Beleza e tristeza

Beleza e tristeza Yasunari Kawabata




Resenhas - Beleza e Tristeza


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Rosa Santana 28/11/2010

Precedido por "Kyoto", "Beleza e Tristeza" foi o segundo livro de Yasunari Kawabata que li.
A delicadeza e a sensibilidade do autor me encantam.
Ele fala de tragédias de uma forma leve e sutil...

O livro conta a história de Oki, já com cinqüenta e cinco anos de idade, relembrando seu romance extraconjugal com uma garota bem mais jovem do que ele, Otoko, então com dezesseis. A esses personagens se juntam a família de Oki (esposa e dois filhos), a mãe de Otoko e uma jovem aprendiz de pintura, que vive, no presente da narrativa, um caso de amor homossexual com Otoko.

A trama, então, é tecida como um rodopiante vai-e-vem no que se refere ao tempo. Ora estamos diante dos personagens, no presente, ora eles nos são apresentados no passado... E vemos, então, o sofrimento de ambos, sobretudo o da personagem central feminina, que abortara uma filhinha, e, em conseqüência disso, fora internada em uma casa psiquiátrica, chegando mesmo a tentar o suicídio.

Ele é escritor; ela, pintora. Sua obra máxima é o romance Uma Garota de Dezesseis Anos, em que ele narra a história vivida com a atual pintora. Nesse livro, Oki, o personagem-narrador, engendra realidade x fantasia, em um jogo que encanta os leitores e faz com que sua obra não deixe de ser vendida/admirada/lida...

Ela se torna pintora, depois de se separar do amado. E por muitas vezes, agora com quarenta anos de idade, medita sobre o papel da arte. Como, por exemplo, quando se vê à frente do retrato que fez de sua mãe, questiona se ali não estão seus traços pintados inconscientemente, de forma a que o resultado fosse o seu espelho, seu próprio retrato, como Narciso que anda sempre em torno de si mesmo. Assim, se põe a refletir sobre narcisismo e arte; a questionar sobre até que ponto somos produtos da imaginação própria e/ou alheia.

Tanto Oki, como Otoko, ao refletirem sobre o campo da arte em que atuam, fazem uso da metalinguagem servindo-se dela para questionamentos no âmbito estético/artístico/ filosófico...

E aqui faço uso do poema MEMÓRIA, de Carlos Drummond de Andrade, perfeito para um contraponto:


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

...

Mas a história não se constitui somente disso...

A par dessa interessante reflexão, se desenrola o drama maior(?) e atual, vivido por Keiko - a jovem namorada de Otoko - e Taichiro, o filho de Oki. As páginas finais nos deixam tensos até o último minuto, mas, com o final em aberto, o fim do livro não finaliza a história, porque ainda temos que buscar, tentando ler a ambiguidade, as pontas deixadas pelas palavras, um destino mais possível para os personagens envolvidos na trama.


Trechos:

Seria mais correto dizer que era Otoko, tal como ela aparecia no romance de Oki, que seduzia os leitores, e não a adolescente que lhe serviu de modelo. O romance não era a verdadeira história de Otoko, mas simplesmente alguma coisa que Oki havia escrito. O ficcionista que ele era acrescentara algo de sua imaginação, e sua fantasia havia, evidentemente, idealizado a personagem. Mas, pondo isso de lado, qual era a verdadeira Otoko aquela que Oki havia descrito ou aquela que a própria Otoko poderia ter criado ao narrar ela mesma sua história?
Ainda assim, a jovem adolescente de seu romance era realmente Otoko. (32 -33 )

Nos traços do santo homem menino, como nos de uma Virgem, não era uma imagem santificada de si mesma que ela estava procurando? (160)

Fora o afeto que Otoko sentia por sua mãe que a levara a representá-la em plena juventude e no auge de sua beleza, mas essa escolha não traía igualmente uma certa dose de narcisismo? (161)

Otoko continuava a amar Oki, seu bebê e sua mãe, mas poderia esse amor permanecer imutável desde o tempo em que haviam sido uma realidade tangível para ela? Seria possível que o amor que tinha por esses três seres houvesse se transformado em amor-próprio? (161)

....

Tenho mais dois do Kawabata na fila: "A Dançarina de Izu" e "A Casa Das Belas Adormecidas"... Que venham!





Manuella_3 27/08/2014minha estante
Que linda sua resenha! Fiquei com mais vontade ainda de conhecer as obras do autor. E se gostar, vou ler todos.


Rosa Santana 28/08/2014minha estante
Manuella, pois leia. O livro é muito bom e de leitura rápida. Recomendo.
Até eu fiquei com vontade de reler...
Obrigada pelas palavras elogiosas!




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Nath Mel 20/11/2022minha estante
Adorei! Eu tbm participei




anabnas 27/10/2012

Tão belo quanto triste
"Beleza e Tristeza" nos entrega uma história envolvente, amarga, delicada, artística, bela e triste, fazendo jus ao título. Kawabata revela uma obra honesta e direta, destacando aspectos inerentes à cultura japonesa, como a delicadeza, beleza, restrição e sofrimento presentes em uma garota vestida com um kimono, o que, na verdade, é refletido em toda sua obra: o que é belo - ou que já foi - passou por etapas de sofrimento e dor, o que diminui e/ou ausenta sua beleza.

Um aspecto marcante da sua obra é a passividade dos personagens que, a primeira vista, tomamos como protagonistas. Quem cria e desenvolve a trama que é tratada no livro são, na verdade, coadjuvantes. É importante ressaltar a personalidade marcante e consistente de todos os personagens envolvidos na trama, sendo que nenhum se mostra menos importante ou menos intenso. Todos possuem seus sentimentos - destaque para o ciúme -, à flor da pele, compatíveis para cada personagem.

Kawabata nos entrega um livro repleto de reflexão. Indico a todas as pessoas que estão dispostas a ler um romance livre das amarras convencionais e, também, que estejam com a mente aberta para absorver e compreender um pouco dos costumes japoneses.
Agora, a pergunta que permeia todo o livro, presente no prefácio do livro (por Teixeira Coelho):
"Mas um romance tem de ser necessariamente uma coisa bela?"
Ju Ribeiro 18/09/2013minha estante
Excelente sua resenha. Certamente irei ler esse livro.




Rafael Stefano 17/08/2012

Melhor livro que já li na minha vida.
É o romance mais lindo que já li. As personagens, são, tipo, fascinantes, sem palavras.
OSMAR 18/10/2014minha estante
Estou quase terminando o livro. É tocante, poético e profundo. Vale a pena ser lido. Fez-me lembrar de outro clássico da literatura japonesa: Naufrágios de Akira Yoshimura que também é maravilhoso.




Nati 17/09/2022

Admito que ainda estou a digerir tudo o que foi apresentado na obra. Me sinto inclusive incapaz de resumir tudo o que foi apresentado de forma satisfatória. O texto é bem direto, de fácil entendimento e claro. A escrita do Kawabata é de uma beleza natural, intrínseca, sem floreios e limpa - mesmo ao abordar assuntos complexos e profundos. Transparece toda a carga cultural do autor. Tudo ali é o espírito do próprio Kawabata, mesmo o corpo sendo o de seus personagens.

Existe uma chave importante em todo livro. Todo ato de afeto, amor, ciúme, qualquer coisa é ligado à dor, sangue, cicatrizes ou marcas. Seja um corte ou até mesmo a própria morte e a perda, das mais dolorosas que alguém pode sentir.

Os personagens ao mesmo tempo que são comuns (como a esposa traída e a jovem amante) são extremamente complexos. E é nesse ponto que a arte se apresenta. Temos todos os sentimentos e a história de Oki contada através de seu livro. Nada é escondido de ninguém. Otoko se expressa através de suas pinturas como sua jovem amante - que apesar de usar o mesmo meio que sua mestra, o faz de modo mais violento e caótico. A relação de Taichiro com a arquitetura e a apreciação de túmulos nos entrega através de algo concreto toda a sua personalidade. As duas únicas que não apresentam tal meio são a mãe de Otoko e Fumiko, a esposa traída - justamente aquelas que sofreram com as consequencias dos atos dos outros. Fumiko, datilógrafa das obras de Oki, vê através dos olhos do próprio marido a traição cometida. Por mais que esteja furiosa, e rasgue por diversas vezes as cópias ela continua tanto com a datilografia quanto com o casamento.

Acredito que não exista um único meio de ler Kawabata. Esta obra em especial é muito plural e ímpar. Fico imaginando o processo que levou a transformação dos sentimentos de Otoko. E o quanto o mesmo foi visceral e passivo. Apesar dela não falar muito sobre, suas ações dizem muito mais do que qualquer coisa. Antes de tudo os quadros dela falam e é muito importante ouvir o que tem a dizer (aliás o livro entrega uma verdadeira aula de história e arte japones).

Tive certa ressalva em "comprar" as motivações de Keiko. Talvez por não me parecer coerente em determinados trechos, mas nada muito grave. Oki de longe foi o personagem que mais me causou incômodo. O modo como descreveu suas realções com Otoko em seu livro e seu comportamento em relação à jovem me deixaram com aversão logo de início. Ao fim, o retorno dele apenas trouxe mais desgraça e mostrou o quão fraco e por vezes covarde ele é.

Um dos melhores livros de literatura japoensa que eu já li. Vi alguém a dizer que algumas ações causaram estranhamento, muito provavelmente por ser uma cultura diferente da nossa e uma literatura e que não estamos habituados a consumir. Vale muito a pena ampliar nossos horizontes para desfrutarmos de experiências como esta.
Nicolas388 28/12/2023minha estante
Que resenha maravilhosa! Já queria ler esse, depois disso então. ?




Bruno.Dellatorre 18/07/2022

Uma tela deprimente
Esse livro (que, pela forma como é escrito, mais parece uma pintura) tem um dos títulos mais coerentes que já vi nos últimos tempos.
Beleza e tristeza.
Ao longo da história, vemos que há beleza na tristeza e que muito do que é belo é triste também.
Vemos um amor verdadeiro que, em essência, só trouxe dor às pessoas amadas.
Um passado que, apesar de passado, nunca ficou para trás. Pelo contrário. Sempre está ali, pairando sobre o presente, se infiltrando no futuro.
Personagens que, ao ficarem em silêncio, dizem muito mais do que poderiam se abrissem a boca.
Opostos que, na verdade, estão contidos um no outro.
Uma história das mais lindas... e também das mais tristes.
Dan 18/07/2022minha estante
Vou comprar!




Ju 02/12/2009

Encantador este livro.
A arte da escrita e da pintura abordadas na trama dos personagens e seus dramas.
Otoko é uma personagem linda e complexa, atormentada por lembranças. Já Keiko vive a vida alheia, vazia, sempre incompleta...
Todos personagens do romance são riquíssimos, afora as descrições dos panoramas de fundo, sempre muito detalhadas.
Tudo muito bem complementado e amarrado, sem mais nem menos.
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Leandro 16/02/2010

Um maravilhoso retrato da arte. Desde as pinturas da capa o livro é mirado na arte e do q ela é feita. Nunca mais senti a mesma coisa olhando para um quadro, retrato, livro, escultura... Até a arte abstrata (que eu sempre odiei) ganhou um novo significado e beleza depois q li esse livro.
Isso tudo junto com a linda e trágica historia de amor (justifica o titulo) torna esse livro um dos meus favoritos. Um livro maravilhoso. Cinco estrelas!! Virei fã do autor!
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Fábio Valeta 30/06/2011

Terminei ontem e ainda não sei bem o que pensar do livro. A história vai e vem no tempo narrando o romance de um homem casado de 30 anos com uma adolescente de 16, e anos depois, quando ele virou um escritor famoso e ela uma pintora.
A escrita do autor é bem agradável, mas o livro, apesar de pequeno, caminha devagar e o final em aberto só contribui para dar a impressão que faltou alguma coisa.
Mas o título é muito bem acertado. É um livro belamente escrito... e triste.

Esperava mais. Mas pelo menos me deixou curioso para conhecer outras obras do autor.
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Bit 01/03/2011

'Beleza e tristeza', obra que tem prefácio de Teixeira Coelho e posfácio de Roberto Kazuo Yokota, é o romance de um mundo globalizado. Escrito em meados do século XX, esta obra tem por contexto histórico a modernização voluntária do Japão antes da Segunda Guerra, e sua ocidentalização (ou americanização) compulsória depois da derrota.
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Puri 27/06/2012

Shibumi
Qualquer comentário meu seria insuficiente face ao belíssimo posfácio de Roberto Kazuo Yokota. "Insuficiência", porém, não é uma deficiência. Tem a ver com o tal "shibumi" mencionado por ele e que perpassa esta obra de Kawabata, cujo significado é difícil de se definir e natural de se sentir. Como toda filosofia oriental.

A insuficiência deste romance se plantou em mim com a força de sua beleza. A falta dolorosa(ou o "vazio"), o esticar a mão até quase romper os tendões... Só para tatear o nada. Descobrir que alimentamos em nosso interior mundos inexistentes, impossibilidades, e que criamos dentro deles nossos romances e pinturas da ausência. Concluir que desenlaces são inviáveis nesta vida tecida por novos enlaces... Foi isso que esta última obra de Kawabata me deixou.

"[...] Que à sua beleza e delicadeza aparentes sejam reconhecidas a restrição e a dureza que as tornou possíveis. Mais, ainda. Que, depois de tanto esforço, de tanta dor, se saiba que tanta beleza se desvaneça, ou já se desvaneceu. Em vão.
Caligrafias da ausência: escrever, pintar o vazio.
É belo. É triste.
Shibumi." (Roberto Kazuo Yokota)
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ClaudiaOSimoes 17/09/2012

Beleza e Tristeza
“Beleza e Tristeza” é um livro envolvente. O autor Yasunari Kawabata foi vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1968, o primeiro japonês a receber o prestigiado prémio. O autor escreve esta história de forma poética, com diálogos maravilhosos. Os personagens são absolutamente interessantes, com características que me agarram à partida. A Otoko é uma artista de pintura abstracta, Oki o homem por quem teve uma paixão quando tinha dezasseis anos. Ao longo da história vamos perceber que eles ainda estão ligados apesar de manterem relações distintas. Muito acontece, muito fica por dizer.


O autor capta um pouco da cultura japonesa, da pintura abstracta, da beleza na arte de escrever. Unindo de forma impecável as diferentes áreas despertando o leitor para o conhecimento.
Pretendo ler mais do autor, gostei imenso.
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Kleber 12/11/2013

Vingança e estética sublime
Como diz o prefácio do livro, em Beleza e Tristeza, o que os personagens não falam e não fazem têm tanta importância quanto as falas e as ações propriamente ditas. Longe de ser um livro convencional e totalmente "desrecomendável" para quem está acostumado com fórmulas prontas, livros pré-mastigados, narrativas comuns.

Kawabata se deu a liberdade de escrever o livro como quem pinta um quadro, à vontade, sem a necessidade de dar alguma grande importância para cada pincelada, para cada linha traçada, enfim, vai pintando livremente. Por isso mesmo é difícil definir quem é o protagonista, há uma alternância da importância dos personagens na trama. Eu me arriscaria a dizer que é Keiko, uma das personagens mais fascinantes que já conheci.

Vingança, arrependimento, obsessão, sensualidade, beleza e tristeza. De uma melancolia intensa, intimidadora, e de um final dos mais desconcertantes.
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