Guilherme.Robles 13/02/2011
Sobre Proust
Proust surge como um eterno observador, onde nenhum detalhe escapa de sua perspicácia, mas ao mesmo tempo procura se esquivar de fazer julgamentos de outrem, uma vez que eles nem ao menos cabem no tempo já perdido, pois seriam totalmente inúteis e careceriam de propósito para existirem. Como a reprise de um filme, um ´´reescrevimento`` de palavras de um livro que já existiu, Marcel nos joga a beleza e arte que insiste em simplesmente tudo de nossas vidas, mesmo que as vezes as deixemos escapar para nossa própria sanidade (antecipando por pouco ´´A Fonte`` de Duchamp e declarando que o ´´banal`` também pode se transformar em arte). Além disso nos apresenta a duplicidade que também esta inserida em tudo, já que nada apresenta apenas um lado bom ou ruim, chegando a conclusão mor de que nada adquire a certeza do fim absoluto. O tempo em que ele desesperadamente procura fazer renascer, desprender e noutras até mesmo congelar e estagnar, se reflete nos detalhes extremamente minuciosos, pois Proust sabia que a cada contemplação minuciosa (sua insônia, os locais e personagens de sua infância, a madalena, o amor e ciúme de Swann, a vida pomposa e adestrada da aristocracia e burguesia, a frase musical de Vinteuil, etc) faria surgir sua beleza escondida e que são por si só um universo inteiro de significações e opiniões que buscam sempre se recriar, nos mostrando que tudo é mutável. Talvez a única coisa imutável seja nossa capacidade de perceber/enxergar e transformar essas mutações em outras novas.
Considerado chato e entediante por muitos (já que uma análise rápida e ignorante nos apresenta uma noção de falta de mobilidade, de fatos que parecem não entreter ou que não mereçam ser escritos) o que esse escritor provoca em mim é exatamente o contrário: ele apresenta o mundo e suas visões por um prisma tão diversificado, que se confluem mas também se afastam e intercalam tantas coisas ao mesmo tempo, que suas gigantescas frases (que muitas vezes tomam facilmente conta de um parágrafo inteiro), me dão um gigantesco e primoroso efeito de ação e articulação automáticos. Esse efeito me deixa até mesmo inquieto, mas numa inquietude benéfica, no sentido de temer em se perder algum detalhe dessa fluidez ou que eu não esteja pronto para acompanhar a sinfonia exata do texto da qual tentamos fazer que se erga infinita por ser tão bela, de nos entrar tantas coisas maravilhosas de uma só vez que temos medo de que não sejam digeridas como se deve.