Café & Espadas 23/02/2014
Resenha E Tem Outra Coisa
E tem outra coisa... nos traz novamente o universo dupal e totalmente non-sense criado pelo genial Douglas Adams, que morreu prematuramente, para tristeza de todos nós fãs, antes de conseguir finalizar as aventuras de Arthur Dent e companhia.
Mas o seu legado é eterno, e 18 anos depois da publicação do quinto volume da série (Praticamente Inofensiva, lançado em 1991) o escritor irlandês Eoin Colfer (autor da saga Artemis Fowl) tentou dar uma continuidade a tão amada saga de Douglas.
Eu falei tentou.
Quando recebi o livro em mãos pus logo um pensamento na cabeça: Não foi o Douglas que escreveu esse sexto volume, então, não tente comparar os dois autores. Em nada.
Sendo assim, parti para uma tentativa de leitura totalmente imparcial, que, para mim, só iria usar personagens conhecidos de uma história que já havia sido contada e até recontada pelo seu autor original, e se tratava mais de uma homenagem a ele. Uma homenagem mais que merecida, diga-se de passagem. Mas logo percebi que não é tão fácil assim separar as coisas, e as comparações começaram a surgir inconscientemente, e percebi o fato: Eoin é realmente um ótimo escritor, mas a continuação que ele havia criado para o Mochileiro das Galáxias não estava me convencendo. Mas vamos à trama do livro.
Arthur, Trillian e Random (a filha insuportavelmente chata de Arthur e Trillian) são reunidos novamente na Terra. Mas estamos falando de Arthur Dent, correto? Então logo estamos falando de vogons também, que insistem em eliminar todos os terráqueos existentes no universo. Eles atacam novamente a Terra, acreditando que realmente dessa vez não haverá escapatória para a raça humana. Zaphod aparece no meio da confusão, mas não consegue ser muito útil. Mas aí surge Wowbagger, o imortal, que tem uma única razão de vida: xingar todos os seres vivos do universo em ordem alfabética. Mas ele já está cansado disso. Não quer mais ser um imortal e agora busca uma forma eficiente de morrer. Ou pelo menos, alguém que possa realizar tal proeza.
É aí que surge Thor, o grande deus nórdico do trovão. Mas ele anda meio cabisbaixo, pois um vídeo dele (muito comprometedor) foi espalhado pela subeta net, para praticamente todo o universo assistir, e sua moral despencou e se espatifou no chão como uma famigerada baleia que apareceu no meio do nada, tentando fazer amizade com o chão em algum planeta por aí.
Some a isso um grupo de humanos que conseguiu escapar da destruição causada pelos vogons e chegaram a outro planeta, Nano, e lá eles precisam desesperadamente de um novo deus. Pronto! Temos todos os elementos presentes na “trilogia de cinco” que ousou (e conseguiu) misturar ficção científica e humor. Só não temos o robô depressivo Marvin, que não participa de forma alguma dessa narrativa.
Mas mesmo colocando todos os ingredientes dessa boa história, Eoin não conseguiu trazer completamente a mesma intensidade, a narrativa rápida e cativante, colocando situações dramáticas demais e até mesmo chatas em vários momentos. Outra coisa que ele tentou trazer foi as ‘Notas do Guia’ que foram colocadas em excesso durante o livro, sendo algumas completamente desnecessárias. Isso tornou a leitura chata e arrastada.
Mas nem tudo é ruim assim. A história tem vários momentos divertidos e hilários (como a guerra entre os queijoamantes e os habitantes de Nano) e uma participação excepcionalmente dupal do grande Zaphod Beeblebrox. O final do livro é ótimo, e o deus Thor rende cenas de tirar o fôlego no seu embate final contra Wowbagger.
Falando sobre a edição, devo separar um espaço nessa resenha para fazer uma observação sobre algo que me impressionou: a PÉSSIMA REVISÃO (em letras garrafais mesmo!). Não sou muito de ficar observando erros gramaticais nas edições, e vir faltando uma letrinha ou duas é até relevante. Mas palavras duplicadas, uma seguida da outra... Erros tão grosseiros que chegavam até a mudar o sentido do parágrafo inteiro, ao ponto de você ter que reler todo o texto por achar que não tinha assimilado direito... Aí não tem a mínima condição de deixar passar! Não sei o porquê de tamanho desleixo com algo tão importante em um livro.
No mais, o resto da edição é muito parecido com as outras da série, em termos de capa e diagramação, e contem ilustrações com elementos referentes à história com um plano de fundo de estrelas e galáxias (isso para quem tem a edição da Arqueiro/Record assim como eu). A diferença é que essa edição tem orelhas com uma biografia do autor e uma curta sinopse do livro.
E tem outra coisa..., como já foi dito, não é de tudo ruim. Se você for ler de uma forma despretensiosa, sem tanto apego ao restante da série, ele irá entreter. E para os que estavam saudosos de Arthur e seus amigos, o livro irá saciar um pouco essa falta. Recomendo a leitura a todos que leram o resto da série. Mas deixo um sobreaviso: não crie tantas expectativas.
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