pele amarela como de um chinês (ela é branca), de um jeito bem depreciativo; ela tem "vontade de vomitar" ao ver duas mulheres juntas na cama e fala o mesmo pra uma das mulheres quando ela diz gostar da principal; e a lista continua.
Não consigo fechar os olhos e dizer que "era aceito na época" e dar 5 estrelas pra um livro desses, perdão. É um livro bom, tem uma escrita muito bonita, uma mensagem interessante sobre depressão, especialmente pra época, mas manchado pelo preconceito, homofobia e racismo.