Lodir 17/11/2011O livro que faltava na literatura nacionalO mercado literário nacional anda saturado. Há muito tempo, livros com a temática de fantasia se tornaram comuns entre os lançamentos de autores nacionais, principalmente os estreantes, chamados de nova geração. A turma que cresceu com Harry Potter – lendo o livro ou não – foi influenciada pela transformação que esta saga, entre outras, trouxe ao mercado literário. Desde então, livros do gênero não param de pipocar nas prateleiras, geralmente escritos por jovens que estão entre os quinze e trinta anos. A fantasia, que já foi meu gênero preferido, tornou-se insustentável. Diante de tantas novas séries trazendo bruxos, vampiros, dragões, anjos e outros seres do tipo, ser original e surpreendente virou algo raro. A cópia dos grandes sucessos é algo comum e que se reconhece facilmente pela sinopse e capa, algo lamentável que precisa ser evitado.
Diante de tanta sede em criar fantasias e tantas cópias no mercado, eis que um autor brasileiro resolve estrear com algo, no mínimo, original e admirável. A maioria dos lançamentos de fantasia se baseia em culturas e mitos estrangeiros, seja a cultura nórdica, egípcia ou americana. Não é o caso, no entanto, de “A Odisseia de Tibor Lobato – O Oitavo Vilarejo”, primeiro volume da trilogia do estreante Gustavo Rosseb, lançada no final de outubro. O que mais me chamou atenção na obra, antes mesmo de seu lançamento, e que me fez lê-la, foi a inspiração total na cultura e no folclore brasileiro. Uma idéia ousada e fantástica. Por que, afinal, ninguém pensou nisso antes? Qual o motivo de tantas séries baseadas em outras culturas, já tão batidas, quando temos à nossa disposição um folclore rico, tanto em mitos quanto em seres? Por que não uma fantasia 100% brasileira?
“Tibor Lobato”, dessa forma, torna-se o livro que faltava no mercado jovem brasileiro. É uma obra que, mesmo para quem não agüenta mais ler fantasia, precisa e deve ser conferida. Na trama, Tibor Lobato, de 13 anos, e sua irmã Sátir, de 15, são filhos de ciganos que, após a morte dos pais, precisam viver com avó, que eles não conheciam. Ela mora em um sítio, um lugar perdido dentro de uma mata, longe da cidade e do convívio comum. Lá eles conhecem Rurique, um menino da mesma idade, que vive na redondeza e logo os três se tornam amigos. A chegada deles coincide com o início da quaresma, um período temido pelos moradores locais graças aos mitos que o cercam, como o aparecimento de seres misteriosos no mato e outros eventos sobrenaturais. Mesmo assim, Tibor e sua irmã resolvem se aventurar pela floresta em plena noite de quaresma. Ao longo da trama, o leitor irá se aventurar com o Saci Pererê, a Cuca, o Curupira, o Boitatá e outros seres mágicos presentes no folclore brasileiro. Tudo é narrado de uma forma simples e natural.
O resto é história. Uma ótima história que precisa ser lida, e não contada. “Tibor Lobato” é um livro que me fascinou, desde que vi a sinopse, o título e a maravilhosa capa. É um dos melhores lançamentos brasileiros dos últimos tempos, e também um dos mais originais. É, possivelmente, a melhor opção de fantasia para o público infanto-juvenil escrita por um brasileiro hoje. A série é fortemente inspirada por outras sagas do gênero, como Harry Potter e Percy Jackson, algo que pode ser notado facilmente pelo título, a capa e os personagens. Ainda assim, “Tibor Lobato” consegue ser original, principalmente por se inspirar em uma mitologia não explorada antes, a não ser, talvez, por Monteiro Lobato (que parece receber uma homenagem no título da série).
Ainda assim, alguns pontos devem ser levantados. A única coisa que me incomodou durante a leitura foi a má revisão da obra, mais por parte da editora que do autor. A pontuação do livro é péssima. Diversas frases começam com letra minúscula. O ponto de exclamação é exageradamente utilizado no livro, e praticamente tudo o que é dito pelos personagens termina com ele, algo que me aborreceu bastante, já que eles parecem gritar o tempo todo. Pode parecer pouca coisa, mas é algo que realmente salta aos olhos e precisa ser observado. Ainda assim, esses são pequenos erros, apenas técnicos, que podem ser consertados em futuras edições, e que não comprometem em nenhum momento o prazer de ler Tibor. Tudo acontece muito rápido, as cenas são descritas como um bom ritmo e não há espaço para o tédio, tanto que li todo o livro em apenas um dia.
Quem foi criado em sítio ou fazenda vai adorar o livro, já que ele relata de forma simples e gostosa a criação de crianças no campo, que dá uma leve e prazerosa saudade da infância. A obra é uma boa opção para quem tem filhos ou sobrinhos e gostaria de incentivar a leitura oferecendo uma opção nacional que também ensina sobre a nossa cultura. Uma boa alternativa para ser oferecida nas escolas. Mas, mesmo quem é adulto como eu deve se deliciar com as aventuras de Tibor. Espero, sinceramente, que o autor já esteja finalizando o segundo volume e que a editora não caia na besteira de deixar de investir nessa série promissora, já que, como eu disse, “Tibor Lobato” é a fantasia juvenil que faltava na literatura brasileira. Um lugar vago que acaba de ser belamente preenchido.
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