IvaldoRocha 11/12/2016
Tire um objeto do seu bolso e o coloque diante de si. Você começa a contar uma história.
Isto aparece na primeira página do livro e as duas páginas seguintes, contem simplesmente elogios rasgados dos melhores e maiores jornais, revistas, escritores e críticos do mundo.
Elogios mais que merecidos, trata-se de um livro diferente de quase tudo que já se viu, não só pelo conteúdo, mas também pela sutileza e elegância que é contado.
O livro recebeu o prêmio Costa Book de melhor biografia de 2010, o mais importante prêmio dedicado a escritores de língua inglesa residentes na Grã-Bretanha e Irlanda.
Autor do livro, o renomado ceramista inglês Edmund Waal, é descendente do clã dos Ephrussi o maiores exportadores de trigo do mundo durante o século 19, a família se espalhou estrategicamente pela Europa e diversificou suas atividades tendo fundado seu próprio Banco. Na época o clã dos Ephrussi era comparado em poder e riqueza aos Rothschild.
A lebre com olhos de âmbar é um netsuque, pequeno objeto japonês entalhado em madeira ou marfim, que faz parte de uma coleção de 264 netsuquês. Esta coleção foi apresentada a Edmund Waal quando estava em viagem ao Japão, pelo seu tio-avô Iggie de 84 anos, que contou sobre seus pais que tinham recebido a coleção de Charles Ephrussi como presente de casamento.
Iggie entrou no Japão ao fim da Segunda Guerra, lá conheceu Jiro filho de uma família de fabricante de tamancos, por quem se apaixonou e viveram juntos por 41 anos. Quando Iggie morreu, Jiro deixou a coleção de Netsuques para Edmund e este resolveu fazer toda a trajetória da coleção de netsuques ao longo do tempo, descobrindo e contando assim a história de sua família.
A história por si só já seria interessante, mas Charles Ephrussi conviveu com os maiores pintores, escritores e pensadores do século 19, tendo patrocinado e ajudado vários deles como Monet, Renoir e Degas.
Não deixa de ser curiosa a passagem em que Renoir, estava precisando de dinheiro e Charles convenceu sua amante Louise a ajudar.
Foram pintados dois quadros um da irmã mais velha de Louise, Irene e de acordo com a correspondência de Charles Ephrussi: “o segundo quadro bastante adocicado das meninas mais novas, Alice e Elisabeth. As duas meninas tem o cabelo da mãe. Elas estão diante de uma cortina cor de vinho escura, aberta para revelar um salão ao fundo, de mãos dadas, como que para ganharem confiança – um confeito rosa e azul de drapeados e fitas... Não tenho certeza se Louise gostou”. O quadro trata-se do Rosa e Azul (1881) que faz parte do acervo do MASP desde 1952.
Enfim você irá reviver, ou melhor, viver a história do século 19, a efervescência da Europa, suas guerras e constantes mudanças geopolíticas, o antissemitismo, a ascensão do nazismo, o pós-guerra e a reconstrução do Japão.
Não é pouco para uma coleção de netsuquês.