spoiler visualizarsara.balonecker 05/02/2024
Mulheres da Poligamia - Niketche - Paulina Chiziane
Lançado em 2001, reeditado e lançado como edição de bolso em 2021. Paulina Chiziane traz em seu livro trechos da cultura moçambicana enquanto tece um enredo dramático e envolvente para Rosa Maria.
Conhecida por Rami, a esposa descontente com os sumiços e a distância do marido vai atrás de respostas e encontra mais do que esperava. Após brigas, gritarias, “sovas” e prisão Rami consegue reunir as outras esposas de seu marido polígamo, ou infiel. Sob a pressão da presença de suas cinco esposas em seu aniversário Tony foge acovardado pelo resultado de suas escolhas.
Paulina nos apresenta as 5 (cinco) mulheres de Tony e suas histórias, Rami, a primeira-dama, Julieta, a enganada, Luísa, a desejada, Saly, a apetecida e Mauá, a amada. Vejo um ponto em comum a todas e que ao meu ver representa o pensamento da sociedade machista na qual estamos inseridas ainda hoje - mais de 20 anos após o lançamento da primeira edição -, elas acreditam que ter um homem - ainda que não legalmente seu, ainda que dividido, ainda que ausente - ainda é melhor do que não ter nenhum, dando a entender que mesmo nessas condições isso lhes gera status social. Ao longo da narrativa vemos Rami e Paulina em suas viagens e reflexões internas onde criticam com bom embasamento a sociedade e suas “normalidades”, as culturas impostas pelo colonizador e a cultura ainda resistente do colonizado moçambicano. Vemos o processo de dúvidas e descobrimento pessoal, do que é ser mulher, do que é o feminino e da anatomia feminina que parece ser negado a Rami que crescera na cultura do colonizador.
Ao encontrar, reunir e gerir essas quatro mulheres, Rami lhes dá uma nova chance e uma nova perspectiva de vida. Elas encontram apoio e incentivo a se tornarem empreendedoras e buscarem seu próprio sustento, assim não mais sendo reféns do poderio do homem que as queria submissas e dependentes.
Vemos com clareza desde o início da história a proteção para com o homem e o desprezo para com a figura feminina. Quando Tony sente-se ameaçado com a presença de suas cinco mulheres rapidamente foge de sua festa com naturalidade, em outro momento, ao ter todas as cinco mulheres nuas sente-se novamente acuado e apelando às tradições é defendido pelos mais velhos de sua família e as mulheres postas em posições de maldição e desprezo. Em sua última fuga os resultados são mais desastrosos, ao ter o marido dado como morto Rami, a primeira esposa, passa por toda humilhação de uma cerimônia de viuvez onde tudo lhe é tirado.
Ao retornar da sua viagem-fuga a ruína já está posta e o sofrimento que um dia causou lhe é devolvido. Suas mulheres vão embora uma a uma, enlaçadas por outros amores. Rami, a primeira e última dama fica em seu momento de tristeza e desespero mas não pode dar-lhe a salvação que pede. E tem-se o fim daquele que se valeu da poligamia em seu beneficio enrolado em sua propria corda.