mayaraliye 05/04/2023
Antonino e a possibilidade de superar a homofobia pelo amor
Ainda estou processando as afetações que este livro me provocou. Mas acredito que, dentre todas as narrativas trazidas no livro, a que mais me emocionou foi a relação dos personagens com o Antonino, o personagem descrito como "maricas". Antonino, que era descrito de formas tão violentas, grotescas e fantasiosas, que por fim só demonstravam o medo da sociedade tradicional, mesquinha e homofóbica por uma pessoa que desvia da norma (que não deveria existir).
É bizarro como ele era temido e violentado (descrito por tantas teorias mirabolantes e que chegam a ser cômicas de tão absurdas que são) por ter um jeitinho menos "másculo" e desejar homens, mesmo que ele não demonstrasse isso publicamente (inclusive por vivenciar, dentro de si e de forma internalizada, todas as violências vividas no meio externo, levando-o a inclusive desejar não sentir desejo algum, no lugar do seu desejo "desviante", já que não conseguia, com todas as suas tentativas, "corrigir" sua sexualidade).
É com este mesmo olhar que Isaura, Crisóstomo, a própria mãe de Antonino e o Camila viam, inicialmente, o personagem, quando ainda o conheciam somente a partir das lendas criadas pelo olhar da homofobia. E é muito bonito como gradativamente esse olhar parece ir sendo desconstruído e substituído por um mais humano, terminando com uma cena em que o Camilo, cria da homofobia disseminada por todos os adultos que foram suas referências de mundo, abraça Antonino e diz que gosta dele, o emocionando. Tudo isso descrito com uma sensibilidade e uma sutileza tremenda existente na escrita desde autor.
Enfim, foi uma leitura que me deixou bastante emocionada e sensibilizada, e que pra mim fica claro o que a contracapa do livro traz: o quanto as nossas relações com os outros são fundamentais para a nossa própria constituição, e são o caminho para nossa felicidade, que, como o autor diz, vai se acumulando dentro dos nossos vínculos humanos.