Ricardo III

Ricardo III William Shakespeare




Resenhas - Ricardo III


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Kurth 11/03/2023

Absurdo
Comecei a ler com altas expectativas, elas foram ultrapassadas.
Ricardo III, peça histórica ambientada no seculo XV durante a Guerra das Rosas, retrata cruamente o ser humano, o famigerado animal político.
"Ricardo: as eu, que não fui moldado para
jogas nem brincos amorosos, nem feito para cortejar um espelho enamorado. Eu, que rudemente sou marcado, e que não tenho a majestade do amor para me pavonear diante de uma musa furtiva e viciosa, eu, que privado sou da harmoniosa proporção, erro de formação, obra da natureza enganadora, disforme, inacabado, lançado antes de tempo para este mundo que respira, quando muito meio feito e de tal modo imperfeito e tão fora de estação que os cães me ladram quando passo, coxeando, perto deles. Pois eu, neste ocioso e mole tempo de paz, não tenho outro deleite para passar o tempo afora a espiar a minha sombra ao sol e cantar a minha própria deformidade. E assim, já que não posso ser amante que goze estes dias de práticas suaves, estou decidido a ser ruim vilão e odiar os prazeres vazios destes dias."
É absurdo.
Leia, apenas.
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Fernanda631 21/01/2023

Ricardo III - William Shakespeare
Ricardo III foi escrito por William Shakespeare e publicado em novembro de 1633.
A grande maioria das peças tem uma riqueza não apenas literária, mas filosófica, psicanalítica e política. Shakespeare foi, sem dúvida alguma, ao lado de Miguel de Cervantes, o maior poeta da literatura mundial.
Em Ricardo III, Shakespeare retrata o fim da Guerra das Rosas (conflito entre as Casas de York e Lancaster pelo trono inglês), assim como a ascensão e a queda do último dos reis Plantageneta, criando um vilão sem pudores, sem culpa, mas com um estranho apelo ao público.
Logo no início da peça, Ricardo, então duque de Gloucester já deixa claro para o público suas intenções de conseguir a coroa da Inglaterra e para tanto vai tirando do caminho qualquer um que possa se interpor, como seu irmão Jorge, duque de Clarence.
Com a morte do rei Eduardo IV, seu filho (também Eduardo) deve ascender ao trono, mas por ainda ser criança, ele deve ser guiado por conselheiros mais velhos. É então que vemos todas as intrigas de uma corte, quando se formam facções entre os tios maternos do garoto e seu tio Ricardo e seus partidários para tomar conta do jovem príncipe.
Nesta peça Ricardo III é o personagem principal, um homem sedento de poder, disposto a qualquer coisa para atingir os seus objetivos, mas não de um forma aberta e franca. Ricardo é um mestre do disfarce e só revela as suas verdadeiras intenções e pensamentos nos solilóquios.
No primeiro solilóquio, Ricardo dá a conhecer ao espectador que a casa de York trouxe estabilidade a Inglaterra. Estabelece uma comparação entre a situação presente e aquilo que era o passado e faz uma avaliação. Segundo ele os soldados encontram-se ociosos e o país já esteve em melhor situação. Ricardo faz também a sua auto-caracterização física e psicológica, confessando o seu desconforto com a situação atual e opondo-se por isso ao resto das personagens.
A forma como ele se descreve, leva o espectador a crer que ele é uma ferramenta para o mal, já que a sua natureza não o deixa ser um amante. Ao fazer a sua descrição e a dos outros percebemos que ele tem um profundo conhecimento da natureza humana e que tira proveito disso para os manipular. Ele nunca age diretamente, usa os outros para obter os seus objetivos.
O primeiro objetivo da sua estratégia é não deixar sucessores diretos ao trono quando o rei morrer.
Anne, viúva, acompanha o marido morto, expressa o seu lamento num monólogo e depois assistimos ao diálogo entre Ricardo e Anne. Neste diálogo Anne amaldiçoa-o, mas Ricardo toma uma atitude de submissão para tentar conquistá-la, é persuasivo para tentar controlar as atitudes e sentimentos de Anne. Diz-lhe que ela é uma deusa com poder transformador e chega mesmo a entregar-lhe a sua espada e confessar alguns dos seus crimes. Ela fica contente com o aparente poder que exerce sobre ele e a dúvida instala-se na sua mente, até ao ponto em que deixa cair a espada, mostrando com esse gesto que aceita os argumentos dele.
Neste novo solilóquio Ricardo faz o seu auto-elogio e também revela o seu desprezo por Anne. Por um lado sente-se orgulhoso pelos seus feitos e até se compara ao príncipe morto, no entanto quando fala dela diz sentir desprezo pela fraqueza dela, como se ela tivesse sido infiel. Ele distancia-se de si mesmo, vê como realmente é e representa um papel para os outros do qual ele tem plena consciência.
Na segunda parte desta cena temos vários outros assassinatos, de forma a Ricardo conseguir os seus planos, por outro lado temos um diálogo com a rainha em que ele se faz passar por um simplório e tenta incriminar a família dela de tentar usá-la para viverem às custas dela.
A Rainha é uma figura que acredita na justiça como uma forma de retribuição, faz premonições sobre aquilo que irá acontecer a Ricardo, ele é visto como um flagelo de Deus para castigar todos os culpados, de forma a que Henrique VII possa levar Inglaterra a uma situação gloriosa.
Ricardo tenta combater o ciclo de retribuição que ela refere, mas não consegue, transmitindo-nos a idéia de que ninguém consegue fugir ao seu destino. Por fim Ricardo num novo solilóquio faz o resumo dos acontecimentos e revela as intrigas que fez para conseguir que acreditem que os culpados são os parentes da rainha.
No ultimo ato, Ricardo tem um sonho premonitório sobre a sua própria morte, mas também é um sonho onde lhe aparecem os fantasmas dos que ele já mandou matar. Ricardo que por intermédio de Buckingham já tinha mandado matar todos aqueles que poderiam ameaçar os seus planos, começa a perder o controle e a revelar insegurança, parece quase patético ao revelar a sua auto compaixão por as pessoas não gostarem dele. Richmond por outro lado é apresentado como o salvador da pátria, o pretendente da filha da rainha, ele traz a esperança.
Na véspera da batalha são apresentados como a antítese um do outro, enquanto Ricardo encarna o mal, Richmond encarna o bem, a salvação. No ultimo solilóquio, Richard quer um cavalo para conseguir sobreviver, dispõe-se a ceder o seu próprio poder por um cavalo, ou seja, pela sua vida.
Essa é uma peça bastante difícil de resenhar, pois ela é extensa e conta com vários personagens e núcleos distintos. Basta dizer que Ricardo elimina todos para chegar ao poder e se declara rei da Inglaterra.
Na história, os dois príncipes filhos de Eduardo IV (portanto os legítimos herdeiros do trono) desaparecem misteriosamente da torre de Londres e até hoje só se especula sobre o que aconteceu com eles. Na peça, Shakespeare faz Ricardo mandar matar os dois sobrinhos e assim entrar para o imaginário popular como um dos mais perversos reis ingleses.
Ricardo é um vilão um tanto quanto caricato. Ele está sempre cercado de comparsas para executarem seus crimes, e se mostra muito manipulador, sempre conseguindo com que as pessoas ao seu redor concordem com o que ele deseje. Além disso, sua interação com o público cria uma ligação com o personagem, algo que me lembrou bastante o Iago de Otelo.
Ricardo III é repleta de personagens! Tanto que muitas vezes eu nem lembrava quem era partidário de quem, então como uma dica: anote os nomes para facilitar sua vida, dica essa muito importante. Mas aquelas que mais me chamaram atenção foram as mulheres.
Margareth, viúva do antigo rei Henrique VI, aparece para esbravejar e jogar maldições contra todos os que tiveram alguma ligação com sua tragédia. A duquesa, mãe dos irmãos de York, mostra que sempre viu a maldade existente no filho Ricardo, mesmo enquanto ele conseguia enganar a todos. E a rainha Elizabeth, viúva de Eduardo IV, participa de minha cena preferida da peça. Um diálogo em que Ricardo tenta convencê-la a que ele case com sua filha e tenta justificar seus crimes, aos quais Elizabeth rebate um por um. Foi essa cena que me deixou morrendo de vontade de assistir alguma adaptação da peça, porque temos que admitir essa cena é perfeita.
Apesar dessa obra ter uma linguagem mais fácil do que as outras peças históricas, recomendo que leia quem tiver um conhecimento sobre a Guerra das Rosas e quem é quem na história e/ou já tiver lido as três peças de Henrique VI. São muitos Ricardos, Eduardos e Henriques, o que pode frustrar quem pegar essa peça em particular sem ter um conhecimento prévio.
O fascinante governante maléfico que nomeia Ricardo III já apareceu na terceira parte de Henrique VI, na sequência de quatro peças que formam a primeira incursão de Shakespeare na história Inglesa.
No último episódio dessa tetralogia, Ricardo, Duque de Gloucester, encontra-se totalmente revelado como o gênio maligno da prolongada crise da guerra civil da Inglaterra. Com uma ousada ação, Shakespeare abre Ricardo III com seu surpreendente solilóquio, Ricardo toma o palco de uma forma que tem deixado as platéias encantadas desde que Ricardo Burbage atuou no papel pela primeira vez.
Ricardo anuncia sua determinação em “provar-se um vilão,” ao desafiar e satisfazer à Natureza, que fez seu corpo deformado. De fato, ele já iniciou seu curso traiçoeiro, e vemos como sua trama contra Clarence, fundado em algo tão trivial como a letra G, manipula o Rei e ludibria Clarence. Então, com escandalosa hipocrisia, ele “conforta” Clarence. Dentro de menos de cem linhas, Shakespeare nos faz sentir quão brilhante, cínico, charmoso e perigoso Ricardo de Gloucester é. Ricardo procede, dominando os outros personagens – e a peça inteira – a um nível extraordinário.
Ao organizar essa peça firmemente em torno de Ricardo, Shakespeare resolveu os problemas de dar forma ao seu drama e da conclusão da série de peças sobre a rivalidade dinástica de York e Lancaster.
Ricardo III inicia e termina com paz, ainda que a paz recente do Rei Yorkista Eduardo seja desprezada e sabotada por Ricardo assim que esta é introduzida. A paz é vulnerável nas facções da corte e é veementemente denunciada pela encarnação viva daquele passado cruel e violento, a Rainha Margaret. Não pode haver paz na Inglaterra enquanto Ricardo viver para sabotá-la.
Ademais, conforme o enredo move-se do estimulante alcançar do trono de Ricardo até os eventos de sua queda trágica – quando sua consciência, os espíritos daqueles que ele assassinou e o Conde de Richmond o punem e o vencem – nós vemos que sua carreira é parte de uma ordem mais ampla, um plano aparentemente providencial de compensação da perversidade e injustiça para reconciliar às divisões da Inglaterra. Por todas as suas lembranças específicas do conflito e das atrocidades passadas, de ambos os lados, Yorkistas e Lancastrianos, Ricardo III dramatiza um conflito arquetípico entre o bem e o mal, personificado em Ricardo, o vilão-herói, e Richmond, seu oponente que interpreta o papel de agente honrado da justiça divina e poética.
A imagem de Ricardo como o demônio ou o vício levanta questões de motivação e de significado simbólico, e sugere duas maneiras diferentes de ler a peça, uma psicológica e a outra providencial.
Ricardo é um personagem humano, propelido ao trono por sua ambição insaciável, como Macbeth? Há alguma pista em relação ao seu comportamento em sua feiura e misantropia? Alguém pode argumentar que ele compensa sua feiura e incapacidade de amar com sua determinação em dominar?.
Sentindo-se desprezado, ele insulta todos os humanos e busca prová-los fracos e corruptos para afirmar a si mesmo. Ele expressa uma propensão humana universal pela crueldade e pela dominação insensata. Entretanto, a proposição que Ricardo é maldoso porque ele nasceu feio logicamente pode ser revertida também: ele nasceu feio porque ele é mal. Em termos providenciais, Ricardo pode ser visto como o resultado de um plano divino no qual o mal ironicamente tem lugar em um esquema mais amplo das coisas que é, finalmente, benigno.
Vi em outras resenhas que essa é uma peça de Shakespeare considerada imatura, afinal ela foi escrita durante a fase de aprendizado do dramaturgo. Mas eu consegui me divertir. Tem intrigas políticas, maldições, diálogos interessantes e retrata um dos meus períodos favoritos da história inglesa. E outra, quem considera essa peça imatura certamente não a leu ou leu sem observar os detalhes e brilhantismo da escrita de Shakespeare.
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elieltoncastr_ 20/01/2024

"Temos agora o inverno do nosso descontentamento transformado em verão glorioso por esse astro rei de York; e todas as nuvens que pesaram sobre nossa Casa estão enterradas no fundo do coração do oceano.". Esta frase, que conheci por meio de outras mídias, foi o que me levou a ler Ricardo III. Não sabia nada da história em si. O contexto histórico foi surpreendente, empolgante, mas o que mais me prendeu foi a personagem-título. Por mais execrável que fosse, há algo em Ricardo que prende, que fascina. Os diálogos com Anne vão ficar marcados na minha memória. É aquele tipo de personagem que se ama odiá-lo.
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