A genealogia da moral

A genealogia da moral Friedrich Nietzsche




Resenhas - Genealogia da Moral


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matlima 29/12/2019

Denso e complexo
Livro pequeno composto de aforismos reunidos em três dissertações interligadas: 1) bom e mau; 2) culpa é má-consciência; 3) ideais ascéticos. O livro é pequeno, mas de leitura pesada, dada a complexidade do pensamento desse culto autor. De um modo geral, a obra tenta descrever que interesses estão por trás da ideia de moralidade. Para o autor, o pecado não seria necessariamente uma ação má em si, pois a própria noção de mau é discutível. Para ele, na concepção católica/cristã dominante no mundo ocidental, a moral foi criada com o objetivo de aprisionar o homem, invertendo a lógica de valores que deveria verdadeiramente imperar.
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Lista de Livros 05/11/2017

Lista de livros: Genealogia da Moral – Friedrich Nietzsche
Parte I:
“A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que apenas por uma vingança imaginária obtêm reparação. Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um “não-eu” — e este Não é seu ato criador. Esta inversão do olhar que estabelece valores — este necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si — é algo próprio do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto — sua ação é no fundo reação.”
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“O que revolta no sofrimento não é o sofrimento em si, mas a sua falta de sentido: mas nem para o cristão, que interpretou o sofrimento introduzindo-lhe todo um mecanismo secreto de salvação, nem para o ingênuo das eras antigas, que explicava todo sofrimento em consideração a espectadores ou a seus causadores, existia tal sofrimento sem sentido. Para que o sofrimento oculto, não descoberto, não testemunhado, pudesse ser abolido do mundo e honestamente negado, o homem se viu então praticamente obrigado a inventar deuses e seres intermediários para todos os céus e abismos, algo, em suma, que também vagueia no oculto, que também vê no escuro, e que não dispensa facilmente um espetáculo interessante de dor. Foi com ajuda de tais invenções que a vida conseguiu então realizar a arte em que sempre foi mestra: justificar a si mesma, justificar o seu “mal”; agora ela talvez necessite de outros inventos (por exemplo, vida como enigma, vida como problema do conhecimento). “É justificado todo mal cuja visão distrai um deus”: assim falava a primitiva lógica do sentimento — e apenas a primitiva? Os deuses como amigos de espetáculos cruéis — oh, até onde essa antiquíssima ideia ainda hoje não permeia a nossa humanização europeia! Consulte-se Calvino e Lutero, por exemplo. É certo, de todo modo, que tampouco os gregos sabiam de condimento mais agradável para juntar à felicidade dos deuses do que as alegrias da crueldade. Com que olhos pensam vocês que os deuses homéricos olhavam os destinos dos homens? Que sentido tinham no fundo as guerras de Troia e semelhantes trágicos horrores? Não há como duvidar: eram festivais para os deuses; e, na medida em que os poetas sejam nisso mais “divinos” que os outros homens, eram também festivais para os poetas... De igual modo os filósofos morais da Grécia imaginaram depois os olhos do deus a observar a luta moral, o heroísmo e o autossuplício do virtuoso: o “Hércules do dever” estava sobre um palco, e sabia disso; a virtude sem testemunhas era algo impensável para esse povo de atores.”
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Mais em:
http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2017/10/genealogia-da-moral-uma-polemica-parte.html
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Parte II:
“O melhor é certamente separar o artista da obra, a ponto de não tomá-lo tão seriamente como a obra. Afinal, ele é apenas a precondição para a obra, o útero, o chão, o esterco e adubo no qual e do qual ela cresce — e assim, na maioria dos casos algo que é preciso esquecer, querendo-se desfrutar a obra mesma. A inquirição sobre a origem de uma obra concerne aos fisiólogos e vivisseccionistas do espírito: jamais absolutamente aos seres estéticos, aos artistas!”
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“O ideal ascético significa precisamente isto: que algo faltava, que uma monstruosa lacuna circundava o homem — ele não sabia justificar, explicar, afirmar a si mesmo, ele sofria do problema do seu sentido. Ele sofria também de outras coisas, era sobretudo um animal doente: mas seu problema não era o sofrer mesmo, e sim que lhe faltasse a resposta para o clamor da pergunta “para que sofrer?”. O homem, o animal mais corajoso e mais habituado ao sofrimento, não nega em si o sofrer, ele o deseja, ele o procura inclusive, desde que lhe seja mostrado um sentido, um para quê no sofrimento. A falta de sentido do sofrer, não o sofrer, era a maldição que até então se estendia sobre a humanidade — e o ideal ascético lhe ofereceu um sentido! Foi até agora o único sentido; qualquer sentido é melhor que nenhum; o ideal ascético foi até o momento, de toda maneira, o mal menor par excellence. Nele o sofrimento era interpretado; a monstruosa lacuna parecia preenchida; a porta se fechava para todo niilismo suicida. A interpretação — não há dúvida — trouxe consigo novo sofrimento, mais profundo, mais íntimo, mais venenoso e nocivo à vida: colocou todo sofrimento sob a perspectiva da culpa... Mas apesar de tudo — o homem estava salvo, ele possuía um sentido, a partir de então não era mais uma folha ao vento, um brinquedo do absurdo, do sem-sentido, ele podia querer algo — não importando no momento para que direção, com que fim, com que meio ele queria: a vontade mesma estava salva. Não se pode em absoluto esconder o que expressa realmente todo esse querer que do ideal ascético recebe sua orientação: esse ódio ao que é humano, mais ainda ao que é animal, mais ainda ao que é matéria, esse horror aos sentidos, à razão mesma, o medo da felicidade e da beleza, o anseio de afastar-se do que seja aparência, mudança, morte, devir, desejo, anseio — tudo isto significa, ousemos compreendê-lo, uma vontade de nada, uma aversão à vida, uma revolta contra os mais fundamentais pressupostos da vida, mas é e continua sendo uma vontade!... E, para repetir em conclusão o que afirmei no início: o homem preferirá ainda querer o nada a nada querer...”
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Mais em:

site: http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2017/10/genealogia-da-moral-uma-polemica-parte_25.html
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Patrick 24/05/2017

O mundo cinzento do homem lasso
''Estamos cansados do homem...''

Agora começo a entender...

Estamos cansados do homem, segundo Nietzsche, desse homem de quase dois mil anos de idade, o homem derivado da rebelião escrava de uma moral ressentida. Cansamos do homem, mas não do homem como homem, como coisa em si, mas como constituição e ideal formado a partir de uma inversão de valores, cansamos desse homem que veio a ser e que o temperamento niilista e pessimista busca aniquilar em si próprio, aniquilando tudo o mais com ele, porque ele entende o homem em termos fixos, entende o homem como verdade eterna e uma verdade que ele não admite como sua, embora acredite nela arraigada em sua constituição, ao passo que o ''livre-pensador'' democrata que, embora sinta da mesma forma, distrai seu cansaço com discursos enquanto tacitamente propaga aquilo que procura repelir e tratar. Nietzsche fala sobre o ressentimento que se enraizou no homem comum, fazendo-o voltar-se para a inteligência, que ele estabeleceu como característica de primeira grandeza em relação à nobreza de espírito inata do homem ''bem-nascido'', e isso me lembra o camundongo de consciência hipertrofiada de Memórias do Subsolo e de J. F. C. Fuller falando sobre o conhecimento, que ao trespassar os domínios dos poucos sábios e alastrar-se em meio aos ignorantes rompeu um equilíbrio fundamental que garantia aos muitos uma confiança nos símbolos e evitava a total entrega e submissão à realidade fria, que veio a torná-los gananciosos, vazios e inconsequentes quanto ao futuro, para ele, caos; um tanto similar a Nietzsche no que tange ao domínio dos muitos, seja como apropriadores dos segredos místicos, seja como criadores de valores, mas diferente dele que vê o perigo não no caos, mas na passividade, na domesticação do homem como empecilho à sua real potência, no cansaço que o prostra e na sua impressão, já de longa data, de que o homem é inerentemente ''mau'', e se não mau, miserável e humilde, e, justamente, por ser ''bom'', presa para os maus; dando ao mundo um panorama melancólico e triste, pelo menos para aqueles que, como Schopenhauer, cientes das dores do mundo, passam a vê-lo de forma cinzenta, um lugar onde somente o sacrífico do homem lhe dá um mínimo de cor.

É uma perspectiva histórica e filosófica que me deixou um tanto mal, na primeira vez em que me deparei com ela, mas antes de aceitá-la ou rejeitá-la por completo, eu preciso primeiro procurar entende-la correta e completamente. Eu havia me equivocado na primeira leitura desse livro (havia pulado o prólogo!), mas ao relê-lo eu o fiz com a ajuda de outro livro; Humano, Demasiado Humano; que junto ao prólogo me ajudou a compreende-lo melhor, sem ainda formar uma opinião pró ou contra.
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Nena 04/07/2016

Ler Nietzsche nunca é fácil, por mais habituado q já esteja à sua escrita. Já li alguns livros e sempre me pego discordando e concordando com seus pontos de vista. Mas uma coisa é fato, ele era uma pessoa q conseguia posicionar-se e defender suas ideias como poucos. Mesmo em uma época de tanto moralismo e conservadorismo. O Bom vs Mal é amplamente e brilhantemente explorado em aforismos. Livro q vale a pena ler.
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Paulo Silas 24/02/2016

Denso, complexo e muito profundo. Em que pese a aparente pequenez da obra, é um dos livros em que Nietzsche mais disseca os temas abordados. Para que a leitura possa fluir e ser melhor compreendida, é necessário que o leitor esteja habituado com os escritos do filósofo. O alerta em tal sentido é dado pelo próprio Nietzsche no prólogo do livro:

"Se este livro resultar incompreensível para alguém, ou dissonante aos seus ouvidos, a culpa, quero crer, não será necessariamente minha. Ele é bastante claro, supondo-se - e eu suponho - que se tenha lido minhas obras anteriores, com alguma aplicação na leitura: elas realmente não são fáceis."

O livro é dividido em três dissertações, cada qual com uma análise filosófica/psicológica/antropológica profunda de questões atreladas à moral e sua genealogia.

A primeira parte da obra (""Bom e mau", "bom e ruim"") se aprofunda em sobre como o ser humano chegou à sua condição atual, preso à moral arraigada na sociedade, de modo que o autor acaba buscando respostas na origem da cultura. A instituição de agrupamentos das pessoas (comunidades) ganha um respaldo na pesquisa do filósofo, a fim de constatar as origens das definições morais. É uma busca pela valoração dos valores. O que originou e definiu o bom como sendo bom e o mau ou ruim como sendo mau ou ruim? Não obstante a dissecação explorativa feita por Nietzsche, há conjuntamente a destruição dos valores constatados na pesquisa do autor.

A segunda dissertação (""Culpa", "má consciência" e coisas afins") demonstra que há um forte liame entre os impulsos do homem e as conquistas culturais. Os instintos produzem a consciência (ou má consciência), as quais são responsáveis pelas formalizações culturais das comunidades: direito, religião, trabalho e política. Nesta parte do livro há uma notória análise psicológica-antropológica da história da cultura e seus reflexos e consequências até hoje existentes.

Na terceira e última parte da obra ("O que significam ideais ascéticos?") está a conclusão que levam as duas primeiras dissertações do livro. O ideal ascético é destrinchado, exposto e novamente estruturado a fim de compreendê-lo integralmente. É a ânsia pelo nada, a necessidade de se criar algo para que possa haver um conforto e supressão dos instintos. O ideal ascético é personificado no sacerdote, o qual reúne e direciona todo o ressentimento dos fracos, dos escravos, do rebanho para dentro dos próprios, se insurgindo contra os dominantes e adotando os ideias da moral de acordo com a criação destes próprios. A profundidade da exposição feita em tal ponto é surpreendente.

"Genealogia da Moral: uma polêmica" foi escrito originalmente para complementar a obra anterior, "Além do Bem e do Mal", vez que Nietzsche retoma e cita inclusive passagens do outro livro. É uma escrita robusta, profunda, erudita e em vários pontos complicada. Cada parágrafo da obra gera muita reflexão e interessantes interpretações. É um livro que deve ser lido e relido, cada vez mais com o intuito de tentar melhor compreender o turbilhão de mensagens transmitidas pelo filósofo.

Recomendo!
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RicardoDM 31/01/2016

Genealogia da moral
Em "Além do bem e do mal", Nietzsche escreve: "Gradualmente foi se revelando para mim o que toda grande filosofia foi até o momento: a confissão pessoal de seu autor, uma espécie de memórias involuntárias e inadvertidas." O mesmo se pode dizer da obra dele: seu intenso sofrimento corporal (foi vítima de inúmeros problemas de saúde) parece tê-lo feito olhar o sofrimento não mais do ponto de vista da filosofia idealista e do cristianismo, mas da fisiologia -- e aqui se mostra também a influência de ideias muito correntes na época, como a da hereditariedade.

Ao longo das três dissertações de "Genealogia da moral", ele levanta hipóteses para a origem das oposições "bom x ruim" e "bom x mau" (o primeiro par, de acordo com ele, seria a moral dos senhores e o segundo, a moral dos escravos), a origem das noções de "culpa", "castigo", "pecado", "má consciência"..., e o desenvolvimento do ideal de vida ascético (de negação da vida terrena) -- ideal que ele encontra vivo inclusive no espírito cientificista. Na conclusão da terceira dissertação, sobre o ascetismo, ele escreve: "O homem preferirá ainda querer o nada a nada querer."

Sem entrar na questão de concordar ou não com as proposições de Nietzsche, achei fascinante o "modus operandi" dele: a maneira como, ao propor outra leitura para o mundo, ele faz ver a artificialidade das demais leituras (que se querem como "a verdade em si") -- artificialidade que não significa irrealidade; as leituras são artificiais, mas, uma vez que regem um modo de vida, elas se tornam extremamente reais, sendo muito difícil conseguir se descolar delas.
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Filino 29/01/2016

Leitura instigante
Esta edição traz as dissertações que compõem a "Genealogia da moral", além de um texto de juventude do filósofo de proeminentes bigodes. Em relação à "Genealogia", cabe assinalar o caráter que Nietzsche confere à sua investigação: em diversos momentos ela assume não apenas um caráter histórico, mas também filológico e fisiológico. Em várias passagens deparamo-nos com grandes "sacadas" do filósofo que nos surpreendem um bocado!

Interessante notar que o texto "juvenil" que acompanha a edição também é um achado: mesmo naquelas linhas juvenis já se percebem muitos elementos que nortearão o Nietzsche mais maduro.
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David 04/01/2016

Um filósofo polêmico!!
"Genealogia da Moral" é um livro provocador e muito polêmico, onde Nietsche cutuca a raça humana com suas questões extraordinários . Uma obra que todos deveriam ler antes de morrer.
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Rangel 02/07/2015

DE UMA MORAL IDEALISTA PARA UMA ÉTICA MAIS RACIONAL EXISTENCIALISTA
Friedrich Nietzsche, filósofo provocador e polêmico, deixou sua obra “Genealogia da Moral: uma polêmica” para analisarmos o conhecimento de que nós não conhecemos e procurarmos nos conhecer. A chave da sua obra é a busca pelo autoconhecimento, através da esperança e do resgate de valores ainda não estabelecidos pela cultura vigente. Nietzsche, ao rebater a filosofia socrática, sempre se apoiou em Heráclito, que enfatizava a razão demonstrar a própria razão.
No decorrer da sua obra, Nietzsche discorre sobre juízos de valor entre bem, mal e ideais ascéticos, o qual sempre esbarra no idealismo cristão. Assim, ele dividiu seu livro em três dissertações, que preceituam morais do próprio homem.
Na 1ª. Dissertação, ele fala sobre o bom e o mau, que considera existir duas classes: a dos senhores nobres (guerreiros e sacerdotes) e a dos escravos. Os guerreiros são a classe dominante, que cultuam a virtude do corpo, e os sacerdotes cultivam o espírito. Assim, no primeiro momento, distingue-se a moral dos senhores nobres e a moral dos escravos. O nobre é o indivíduo com afirmação positiva de si mesmo como ser bom, belo e forte, e por isso, que são conquistadores e poderosos. Não dependem de nada e de ninguém para se sentirem felizes, apenas de si próprios. E deste conceito, há a contraposição do que é ruim, como feio e fraco, que pode ser característico de um plebeu ou pessoa vulgar. Já, a moral de escravos é a moral do ressentido, o qual para ser feliz, considera outras pessoas como superioras a ele, e considera os valores dos senhores maus. Assim, o escravo considera que o bom é fraco e o forte é mau, porque ele inferioriza. E por esse prisma, a cultura ocidental demonstra ser uma cultura de ressentimento, que herdou do povo judeu, o cristianismo, que era ressentido com os romanos. A vitória dos escravos sobre os senhores fortes e dominadores fez prevalecer que os bons são os sofredores e escravizados, assim transmutou-se a ideia de que impotência é bondade, baixeza é humildade, covardia é paciência. Entretanto, a dúvida é a bondade dos escravos, que utilizam de sua imagem de fracos vulneráveis para um contra-ataque e tomada de poder. Foi o que houve com a vitória dos cristãos no Império Romano, que utilizaram a imagem de Cristo como líder, aparentemente vencido, mas vencedor no final, o que deteriorou a moral dos nobres senhores, que tiveram sua moral predominante por muitos séculos. Assim, negar a bondade dos senhores é tomar posse da inferioridade, como figura niilista, o que na verdade, é negar a potência natural do ser humano e se conformar com ressentimento como algo moralmente bom. Daí, a necessidade de preservar a figura do nobre senhor na sua pessoa, no sentido de viver o seu ser criança em buscar de amadurecer e ser adulto, a fim de que se sentir forte, é sentir ser uma espécie como indivíduo que aprende a ser libertado da infantilização.
A 2ª dissertação é a concepção da consciência, de culpa e ideia de dívida, uma vez que o esquecimento é saudável e a memória não é algo natural na concepção da subjetividade da dor. Se Deus é infinitamente bom, a ingratidão é sinal de impureza e sinal de prestação de contas. Assim, o castigo é visto como forma de compensar o sentimento de culpa do ser humano. E a obrigação só é existente entre credor e devedor, a qual foi adaptada feita pelos sacerdotes nas trocas realizadas na antiguidade, sendo Deus, o credor, e os acontecimentos de benefício um acordo de troca, se os homens forem obedientes aos seus ensinamentos e vontade. Entretanto, a cultura ocidental foi inculcada pelo catolicismo, que sempre doutrinou a purificação da alma como renúncia aos impulsos, ou seja, reprimir os instintos, o que faz o indivíduo ter um conflito interno entre desejo e restrição, o que pode levá-lo ao adoecimento. Assim, para escapar desta culpa ressentida, o antídoto é a experimentação, ou seja, o esquecimento de toda carga de culpa pela da dor.
Na 3ª. Dissertação, os ideais ascéticos são tratados como renúncia aos desejos e mortificação das vontades humanas, uma vez que o ideal ascético é o imaginário do bom cristão expressado pelo sacerdote, que prega a negação das vontades terrenas e realizar a vontade de Deus, a fim de encontrar a salvação futura. Tal ideal fez o homem negar a si mesmo em prol de uma recompensa espiritual. Então, o sacerdote cria o querer a nada e nada querer, o que é uma concepção objetiva de querer dominar a vontade e dominar o desejo. Através de tal querer, o sacerdote controla as pessoas pela promessa da recompensa espiritual, e faz isso para evitar o suicídio coletivo e a melancolia. Então, este ideal é a ponte para uma vida futura, ou seja, após a morte, que se abdica da vida hoje querer o nada para viver uma vida eterna feliz. Assim, as pessoas vivem a religião por códigos simbólicos que no futuro, os sofrimentos atuais encontrarão a felicidade certa. Pode-se então concluir que conhecer é desconstruir o que foi assimilado na vida e tentar reconstruir preceitos morais na própria existência.
Assim, conclui-se que Nietzsche faz uma crítica ao catolicismo por exaltar a moral ética dos fracos e subestimando a necessidade ética de ser forte na vida, propõe uma psicologia da consciência em distinguir de ser cruel ou não, nas tomadas de decisões de modo mais racional, e expõe uma crítica ao ascetismo de não querer o nada, mas que o ser humano deveria buscar novos valores existenciais.


site: http://lrangel.ortiz.zip.net/
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Lanzellotti 11/06/2014

...O poder do hábito, a necessidade de uma coisa mais elevada, a ruptura com tudo existente, a dissolução de todas as formas de sociedade, a dúvida... Discussões como ressentimento, má consciência, moral, tradição religiosa, paixão, igualdade e outras teses importantes e controversas. Imperdível.
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Gabriel 02/05/2014

Não me cativou
Apesar de citar um tema interessante, a leitura do livro é muito densa e complicada, e não consegui me cativar, então o abandonei nas primeiras páginas. Tinha-o comprado mas me arrependi, então, como bom leitor, doei o exemplar para a biblioteca da escola, pois sei que alguém tirará bom proveito dele.
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@KrolChacon 14/04/2014

Genealogia da Moral. Nietzsche - Sobre a origem do Estado.
A origem do Estado se deu em consequência da subjugação da maioria, desorganizada e por isso fraca, por senhores poderosos que se organizaram guerreiramente e politicamente lançando suas garras sobre eles, conquistando-os. Assim, surge o “Estado” como um meio utilizado por uma minoria a fim de dominar uma maioria desorganizada.

De acordo com Nietzsche, a Justiça é mais uma forma dos homens de poder entender-se, e desses mesmos homens forçarem aos menos poderosos a agirem de acordo com a vontade das estirpes dominantes, forçando-as á manterem um compromisso e sendo útil aos desejos nobres.

A relação entre a origem do Estado e a teoria nietzschiana é que as duas teorias tratam de demonstrar o poderio dos nobres sobre as estirpes inferiores. A minoria dominante utiliza seus poderes para o próprio beneficio não levando em conta as necessidades da população.
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Iuri 18/02/2013

Esta obra de Friedrich Wilhelm Nietzsche detecta alguns pontos das origens dos valores morais. O autor ressalta a inversão sofrida por tais valores pelas influências que se prendem com força. Por isso, quase toda a obra girará em torno da questão do valor: o que é o bom?

Como filólogo de formação, Nietzsche aprofunda-se, justamente, no estudo da palavra bom e, conseqüentemente, da palavra mau. O gênio provocativo de Nietzsche traz, assim, um texto com certo teor de sarcasmo. Isso é facilmente verificado já na primeira das três partes da obra.

Todas as questões levantadas pelo homem da época de Nietzsche, principalmente os psicólogos ingleses, não levam a nada, não trazem a origem do bem e do mal. O que importa, na psicologia nietzschiana, é a busca da verdade de uma forma imparcial, conforme ele mesmo escreve no primeiro ensaio da obra: “(...) desejo que seja exatamente o contrário; desejo que estes investigadores, que estudam a alma ao microscópio, sejam criaturas generosas e dignas, que saibam refrear o coração e sacrificar os seus desejos à verdade (...) ainda que simples, suja, repugnante, anticristã e imortal... porque tais verdades existem”. O intuito de Nietzsche, contudo, é a construção de uma História da Moral.
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Rafael 21/10/2012

Leitura Pesada, mas gratificante
Essa semana realizei o desafio de ler Nietzche!!!! Esperava um brainstorm de ideias, mas me deparei com um brainblizzard!!! Leitura bastante interessante sobre a genealogia da moral. Nietzche explora muito bem os conceitos de bem e mal e do bom e mau no primeiro tratado. A idéia da moral no nobre e no plebeu de antigamente, bem como a inversão dos valores com o crescimento do cristianismo. No segundo tratado, ele aborda vários pontos de vista sobre os conceitos de falta, má consciência e fenômenos coligados. E para finalizar ele explora com destreza a questão dos ideais ascéticos. Recomendo esse livro como um livro de cabeceira pois será mais fácil assimilar as ideias expostas por Nietzche além de poder dormir refletindo filosofando sobre os pensamentos desse grande pensador.
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fellipe! 06/05/2012

Ótimo! :)
Primeiramente, no prefácio, o autor decorre a respeito dos motivos que o levaram a penetrar nas origens dos conceitos morais, tentando entender de onde surgiram os conceitos de bem e mal a qual estamos acostumados a pensar. Afirma ter receio de criar hipóteses irrelevantes e esquisitas, e sugere alguns trechos de seu "humano, demasiado humano" e "aurora", por notas em comum. Tudo segue com um aforismo natural de Nietzsche, o mesmo afirmando que todos os escritos que serão percorridos irão ser de grande polêmica.
O livro começa enfim com uma dissertação sobre o "Bem" e "Mal" e o "Bom" e "mau", ele disserta a respeito dos psicólogos ingleses, responsáveis pelos primeiros escritos sobre a origem da moral, só que a maneira como foram impostas ainda tendem a serem enigmáticas, fazendo com que o autor desaprove. Nietzsche aprova que a verdade seja revelada, por mais anti-cristã, repugnante, suja... Ela possa vir a ser. Para ele, devemos refrear o coração e largar o desejo em prol da verdade. Por mais dura e "imoral" ela possa vir a ser. Ainda o autor aponta que a inclusão das antíteses "bem" e "mal" se devem às pessoas de "1° ordem", que tacharam o moralmente correto de acordo com suas percepções. E é essa superioridade de um grupo sobre outro de casta inferior que acaba por incentivar a existência desses valores, de acordo com Nietzsche; Ainda faz uma análise etimológica da palavra "mau" em alemão, e descobre que a palavra se assemelha à palavra "simples”, criando uma relação com o homem simples, plebeu. Por justamente as pessoas de "1° ordem" designarem as ordens de acordo com o poder, os seres "inferiores" e humildes acabaram virando associação a algo ruim, mal. Tudo é designado pelas circunstâncias, como posso compreender.
Um pouco antes da segunda dissertação, o autor critica imensamente a fé dos fracos, afirmando que o cristianismo foi facilmente aceito devido ao fato da fraqueza ser benéfica para os covardes; ela nada mais era do que um sinal de humildade, que logo era ligada à virtude e, claro, ao conceito de "bom".
Em um momento interessante do livro, o autor continua sua reflexão sobre a origem do ideal de bom e o surgimento da "má- consciência", afirmando que a última surge pela ala pobre da sociedade, da ala submissa, que se ver incapaz de poder revolta-se tendo, então, que adentrar a raiva em si mesmo, adentrar-se, conter o ódio do exterior e começar um processo de interiorização do homem, e é a partir daí que Nietzsche afirma surgir a má consciência. É dor ressentida, presa. Cujos pensamentos são facilmente censurados por suas próprias crenças, que o policiam em seus próprios pensamentos! Isso, nada mais é, que pura alienação, a meu ver...
Já na terceira dissertação, Nietzsche decorre a respeito do que leva os filósofos a viverem na austeridade, seguindo um ideal ascético, que se privam das coisas mundanas em prol de um corte de gastos; fala sobre características de vida de filósofos, entre elas a impossibilidade de exercer o ofício estando casado, sendo Sócrates o único conhecido dos que se manipularam por uma mulher, esse "instrumento diabólico"... Descreve essa fuga do mundo, das pessoas comuns, para se fechar em si mesmo e ser como uma "alma do mundo", sem prender âncoras em lugares, ser um espírito livre.
Chegando mais próximo do fim, em sua terceira e última dissertação do livro, Nietzsche decorre a respeito do ideal ascético, fazendo uma espécie de interpretação do que leva a pessoa a seguir uma vida de singulares "privações", de um niilista. Essa vida de austeridade, de negação aos valores por justamente estar "desanimado" com tudo é pura consequência da busca pela verdade, e essa busca não necessariamente supre nossos desejos, muito pelo contrário, em sua maioria, tende a nos querer preferir a felicidade da ignorância. A questão é que, para ser filósofo há de largar todos esses receios que a ignorância trata de velar, numa afirmação de que o desprendimento de ideais teológicos sejam mais próximo de se buscar a verdade humana absoluta; para Nietzsche, o ateísta é o que se está mais próximo de uma "segunda inocência" de uma pureza que o faz mais suscetível à Filosofia e assim, à busca da verdade.
Escrevendo essa obra, Nietzsche acabou por revelar toda a sua angústia, todo o seu niilismo, essa última dissertação é o retrato de seu fardo, e a de todos os que tomam a vontade de saber como semblante oficial de si mesmo, esse desprendimento com o que é assimilado como correto, como moralmente correto, isso há de ser superado pelos que se atrevem a se afundarem na busca da verdade; o moralmente aceito deve ser questionado, e é isso que o autor faz aqui, uma busca pela verdade por trás do moralmente correto, uma brilhante reflexão sobre a origem da moral.
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